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Quais são as chances de Serra em 2006? O caso é curioso. Ele talvez tenha mais dificuldade de sair candidato do que de vencer as eleições presidenciais.
Aparentemente, o prefeito de São Paulo suscita resistências expressivas no campo econômico-financeiro. É considerado independente demais. O "establishment" nacional e internacional tem dúvidas a seu respeito.
Os donos do poder cultivam certos hábitos e procedimentos, que estão razoavelmente consolidados. A sua preferência é por políticos anódinos, facilmente controláveis, que não tenham opinião formada ou conhecimento próprio sobre questões econômicas. Não basta ser tucano para inspirar confiança.
Comentário que circula no famigerado mercado: "Agora é o Serra quem tem de escrever uma "Carta ao Povo Brasileiro'". Não sei se o leitor lembra desse antecedente desprimoroso. Durante a campanha de 2002, como parte de um amplo esforço para se mostrar confiável e inofensivo, Lula assinou uma "Carta ao Povo Brasileiro". A tal carta recitava uma série de obviedades, mas foi interpretada politicamente como "sinal de maturidade" do candidato e como garantia de que a política macroeconômica não seria alterada. Passou a ser conhecida como "Carta aos Banqueiros".
No final do ano passado, antes de participar de um debate sobre política econômica, resolvi reler a "Carta aos Banqueiros". Não vale a pena. Mas quem quiser pode encontrá-la num site chamado "Bote Fé e Clique Lula" (sic). Detalhe cômico: o site também traz a versão em inglês: "Letter to the People of Brazil". Quando mencionei isso no debate, alguém da platéia gritou: "Essa é a original!".
Serra faria o mesmo papelão? Bem. Sou um brasileiro escaldadíssimo, como todos. Até prova em contrário, temos que desconfiar de qualquer político. Desde 1986, o brasileiro foi submetido ao que talvez seja a mais longa e variada lista de engodos eleitorais da história política mundial. Mas, como não há vida sem esperança, continuamos procurando uma saída.
Sabe-se que o prefeito de São Paulo não é adepto da sabedoria econômica convencional. Ao contrário, desde os tempos de Fernando Henrique Cardoso, Serra tem sido um adversário persistente, dentro e fora do governo federal, do que passa por ortodoxia econômica no Brasil. Nos últimos dias, voltou a repetir as suas críticas às políticas de juros e de câmbio do governo Lula, que são, como se sabe, essencialmente as mesmas do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso.
Serra conseguiria mudar a política econômica? A capitulação do governo Lula nesse terreno espalhou desânimo. Muitos se convenceram de que não existem alternativas politicamente viáveis. Segundo essa interpretação, o esquema de poder financeiro vigente seria fortíssimo e não haveria como alterar a orientação da política econômica sem sofrer pesadas represálias do mercado. A Fazenda e o Banco Central estariam, para todos os efeitos práticos, fora do alcance do eleitorado. Existiria, em suma, uma espécie de ditadura financeira.
O argumento seduz muita gente, mas nunca me convenceu. Basta olhar para o resto do mundo. São poucos os países importantes tão enquadrados como o Brasil. A política monetária do Banco Central, por exemplo, é uma aberração sem paralelo. Não por acaso, o Brasil tem crescido bem menos do que a maioria das demais economias emergentes. Segundo estimativas da Cepal, entre todos os países latino-americanos, só o Haiti cresceu menos do que o Brasil em 2005!
O grupo de políticos brasileiros que chegou ao poder em janeiro de 2003 se caracterizava por uma combinação impressionante de despreparo e oportunismo. Nem tentaram mudar a política econômica. Foi uma capitulação sem luta.
Com alguma competência e coragem, é perfeitamente possível reorientar a economia brasileira e recolocá-la na rota do desenvolvimento.
Entrevista:O Estado inteligente
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