Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Ave, Aldo! Artigo - Ricardo Noblat




O Globo
8/1/2007

Na última terça-feira, ao jantar em Brasília com Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, o governador Eduardo Braga (PMDB), do Amazonas, quis saber quem ele apóia para presidente da Câmara. "Só posso dizer que o primeiro nome do meu candidato começa com A, termina com do e tem um l no meio", respondeu Renan. Braga saiu intrigado.

Por ora, a presidência da Câmara está sendo disputada por dois candidatos cujos primeiros nomes começam com A, terminam com do e têm um l no meio - Aldo Rebelo (PCdoB-SP), o atual presidente, e Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder do governo. A se levar em conta o que disse Renan, ele poderia estar apoiando um ou outro - mas não é assim. Renan tem uma reeleição segura para presidente do Senado. Não quer pô-la em risco revelando quem apóia na Câmara. Na verdade, ele apóia Aldo. Basta conferir em quem votam os dois irmãos de Renan, - Renildo e Olavo, deputados federais.

Renildo é de esquerda. Olavo, de direita. Renildo é do PCdoB de Pernambuco. Olavo, do PMDB de Alagoas. Quando não quer se meter em bola dividida, Renan repete o mantra: "Não posso brigar com meu irmão". Ora se vale de Olavo para negar seu voto à esquerda, ora de Renildo para manter distância da direita. Pois bem: Renildo e Olavo votam em Aldo. E também a maioria dos deputados que segue a orientação de Renan. De resto, Renan e Aldo são alagoanos. E Aldo foi alfabetizado na escola da fazenda do pai de Teotônio Vilela Filho (PSDB), atual governador de Alagoas e aliado de Renan.

É pouco o apoio velado de Renan para que Aldo ostente a condição de favorito a um novo mandato como o sucessor do presidente na ausência do vice? Então lá vai: sete dos oito governadores eleitos pelo PMDB no ano passado apóiam Aldo. O PFL apóia. E em breve o PSDB divulgará carta de apoio a Aldo. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso começou a pedir votos para ele, assim como o governador José Serra, de São Paulo. Quanto ao governador Aécio Neves, ele está onde Minas Gerais sempre esteve - no muro. Aldo é o devoto de Lula mais queridinho da oposição.

Quer mais? O PSB do governador de Pernambuco Eduardo Campos está com Aldo. E como o deputado Inocêncio Oliveira (PL-PE) apóia Campos, fechou com Aldo. O deputado Ciro Nogueira (PP-PI), corregedor da Câmara, apóia Aldo. Ciro e Inocêncio são herdeiros legítimos dos votos de Severino Cavalcanti (PP-PE), que em 2004 aproveitou a divisão do PT entre dois candidatos e se elegeu presidente da Câmara. Mais tarde, tão logo se descobriu que ele embolsara grana de um concessionário de restaurante, renunciou ao cargo e ao mandato para não ser cassado.

Inocêncio e Ciro exercem dupla função na campanha de Aldo. Servem para garantir votos do chamado "baixo clero" - os deputados de maior apetite fisiológico. E servem também para assombrar Lula. O risco de um filhote de Severino presidir a Câmara tira Lula do sério. O vice-presidente José Alencar foi operado de um tumor maligno no intestino. Está sob tratamento quimioterápico. Imagina se fosse obrigado a se afastar do cargo... Quando enxergam algum perigo para a candidatura de Aldo, Inocêncio e Ciro ameaçam disputar a presidência da Câmara. E aí Lula treme.

É por isso que Lula prefere Aldo a Chinaglia - mas não só. Lula se sente em dívida com Aldo. Em 2003, Aldo quis ser ministro - foi líder do governo. Aí Lula precisou dele como ministro da Coordenação Política - mas Aldo acabou derrubado depois pelo PT. Para suceder Severino, Lula pensou primeiro no nome de Eduardo Campos, que não topou. Aldo topou e ganhou no susto. Em agosto último, Aldo disse a Lula que não queria ser deputado pela quinta vez. Lula pediu que fosse e prometeu apoio à sua reeleição para presidente da Câmara. Daí...

Daí que Lula vencerá se der Aldo ou Chinaglia. O que atrapalha Chinaglia é a ojeriza generalizada ao PT dentro do Congresso.

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