Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Confronto contraproducente


editorial
O Estado de S. Paulo
18/1/2007

A o escolher um tucano, o paranaense Gustavo Fruet, como seu candidato à presidência da Câmara, os deputados da chamada Terceira Via - que se insurgiram contra a disputa mofina, restrita a dois governistas, Aldo Rebelo, do PC do B, e Arlindo Chinaglia, do PT - poderão transformar a sucessão de 1º de fevereiro na casa em algo não muito mais edificante do que aquela disputa: um novo confronto entre petistas e antipetistas. Essa polarização promete ser contraproducente para as intenções originais do também chamado Grupo dos 30, em alusão ao número de parlamentares que, praticamente à margem de seus partidos e bancadas, se associaram para romper com a mesmice de um pleito encharcado de politicagem e seco de propostas de interesse público.

O plano dos 30 era contrapor ao caráter fisiológico do evento - a eterna troca de votos por cargos - o mais do que necessário debate das questões e comportamentos que acabaram de reduzir a nada o respeito da sociedade pelo Congresso quando os seus dirigentes concederam alegremente à confraria 91% de aumento salarial. A obscenidade, que caiu no Supremo em razão de uma tecnicalidade, foi endossada por Rebelo, no comando da Mesa da Câmara, e por Chinaglia, o líder da base governista. Tanto assim que a idéia inicial da fronda moralizadora era indicar um candidato de quem não se poderia dizer que estivesse a serviço nem do Planalto nem da oposição, como o deputado Fernando Gabeira ou a sua colega Luiza Erundina.

Fosse quem fosse o escolhido com esse perfil, desempenharia o papel de anticandidato: sem chances de vitória, naturalmente, mas com amplo espaço, se não na casa, decerto na mídia, para fazer o que os políticos mais temem - a exposição de suas mazelas - e o que menos lhes interessa, a discussão em torno das reformas destinadas a coibir pelo menos os seus piores vícios. Os candidatos para valer dificilmente conseguiriam ignorar esse movimento e a sua agenda reparadora da vida parlamentar. Na melhor das hipóteses, se veriam obrigados a assumir compromissos com alguns pontos da plataforma da regeneração.

Já a preferência dos 30 por Fruet - a rigor, apenas 16 participaram da decisão - tem tudo para debilitar o projeto que os reuniu. O escolhido é benquisto e sua ficha é limpa. Mas a sua protocandidatura padece de um mal de origem: ele foi indicado pelos tucanos do grupo para resolver um problema interno do PSDB, de há muito em crise de identidade. Na semana passada, como se sabe, o líder da bancada, Jutahy Magalhães, num golpe de mão, ou melhor, de telefone, anunciou o apoio da bancada a Chinaglia. O arranjo daria ao partido, entre outras benesses, a vice-presidência da Câmara (na pessoa de um aliado do governador mineiro Aécio Neves) e remuneraria o paulista José Serra com a eleição desimpedida de seu indicado para dirigir a Assembléia estadual.

Com um correligionário na liça, calcularam os descontentes com a jogada de Jutahy, encabeçados pelo ex-presidente Fernando Henrique, mesmo os tucanos que a incentivaram ou a apoiaram ficariam sem jeito de aderir ao petista - pelo menos da boca para fora, porque, com o voto secreto na eleição da Câmara, nunca se sabe - e se tentaria levar o foco da disputa para a responsabilidade do PT no desmoronamento ético da casa, com o mensalão e as suas seqüelas salpicadas de orégano. (A propósito, petebistas e pepistas, grandes usuários do valerioduto, fecham com Chinaglia.) Dono, em princípio, dos 130 votos que o PSDB e o PFL têm a oferecer, Fruet tenderá a levar a eleição para o segundo turno. Mas nem por isso Rebelo deverá levar a melhor sobre o adversário que atropelou a sua recondução à chefia da Câmara.

Em suma, o processo continuará a ser dominado pelos negócios de ocasião entre os principais candidatos e os eleitores, e pelo lero-lero de costume para consumo externo. Se os tucanos tentarem fazer do pleito um plebiscito sobre o PT, serão acusados de terem também os seus telhados de vidro. Foi eloqüente, por isso, a decisão do representante do PSOL na Terceira Via, o carioca Chico Alencar, de se dissociar do projeto, quando este desembocou na candidatura Fruet.

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