Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 13, 2007

DORA KRAMER Longe desse sensato mundo

Tucanos acreditam na existência de realidades distintas: na Câmara e no País

Da mesma forma como nos dois dias anteriores o PSDB havia se ocupado com as consultas por telefone a seus deputados sobre a escolha entre Aldo Rebelo e Arlindo Chinaglia, ontem o partido dedicou-se a explicar sua opção pelo candidato do PT à presidência da Câmara.

Demonstrando claramente que ainda não caiu a “ficha” tucana sobre o significado mais amplo dessa adesão para o posicionamento político/eleitoral do partido, o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães, apresenta uma série de argumentos lógicos que, no entanto, encerram um pecado mortal para quem quer conquistar o poder num país onde se faz isso pelo voto: considera a existência de duas realidades distintas, uma na Câmara, outra no mundo real, e só leva em conta a primeira.

“O partido só tinha três opções: apoiar Chinaglia, Aldo ou ficar fora do processo legislativo. Optou por respeitar o critério da proporcionalidade depois que a maior bancada, o PMDB, declarou seu apoio ao candidato da segunda maior representação na Câmara”, resume Jutahy, que considera a chamada “terceira via” uma alternativa desprovida de “legitimidade institucional”.

Isso sem contar que tampouco dispõe de um candidato nem de viabilidade eleitoral. Na visão dele, não une a oposição e erra quando age baseada “exclusivamente na ação midiática, supondo que é possível fazer uma comunicação direta com a opinião pública, desconsiderando a realidade interna da Câmara”.

Perfeitamente. Então, por falta de opção, por não conseguir encontrar uma alternativa que conciliasse as circunstâncias internas com as demandas externas, o PSDB resolveu aderir de bate-pronto ao PT, esquecendo-se de tudo o que falou a respeito do partido, do governo e de todos os que estão engajados na candidatura de Arlindo Chinaglia, que como líder do governo na Câmara foi incansável na defesa dos seus envolvidos nos escândalos.

“Aquela realidade pertence ao ano de 2006. Nós respeitamos a decisão das urnas”, diz o líder, lembrando que Chinaglia não é alvo de nenhuma acusação ou processo.

Estaria o líder do PSDB tão engajado no projeto petista que resolveu a assumir o discurso do outrora adversário, segundo o qual a vitória absolve todas as responsabilidades?
“De jeito algum, quem estiver sendo processado deve responder na Justiça.”

De fato, assumiu mesmo o discurso, pois não vê problema com a convivência dos, na visão dele, anistiados pelas urnas.

Pragmaticamente adepto do formalismo das regras internas, o líder do PSDB não vê como o partido poderia se conduzir no cenário posto de duas candidaturas oficiais sem correr o risco de ficar de fora da Mesa Diretora e do comando das comissões às quais tem direito pelo critério da proporcionalidade.

E o rumo do partido como oposição e, teoricamente, interessado em defender proposições caras à sociedade?
“Continuamos nesse caminho”, afirma, convicto de que uma coisa é a disputa pela presidência da Câmara e outra inteiramente diferente é a posição do partido na luta político-eleitoral.

Primeiro, porque não vê relação entre uma coisa e outra e, segundo, assegura ter obtido de Arlindo Chinaglia o firme compromisso de promover a recuperação da confiabilidade do Legislativo, preservar a autonomia do Parlamento e assegurar a transparência nas ações.

A começar pelo aumento dos subsídios. A despeito de o candidato do PT ter reafirmado nesta semana a defesa dos 91% e de não desmentir as imputações que lhe são feitas a respeito da disposição de abrir caminho para a proposta de anistia de José Dirceu, Jutahy acredita no contrário.

“Ele nos disse que jamais cogitou da anistia e nos assegurou que o aumento será o da reposição da inflação.”

Muito bem. E por que a decisão tão rápida?

“Porque era preciso dar uma indicação partidária para conter a barganha. A partir de agora, as investidas fisiológicas passam a valer bem menos.”

Quer dizer, o PSDB respeitou o voto de milhões, preservou as regras internas, garantiu a institucionalidade e ainda assegurou a lisura do processo. Fez boas ações, teve altivas intenções e ninguém percebeu. Uma injustiça.

Mas que não poderá abrir a boca para criticar o PT sem incorrer na prática da hipocrisia ou da manobra puramente eleitoral, lá isso não poderá fazer tão cedo.

Baixa
A denúncia do Ministério Público contra o deputado Raul Jungmann abala, mas não inviabiliza o projeto dos deputados que querem uma candidatura alternativa na Câmara.
Até se esclarecer se Jungmann tem ou não culpa no cartório, se é réu ou testemunha no processo por desvio de verbas no Ministério do Desenvolvimento Agrário, fica prejudicada sua posição de um dos líderes do movimento.
Mas o grupo continua ativo e suas idéias não podem ser desqualificadas por conta disso. O projeto perdeu força não pela denúncia contra Jungmann, mas porque lhe faltou adesão. A oposição refugou, a situação recrudesceu, mas o plano de formação de um núcleo de referência crítica não morreu.

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