Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 13, 2007

CELSO MING Obra do dólar


A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi a mais baixa desde 1998 e promete não sair dos trilhos em 2007. Para o Brasil, que tem uma dolorosa história inflacionária, é uma vitória e tanto.

O Banco Central insistirá em que esse resultado se deve preponderantemente ao manejo correto da política monetária (juros). Mas o fator que mais encurralou a inflação foi o câmbio. Não fossem as agressivas compras do Banco Central, o dólar teria afundado mais e a inflação com ele.

As cotações do dólar, que há sete meses se mantêm ao redor dos R$ 2,15, contribuíram (e seguirão contribuindo) de duas maneiras para reprimir a inflação: por meio do barateamento dos produtos importados, o que, por sua vez, ajuda a segurar os preços dos produtos internos; e por meio da atuação no mecanismo dos preços administrados.

Esse segundo item requer explicação. Preços administrados são aqueles que não provêm da simples aplicação da lei da oferta e da procura; são definidos ou por lei ou por contrato. As contas de água, luz, telefone e impostos estão nessa lista. Esses preços são, em geral, revistos periodicamente por meio da aplicação de um indexador previamente acertado. No Brasil, grande número desses preços leva reajuste pela evolução do Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M). O IGP-M é uma mistura de três ingredientes cujo maior peso (60%) é o dos preços no atacado.

E é sobre os preços no atacado que a cotação do dólar exerce pressão considerável. No ano passado inteiro, a tarifa de energia elétrica subiu apenas 0,28% e a da telefonia fixa caiu 0,83%. Por aí se vê quanto um dólar relativamente barato e estável contribui para conter a inflação. Mas não foram só o dólar e os preços administrados que concorreram para o bom resultado de 2006. A falta de reajustes dos preços dos derivados do petróleo também ajudou. De qualquer modo, como o dólar só está onde está em conseqüência das exportações, segue-se que foi o ótimo desempenho da balança comercial que fez a maior parte do serviço.

A inflação surpreendeu os observadores, inclusive o Copom, que trabalhou para contê-la na meta, em 4,5%. A pesquisa Focus do Banco Central, feita semanalmente em 100 instituições (bancos, empresas, etc.) apostava no início do ano passado numa inflação em 2006 de 4,52%.

Os críticos seguirão argumentando que uma inflação abaixo do centro da meta comporta juros mais baixos. O Banco Central não parece contrariar essa opinião. Apenas entende que há mais benefícios em derrubar gradativamente (e por mais tempo) os juros do que em resolver tudo em tacada única, sujeita a acertos posteriores que serão entendidos como correção de erro de pilotagem. É um ponto de vista.

Como a balança comercial continuará injetando dólares no sistema, o câmbio deverá continuar a achatar a inflação. Por enquanto, o mercado está apostando em inflação à altura dos 4%.

É um bom número que, de resto, apontará para a continuidade da queda dos juros.


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