Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 14, 2006

VEJA Alckmin joga pesado para ser candidato

A pancada de Alckmin

Governador paulista tenta ganhar à força
a vaga de candidato tucano à Presidência


Fábio Portela


O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, é famoso pela temperança e pelo estilo cordato. Mas, nos últimos dias, ele anda irreconhecível. Ameaçou renunciar ao cargo para concorrer à Presidência da República. Foi um movimento para tentar encurralar o prefeito José Serra, que também quer se mudar para o Palácio do Planalto. Depois que o prefeito disparou nas pesquisas eleitorais, Alckmin decidiu que precisava fazer uma jogada de efeito para evitar que a candidatura do PSDB fosse parar no colo de Serra. Seus conselheiros chegaram a sugerir que ele abandonasse imediatamente o governo para constranger o partido a lançá-lo à sucessão de Lula. O governador adotou uma versão mais branda da tática "vão ter de me engolir". No domingo passado, aproveitou um show de hip hop em uma escola estadual para anunciar que abandonará seu posto até 1º de abril para concorrer a presidente, e que não aceita disputar nenhum outro cargo.

Alckmin ganhou as manchetes de jornais, recolocou seu nome no páreo e intimidou os aliados de Serra. O governador recebeu dezenas de telefonemas de apoio de políticos tucanos. Os jornais trataram sua iniciativa como um gesto de "ousadia e coragem", que teria realmente emparedado seu adversário. A cúpula do PSDB se encarregou de esconder os efeitos colaterais do "dia do saio" de Alckmin. Sua declaração causou mal-estar no partido e ele se viu obrigado a procurar os cardeais tucanos a fim de se explicar. Telefonou para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e para os governadores do partido. Entre eles, o mineiro Aécio Neves, outro presidenciável tucano. Em todas as conversas, repetiu que não imaginava que sua entrevista teria tanta repercussão e que não pretendia pressionar a cúpula partidária. O que os cardeais gostariam, no entanto, de ter ouvido de Alckmin é que ele apoiará a decisão do partido, ainda que ela seja favorável a Serra. O PSDB teme que a eleição deste ano repita o racha que, em 2002, separou em campos opostos Serra e o atual presidente da agremiação, Tasso Jereissati. Os tucanos acreditam que essa ruptura está entre as causas da derrota para o PT.

A declaração de Alckmin foi especialmente mal digerida por Aécio Neves, que veio a público para criticar "atitudes individualistas" no tucanato. Aécio, que já foi um dos aliados de Alckmin, aproximou-se de Serra no fim do ano passado. Para conquistá-lo, o prefeito disse que, se chegar ao Planalto, não concorrerá a um segundo mandato. Como garantia, pediu a um de seus aliados que encaminhasse ao Congresso um projeto de emenda constitucional acabando com a reeleição. Essa saída vai ao encontro dos projetos de Aécio, que deseja ser candidato em 2010. A aliança de Serra e Aécio acuou Alckmin, que acreditava que a competente boa gestão no governo de São Paulo seria suficiente para garantir o apoio do PSDB às suas pretensões presidenciais.

O governador paulista perdeu espaço porque se isolou no Palácio dos Bandeirantes, enquanto Serra se empenhava em conquistar apoios em outros estados. Alckmin distanciou-se da bancada de deputados do PSDB e deixou que o prefeito mantivesse o controle do partido. Estima-se que Serra conte hoje com a simpatia de, pelo menos, 60% dos integrantes da executiva do seu partido. O que é mais grave para Alckmin, no entanto, é que ele perde por larga margem para seu rival nas pesquisas de intenção de voto. Os levantamentos apontam Serra como o único candidato capaz de derrotar Lula no primeiro turno. Alckmin aparece bem atrás do petista. Pior: está empatado com o ex-governador do Rio Anthony Garotinho, do PMDB. Essa performance afugenta os tucanos indecisos e põe em risco a realização de alianças com outros partidos, que recebem poucos afagos do governador paulista. O principal deles é o PFL, que deve indicar o vice na chapa do PSDB.

Em 2001, o presidente do partido, Jorge Bornhausen, lançou Alckmin à Presidência. Foi um gesto importante, porque, nessa ocasião, nem os tucanos cogitavam seu nome. Além disso, Bornhausen era um inimigo público de Serra. Bastaria, portanto, que Alckmin mantivesse o diálogo com o cacique pefelista. O governador silenciou. Na semana passada, teve de apelar a seu vice, Cláudio Lembo, para reunir-se com Bornhausen. O encontro só serviu para fotos. O senador catarinense apareceu acompanhado do vice de Serra, Gilberto Kassab, que anda interessadíssimo em ver o prefeito no Planalto. Com Kassab na sala, não se tratou de nada relevante. Enquanto Alckmin pensava apenas na administração do estado, Serra remendou sua relação com Bornhausen, que passou a ser contado como seu aliado.

Os próximos 45 dias serão cruciais para o governador de São Paulo. Nesse prazo, Alckmin precisa construir pontes com as lideranças dos partidos aliados. Também terá de provar que é capaz de manter a unidade do PSDB, que foi abalada pela sua impetuosidade recém-adquirida. "Ninguém é candidato sozinho. Os eleitores não nos darão uma nova chance de governar o Brasil se não mostrarmos que temos unidade no partido", diz o senador Arthur Virgílio. O principal desafio de Alckmin, no entanto, é melhorar nas pesquisas. O PSDB só lhe dará a vaga se ele provar que é capaz de ficar à frente de Lula já no primeiro turno.

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