O Estado de S. Paulo |
17/1/2007 |
0 Banco Popular da China (banco central) acaba de anunciar que as reservas externas atingiram o total de Já se sabia disso em outubro, por dedução, uma vez que, em setembro, as reservas estavam em US$ 987,9 bilhões e subiam à proporção de US$ 20 bilhões a US$ 25 bilhões por mês. O anúncio oficial desse número graúdo pendura novo gancho, como se diz no jargão das redações, para analisar as enormes transformações em curso na economia mundial. A coluna de ontem, que comentou novo calote à vista, desta vez do Equador, já havia chamado a atenção para um paradoxo dos nossos tempos. Trata-se da incrível inversão de papéis. Já não são os países emergentes que devem aos países ricos; são os ricos que devem aos emergentes. Nenhum banco central empilha papel-moeda. Esses recursos são aplicados em ativos financeiros, os mais líquidos e os mais seguros do mercado, como convém a reservas de nação soberana. A maior parte dessas reservas é constituída de títulos dos países ricos, especialmente dos Estados Unidos. Como títulos são comprovantes de débito, fica claro que, à medida que países emergentes juntam reservas, tornam-se credores dos países ricos. Não é só a China que amontoa reservas. A tabela ao lado mostra a quanto estão nesse quesito outros sete países emergentes. Também surpreende a velocidade com que crescem. As reservas em títulos lastreados em dólares estão subindo porque os países emergentes, especialmente os asiáticos, se tornaram mais dinâmicos no comércio mundial. São eles que estão puxando o crescimento global. Se estão formando reservas é porque têm sobras de recursos. Se têm sobras é porque obtêm mais receitas em moeda estrangeira do que despesas. Enfim, é o superávit nas contas externas dos emergentes que está provocando uma reviravolta na distribuição da riqueza no mundo. O impacto mais dramático no mercado financeiro mundial é o de que a procura por ativos de boa qualidade cresce mais depressa do que sua oferta. A super-procura de títulos pelos bancos centrais tem achatado os juros dos títulos de longo prazo, que, por sua vez, derrubam os juros dos títulos de curto prazo. Ontem, por exemplo, o T-Note de 30 anos pagava rendimento de 4,8516% ao ano, enquanto o de 2 anos pagava uma insignificância a mais: 4,8632%. Os juros baixos atiçam o crédito e o consumo, o que realimenta as exportações dos países emergentes para os ricos, cria receitas e bombeia as reservas. Um exemplo do consumo exacerbado nos Estados Unidos é o boom imobiliário. Juros baixos estimulam os empréstimos hipotecários, que estimulam a procura por imóveis e empurram os preços para cima. Essa valorização encoraja a revenda do imóvel, cujo produto é torrado em outro imóvel e em consumo. Alguns chamam isso de bolha imobiliária. Bolha, todos sabemos, é uma estrutura física fadada ao estouro. Mas isso talvez não aconteça porque a abundância de recursos parece estar desvalorizando o dólar em relação aos ativos, como esta coluna tem enfatizado. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, janeiro 17, 2007
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