A nova palavra de ordem dos libertários
da rede é a web 2.0, com programas
on-line e gratuitos. Mas a Microsoft já
se mexe para não perder a hegemonia
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Letícia Sorg
David Morris/AP ![]() |
| O guru O'Reilly: software será serviço, não produto |
Se depender de uma nova geração de gurus da internet, daqui a alguns anos nenhum usuário de computador comprará nem instalará programas para escrever textos, fazer cálculos financeiros ou preparar apresentações de slides: tudo isso estará armazenado na rede, proporcionando uma economia dupla – de dinheiro e de espaço na memória do PC. Os primeiros passos nessa direção já foram dados: hoje há dezenas de programas que operam na internet como "genéricos" de aplicativos consagrados como o Word e o Excel (veja quadro). O movimento até ganhou um nome, web 2.0, numa referência bem-humorada às sucessivas versões dos programas de computador. "O software cada vez mais será um serviço, e não um produto", afirma o americano Rob Enderle, analista do setor de tecnologia. "A idéia de que as pessoas vão comprar programas está morrendo", diz o escritor Tim O'Reilly, autor de O que É a Web 2.0, manifesto publicado em setembro e que popularizou o termo. Outra entusiasta do movimento é a ruiva Mitchell Baker, presidente da Mozilla, que se tornou uma celebridade do Vale do Silício californiano depois de lançar o Firefox, navegador gratuito que em apenas um ano foi adotado por 10% dos internautas do planeta.
Por trás da revolução proposta pelos mentores da web 2.0 estão avanços tecnológicos e idéias "libertárias" como a do software livre (que não cobra licença de uso e divulga seus códigos, para que qualquer interessado possa estudá-los e modificá-los). Entre os avanços tecnológicos estão a banda larga, cada vez mais difundida, e novas linguagens de programação, como o Ajax, que elimina a necessidade de atualizar em intervalos regulares cada página de internet visitada. O Google Maps, site que mostra imagens de satélite de qualquer canto da Terra, é um exemplo de utilização do Ajax. Sem ele, cada vez que o usuário "arrastasse" um mapa na tela, a página inteira precisaria ser recarregada. Com ele, as mudanças na imagem vão sendo feitas em tempo real, o que melhora muito a experiência de navegação. É graças à atualização contínua proporcionada pelo Ajax que a edição de informações on-line em programas como o Writely ou o Thinkfree se torna possível.
Divulgação |
| Mitchell Baker, do Firefox: pedra no sapato da Microsoft |
A maioria desses programas é gratuita ou cobra módicas mensalidades. Como, então, as empresas criadoras esperam sobreviver? Gerando receita de outras formas, afirmam, como publicidade ou a oferta de versões turbinadas, mas pagas. "A tendência é que haja sempre uma versão gratuita do serviço bancada por publicidade e uma versão paga, livre de anúncios", diz Alexandre Alvim, presidente da Inova, empresa que desenvolve programas com base no Ajax. Ainda não se sabe se haverá mercado para sustentar essas iniciativas. Outra possível desvantagem é o risco de ataques de vírus. Os entusiastas alegam que, pelo contrário, os arquivos estão mais seguros nos sites das empresas do que nos computadores domésticos, que nem sempre têm proteções atualizadas.
Os gigantes do setor estão atentos a essa novidade. "A Microsoft vai ter de correr atrás para se adaptar", diz o jornalista americano John Battelle, autor de best-sellers sobre tecnologia. E a empresa de Bill Gates, de fato, está correndo. Versões on-line do Windows e do Office foram lançadas, mas ainda apresentam problemas, evidência de um projeto apressado. Em outubro, o Midas da informática enviou um memorando a seus engenheiros exortando-os a ampliar os esforços. O motivo da preocupação de Gates é o fato de os programas on-line funcionarem não só com o Windows, mas com qualquer sistema, como o gratuito Linux. "Esses programas tornarão o Windows menos importante, assim como o Windows desbancou seu antecessor, o DOS", diz John Battelle. É bom lembrar, porém, que no passado Bill Gates demorou para enxergar tendências como a popularização da internet e a importância dos programas navegadores, mas recuperou o tempo perdido e impôs sua hegemonia. O mesmo pode ocorrer desta vez. Mas, ainda que a web 2.0 não se torne a revolução imaginada, só o fato de estimular a competição já é um benefício para os internautas.
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O LADO BOM E O RUIM DA NOVIDADE
VANTAGENS
Facilidade para compartilhar arquivos
Certeza de usar sempre a versão mais atualizada de um aplicativo
Acesso a programas a partir de qualquer aparelho conectado à internet, como um celular
DESVANTAGENS
Arquivos armazenados on-line podem ser vulneráveis a piratas
Computadores mais antigos e com conexão lenta terão dificuldade em usar os programas on-line
