Intriga o empenho do governador de São Paulo, José Serra, para que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso assuma a presidência do PSDB.
É estranho porque FH faz uma pregação partidária de distinção explícita do atual governo, de recuperação da identidade perdida e de reaproximação com a sociedade, e suas palavras são solenemente ignoradas.
Sendo assim, o que faria Fernando Henrique na presidência do PSDB, cuja ação contraria o discurso sempre repetido em entrevistas, artigos e muito claramente posto por escrito na carta divulgada pelo ex-presidente aos militantes durante a campanha eleitoral?
Nela, Fernando Henrique desanca de A a Z o governo de seu sucessor que, segundo ele, leva o Brasil a viver um momento paradoxal: “De aparente desconexão entre o sentimento da opinião pública e o discurso eleitoral rotineiro; de tanta desfaçatez dos que ocupam o poder e de tanta informação sobre a corrupção e os desmandos de quem deveria dar as pautas de comportamento, pensando mais na Nação que em seus umbigos, e nada mais faz do que se jactar de grandezas inexistentes.”
FH alertava que seu partido não havia sido firme o suficiente nas denúncias na hora certa, duvidava que naquela altura (setembro) os tucanos ainda conseguissem sensibilizar a população, mas convocava os companheiros de partido a rever posições, recuperar suas idéias e se conduzir com nitidez.
“Para que o PSDB se justifique perante o eleitorado como uma força renovadora, ele tem que se distinguir. A podridão que encobre ‘a política’ está nos transformando em vultos. Sem uma diferenciação entre bons e maus, a geléia geral predomina e elegeremos de cambulhada um Congresso no qual os sanguessugas e os mensaleiros derrotados serão substituídos por outros prestes a reviver a mesma história. Esta diferenciação é essencial. Se não, por que votar em nós?”
É o que pelo jeito vai continuar se perguntando o eleitorado a respeito de um partido dito de oposição que apóia o candidato do governo à presidência da Câmara, que desconhece a proposta do debate para a recuperação moral, política e profissional do Legislativo, que defende aumento de 90% para os subsídios dos parlamentares na contramão do que pensa a opinião pública e convive pacificamente com a posição do presidente atual de, em 2010, apoiar a candidatura presidencial de Ciro Gomes, um dos mais aguerridos opositores do PSDB.
O partido já havia abdicado da viravolta proposta por FH quando, logo após as eleições, abandonou o furor denunciatório da campanha, aceitou - com a exceção do deputado Carlos Sampaio - serenamente as pífias conclusões das investigações do dossiê antitucano e, com medo de se ver ainda mais envolvido no escândalo dos sanguessugas por causa das acusações ao ex-ministro Barjas Negri, compactuou com as absolvições dos acusados pela CPI.
O argumento do respeito à “proporcionalidade” do tamanho das bancadas da Câmara para justificar a adesão à candidatura do PT é meramente formal. Nas ocasiões em que a alegada proporção precisou ser deixada de lado em nome das circunstâncias, estas se sobrepuseram à formalidade sem nenhum problema.
O caso é que o PSDB entrou também nas negociações. Ao que se sabe, em troca da vice-presidência e da amizade no PT nas Assembléias Legislativas de Minas Gerais e de São Paulo, de forma a não atrapalhar a maioria e o poder dos governadores Aécio Neves e José Serra nos Legislativos locais.
É uma maneira de fazer as coisas, legal, inclusive. Legítima, também. Agora, que não corresponde a um projeto nacional de partido que pretende já nas eleições municipais de 2008 e depois na presidencial de 2010 se apresentar ao eleitorado como alternativa ao campo político sob a influência de Luiz Inácio da Silva, lá isso não corresponde mesmo.
Se o PSDB pretende reconstruir uma hegemonia na sociedade, realmente não é se submetendo a projetos de poder pontuais e circunstanciais que vai conseguir convencer a população de que seus gestos guardam relação de coerência com suas palavras.
O partido aderiu a Arlindo Chinaglia sem cobrar dele um único compromisso com as questões pertinentes à reformulação na conduta do Parlamento. O petista defende como plataforma de campanha o aumento dos 91% e os tucanos, pelo visto, concordam. Não impõe reparos à anistia de José Dirceu e Roberto Jefferson e os tucanos, pelo visto, concordam.
Nada diz sobre a retomada dos processos antigos ou da abertura de novos de deputados eleitos com pendências judiciais e policiais e os tucanos, pelo visto, concordam. Faz acordo para lotear a presidência da Câmara pelos próximos quatro anos com o PMDB - uma legenda assumidamente de aluguel - e os tucanos, pelo visto, concordam.
Estão se aliando a um projeto conservador no sentido da preservação de todas as deformações e, com isso, não ficam partidariamente autorizados a discordar das barbaridades que venham, como alertou Fernando Henrique na carta, a reviver a história escrita por mensaleiros, sanguessugas e companhia.
Entrevista:O Estado inteligente
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