Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 07, 2006

VEJA Álcool O governo não sabe o que fazer com a alta de preços

Como um peru bêbado  

Alta do álcool deixa o governo
desorientado. É uma história que
se repete há trinta anos


Carlos Rydlewski 


Helvio Romero/AE

O Planalto acordou para o problema só depois que o preço na bomba subiu 30%


O fantasma do confisco de estoques voltou a circular em Brasília. Na semana passada, foi usado pelo governo como ameaça contra usineiros, depois que o governo decidiu combater o aumento do preço do álcool, que registrou alta de 27% entre junho e dezembro de 2005 e de 6% nos primeiros dias deste ano. O Planalto voltou atrás, acuado pela repercussão negativa do anúncio. Mas, numa história que se repete há trinta anos, continua tentado a meter a mão nessa cumbuca na base do improviso. A oscilação no preço do álcool está associada principalmente à sazonalidade. Cai na safra, com a abundância da oferta, e sobe nos intervalos da colheita. No ano passado, houve ainda quebra de 20% na produção, causada pela seca que atingiu parte dos estados do Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A crescente venda de carros bicombustível, que representam sete entre cada dez veículos comercializados no país, também contribuiu para aumentar a demanda e tornar o álcool ainda mais requisitado – e caro.

Tantas variantes requerem do governo a formulação de diretrizes mais duradouras e sóbrias que um simples e brutal confisco do produto das mãos dos usineiros. Segundo especialistas, uma boa medida seria criar estoques reguladores de álcool. Não por meio da ação do Estado, mas por intermédio da BM&F, a bolsa que negocia produtos no mercado futuro. Funcionaria assim: na safra, o usineiro venderia uma porcentagem do álcool para um investidor por um preço melhor que aquele que poderia obter no momento. Mas se comprometeria a entregá-lo na entressafra. A maior oferta do produto nesse momento crítico de comercialização reduziria o risco de o preço explodir. Tanto o álcool hidratado, usado como combustível, como o anidro, misturado à gasolina, poderiam entrar nessas negociações. Medidas desse tipo seriam complementadas pelo direito de escolha do consumidor. É para isso que servem os carros bicombustível, lembra o consultor Adriano Pires. Com o álcool caro, opta-se pela gasolina. A migração, segundo os especialistas, deve ser feita quando o preço do álcool chega a 60% ou 70% do valor da gasolina.



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