O investidor direto, sério, continuará não vindo para o Brasil - e é uma lástima, pois precisamos desesperadamente dele! -, porque vê exemplos desanimadores, como o estupro das agências reguladoras, que mostrou que não respeitamos os contratos assinados. Ninguém investe em fábricas, plantas, estradas, usinas ou linhas de transmissão sem condições confiáveis, pois não pode levar esses ativos embora, debaixo do braço, como ocorre com o capital financeiro na compra de títulos do Tesouro, negociáveis a qualquer momento, com ganhos ou perdas.
Crescer como, se não exportamos o que precisamos, se importamos o que era produzido no País, se ninguém mais quer investir pesadamente aqui?
O que resta é exportar não para parceiros pobres, como nós, que o Itamaraty privilegia, mas crescentes, ricos em consumidores vorazes, como os EUA e a Europa. Isso há de inspirar não só confiança, mas credibilidade a longo prazo, sempre necessária para a maturação do investimento de retorno demorado, de décadas. Este, sim, anima, enriquece, impulsiona a economia nacional.
E não só os investidores externos não vêm, mas os nacionais estão indo embora.
EM 2007, DESBARATADOS
Entramos 2007 com o pé esquerdo, com o Itamaraty insistindo nos mesmos erros do ano passado, afastando o Brasil dos principais mercados mundiais e nos jogando nas mãos dos pobres, que, como nós, consomem pouco e permanecem esquecidos no canto do mundo.
Será? Será, sim. Basta ver os números oficiais.
1) O Brasil representa hoje pouco mais de 1% do comércio mundial.
2) Tem um PIB de US$ 944 bilhões, que nada pesa num PIB mundial de US$ 46,7 trilhões. Somos marginais. Temos apenas 2% da riqueza mundial! Sim, toda essa enormidade... Podem dizer que estamos na 12ª ou 13ª posição, mas isso não representa nada. A distância entre nós e os primeiros é de muitos trilhões de dólares.
É neste cenário, em que, infelizmente, somos frágeis e desempenhamos um papel nada honroso, que o ministro Celso Amorim reafirma que a política externa brasileira não muda, que nossa política comercial (existe, ministro?) embrulhada num pacote de fracassos será a mesma em 2007.
Mas por quê? A única resposta plausível é que, mesmo estando marginalizados no contexto geopolítico e geoeconômico mundial, queremos desempenhar o papel de líder dos pobres entre os pobres. Não negociamos acordos com os poderosos com medo de perdermos a nossa soberania para os americanos 'colonizadores' e os europeus sugadores da riqueza nacional.
Estamos isolados e vamos continuar isolados.
Vamos seguir perdendo mercados externos, que os nossos empresários, desanimados, decidiram também abandonar, indo explorar lá fora o que não mais encontram aqui. Irão pagar impostos lá. Investir lá. Criar riquezas lá. E nesses 'lás' estão a China, os EUA, a Europa, a Rússia, a Índia, o Oriente Médio. Mas, dizem, no futuro, as nossas empresas internarão mais ganhos! Sim, mas no futuro... como Keynes marcou a memória quando disse... 'estaremos todos mortos'.
O que o povo quer é hoje, aqui e agora. Quer crescimento já, para superar a sua miséria, a sua fragilidade econômica e social. Ele sente que o programa assistencial bolsa família - que completa agora 10 anos - lhe deu alimento, mas não lhe deu emprego, salário melhor e um pouco de bem-estar nem proporcionou sua integração numa sociedade extremamente fragmentada, de ricos cada vez mais distantes dos mais pobres.
E emprego só vem com investimentos, principalmente externos, pois representam dinheiro novo. Em uma frase, com ampla e confiável abertura econômica do País para um mundo hoje inundado de dinheiro, de capitais ociosos em busca de oportunidades. Oportunidades que lhes rejeitamos, jogando-os nos braços da China, da Índia, da Rússia e, acreditem, dos EUA e do Reino Unido, que lideram a lista dos maiores receptores. Hoje, recebemos menos de 1% desses capitais líquidos que buscam portos mais seguros e parceiros mais confiáveis.
Mas, não. Preferimos o olímpico isolamento dos deuses fracassados à associação com aqueles que aqui já estiveram no passado, libertando a decrépita telecomunicação nacional, mas, agora, não nos querem mais.
UM APELO DO... POVO
Senhores de Brasília, senhor presidente - tão bem-intencionado, querendo acertar neste segundo mandato, mas perdido -, por favor, o Brasil precisa de investimento, investimento e mais investimento. Todo o resto, emprego, salário, comida, saúde, bem-estar, começa e termina aí. Pobreza se combate com emprego e miséria, com salários. Esmola, sim, está bem por enquanto, mas, pelo amor de Deus, investimentos... E eles não estão aqui. Estão indo para outros países, ainda pobres, como nós, porém, abertos, sem barreiras por todos os lados.
É bom senso, é simplesmente o que a China, a Rússia, a Índia e outros países estão fazendo. E se lá deu certo, por que não aqui? Vamos cair na realidade, senhores de Brasília, vamos acordar e abrir o País para quem quiser investir aqui. Vamos acordar?
Não criamos clima que atraia os investidores que querem vir para produzir e exportar, mas com liberdade e regras imutáveis, com diálogo aberto com todos os mercados, principalmente aqueles, como o americano, o chinês e o europeu, que crescem mais.
Se, antes, os investidores não vinham, agora, com o nosso ridículo namoro diplomático com Hugo Chávez, o algoz do capital estrangeiro, é que não vêm mais. Se, antes, não dava para confiar, agora é que não confiam mesmo. Têm outros parceiros mais abertos e racionais.
P.S . Leitor, perdoe o desabafo deste colunista neste início de ano de tantas esperanças. Não dá mais. Perdoe, por favor, o desabafo, que, acredito, reflete também o seu desabafo e o de todo brasileiro consciente.