O Estado de S. Paulo |
17/1/2007 |
Nada como o bafejo frio da derrota a se aproximar da nuca para ressuscitar uma consciência. No caso, a do presidente da Câmara, Aldo Rebelo, que, tomado de repentino brio, agora cobra o debate de idéias na disputa pela presidência da Casa e denuncia negociações extra-Legislativo como prática espúria na busca da vitória. Disse Rebelo depois de uma semana de cão em que seu adversário recebeu, quase que a um só tempo, os apoios do PMDB e do PSDB, respectivamente primeira e terceira bancadas da Câmara: “Quando tivermos as idéias de todos os candidatos postas no debate nacional, veremos o que é que querem para o Brasil. Se a presidência da Câmara tem de compor uma agenda para o País a partir daquilo que seja apresentado na pauta do Executivo, do crescimento econômico, dos governadores e dos prefeitos, ou se a presidência da Câmara tem de ser eleita a partir de acordos regionais em torno de Assembléias Legislativas, a partir de composições e promessas ministeriais.” É verdade que Aldo Rebelo ainda não evoluiu o suficiente para propor como bandeira de campanha a agenda da recuperação moral da Câmara, fica à margem da questão principal, não toca nas deformações, não condena o corporativismo, não faz a defesa, nem sequer se refere à necessidade de mudança na conduta dos parlamentares. Mas o presidente da Câmara pelo menos já não é mais aquele que 15 dias atrás, quando ainda desfrutava da condição de favorito e preferido do Palácio do Planalto, ignorava solenemente qualquer assunto que não fosse a contabilização de votos e de adesões partidárias. Seus reparos veementes aos métodos empregados pelo Poder Executivo junto à “base” para ganhar apoios a Chinaglia também representam avanços em relação ao candidato do Planalto à sucessão de Severino Cavalcanti, que se beneficiou impávido da utilização dos mesmos instrumentos para elegê-lo em 2005. Tampouco o Aldo Rebelo da atualidade, desidratado de apoios, se assemelha ao cordato presidente da Câmara que aceitou de bom grado a anunciada estratégia do Executivo de adiar a composição do ministério para depois da eleição no Legislativo, a fim de não despertar contrariedades capazes de retirar votos do candidato oficial, na ocasião o agora combativo Rebelo. Aldo Rebelo tem companhia nessa adaptação de posições, que tanto pode ser interpretada como senso de oportunidade como pode ser vista como oportunismo puro e simples. Tomemos como exemplo os tucanos, que entraram na ordem do dia quando resolveram negociar apoio ao PT para atender a interesses regionais em São Paulo, Minas e Bahia, deixando de lado a avaliação deles próprios, segundo a qual o partido outrora adversário faz mal aos bons costumes. Diante da má repercussão, do dia para a noite o líder Jutahy virou um formulador e um executor independente, livre de quaisquer compromissos com a cúpula partidária em geral e com seu mais firme indutor, o governador José Serra, em particular. O líder paga sozinho a conta da precipitação. Serra cala e manda dizer por intermédio de seus aliados que não teve nada a ver com a decisão. Aécio Neves, a quem cabe a primeira vice-presidência da Câmara na negociação, manifesta-se das férias para condenar a operação. “Malconduzida”, segundo ele. Fernando Henrique Cardoso, avisado da tendência da bancada pró-Chinaglia enquanto eram feitas as consultas por telefone, informa que se conforma com a decisão, mas em seguida divulga inconformada nota oficial pregando a revisão da posição. O PSDB não conversa consigo mesmo e agora está na seguinte situação: ou reafirma o apoio a Chinaglia e derrota quem o pôs na Presidência da República por 8 anos ou muda e desautoriza seus dois candidatos a reconduzi-lo ao posto. O sofá Arlindo Chinaglia também resolveu entrar no debate sobre a confiabilidade do Legislativo junto à opinião pública. Mas entrou pela porta dos fundos: aquela que dá acesso ao corporativismo. Ele se dispõe a “defender” a instituição das acusações sofridas pela imprensa que, segundo ele, não percebe o equívoco de “enfraquecer” o Parlamento com denúncias de escândalos. Chinaglia traça paralelos com a situação do País pré-1964 - claro, sempre dizendo que não há termos de comparação (e não há mesmo) entre uma época e outra - para insinuar que os meios de comunicação patrocinam um ambiente de rejeição popular ao Congresso. É o tal negócio: ante o injustificável, os adeptos do auto-engano culpam o sofá. “Meia-culpa” Os tucanos porta-vozes da tese do respeito ao princípio da proporcionalidade das bancadas para justificar o apoio ao PT alegam que é um erro fazer da disputa pela presidência da Câmara uma batalha entre governo e oposição. Cabe, portanto, um mea-culpa pelos votos dados a Severino Cavalcanti por enxergar na eleição dele a chance de impor uma derrota ao governo. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, janeiro 17, 2007
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