O Estado de S. Paulo |
4/1/2007 |
Há quatro anos, a balança comercial brasileira segue surpreendendo os analistas, aparentemente porque, em vez de manterem os olhos abertos para o que está acontecendo, preferem ficar na torcida para comprovar que o câmbio está errado. A balança comercial de 2006, fechada na semana passada, surpreendeu não só pelo superávit, de US$ 46,1 bilhões, muito mais alto do que o apontado pela maioria das projeções, mas, também, pelo vigor das exportações (US$ 137,5 bilhões) acumuladas ao longo do ano. São quatro os erros mais comuns de quem vem avaliando o comportamento da balança comercial. O primeiro é afirmar que as exportações estão sendo duramente atingidas pela valorização do real. Não estão. As exportações seguem crescendo e crescendo fortemente, acima do comércio mundial (15,1%). Cresceram 21,1% em 2003 (sobre 2002), 32,0% em 2004, 22,6% em 2005 e 16,2% em 2006. O segmento dos manufaturados (54,3% do total), mais sensível às variações de câmbio, acusou um avanço de 15,6%. O que dá para dizer é que alguns setores vão ficando para trás, como o dos calçados, com recuo de 0,3%. O segundo equívoco é contar com que em pouco tempo o câmbio aparentemente desfavorável estará revertendo a atual tendência superavitária da balança. Se os atuais índices de crescimento das exportações (17,1% ao ano) e das importações (20,2%) fossem mantidos, as importações só encontrariam as exportações em 2022. O terceiro é achar que um câmbio mais desvalorizado ajudaria a exportar mais. Na verdade, uma desvalorização tenderá a aumentar as exportações que, por sua vez, concorreriam para valorizar ainda mais o real. O Banco Central, é claro, poderia comprar mais dólares, como alguns vêm pregando. Com isso, trabalharia para aumentar mais rapidamente as reservas e, assim, para espraiar, também mais rapidamente, aqui e lá fora, a percepção de que as contas externas estão uma beleza. O resultado seria mais entrada de dólares. O quarto equívoco é achar que o substancial aumento das importações é ruim para a economia. Também não é. O aumento das importações ajuda a encorpar a corrente de comércio e a tornar a economia menos dependente dos fluxos financeiros. Quanto mais o câmbio vier a ser formado pelo comércio, menos volátil ele será. Além disso, o adensamento das importações ajuda a incorporar tecnologia e a dar mais competitividade ao produto de exportação, na medida em que o aumento do conteúdo importado no produto de exportação tende a reduzir custos de produção, caso dos aviões da Embraer, dos veículos e das autopeças. O mesmo espírito de torcida tira objetividade nas projeções. É apressado afirmar que o câmbio por volta dos US$ 2,15 derrubará inexoravelmente as exportações. Esse câmbio está assim desde agosto e, no entanto, os números do comércio exterior seguem quebrando recordes. Os preços das commodities tendem a continuar em alta. E os exportadores já estão se acostumando a operar com o dólar nos atuais níveis. Não há razões especiais para garantir que o saldo comercial deste ano seja inferior a US$ 40 bilhões. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, janeiro 04, 2007
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