Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 13, 2007

CLÓVIS ROSSI Stalingrado do pudor

SÃO PAULO - O Congresso não perdeu de vez a vergonha e o contato com a realidade, a julgar pela comparação que o presidente da Câmara, Aldo Rebelo, faz entre sua disputa com o petista Arlindo Chinaglia e a batalha de Stalingrado. É patético, para não dizer coisa bem pior, que se utilize um evento épico da história universal, como a batalha em que a então União Soviética derrotou os invasores alemães (1942/43),nessa briguinha sem-vergonha pelo comando da Câmara Federal.
Não há nada de épico nesta, nada que se assemelhe a um episódio histórico, ainda que de alcance puramente nacional, nada que lembre, ao menos remotamente, uma disputa em torno de idéias, princípios, projetos, interesse do país. É só guerra por cargos, vantagens políticas decorrentes, egos inflados, interesse partidário ou, pior, pessoal. Nada além disso. Nenhum dos candidatos disse até agora o que vai fazer, se eleito, para o aperfeiçoamento do Legislativo, para restaurar ao menos parte da credibilidade afetada pela catarata de escândalos, para contribuir com idéias/projetos para o desenvolvimento da pobre pátria e assim por diante. Nada.
A "franciscana" política do "é dando que se recebe" deixou de ser feita nos bastidores, no escurinho dos gabinetes, para ser anunciada em entrevistas coletivas, despudoramente. Um cargo na mesa e facilidades na assembléia paulista compram o PSDB. A promessa de entregar a presidência ao PMDB, nos dois anos finais da legislatura, compra esse que é o maior partido da Casa.
Antigamente, lembra Gilberto Dimenstein, os jornalistas que tivessem informações como as acima teriam que usá-las como acusação, após cuidadoso trabalho investigativo. Hoje, o conluio é público, anunciado diante de câmeras de TV. É de fato uma Stalingrado: a vitória do despudor.

crossi@uol.com.br

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