ESTADÃO
Será um exercício muito arriscado de futurologia prever o que vai ocorrer nos próximos dez meses e exercer influência decisiva no resultado das eleições gerais, particularmente a presidencial. Mas, já que os institutos de pesquisa de opinião pública podem divulgar os resultados de suas enquetes estatísticas com base no "retrato do momento", talvez não seja de todo impróprio e inútil relatar o panorama político-eleitoral de outubro e novembro tal como visto agora, em janeiro. Neste momento, já despontam algumas candidaturas presidenciais, das quais três se destacam: do lado do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentará disputar a reeleição, tendo contra ele a alternativa oposicionista entre o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito da capital, José Serra. Formam o "trio de ouro" da sucessão presidencial. Quais seriam suas possibilidades agora?
Luiz Inácio Lula da Silva disputou a última eleição, ganhou-a com folga e ocupou nos últimos três anos o cargo mais poderoso da República. Somente isso já bastaria para pô-lo em posição de destaque na disputa neste país de dimensões continentais e da variedade das geografias física e humana com vastidões de território e de ignorância. Ser ou tornar-se conhecido, para ter a imagem identificada com o imaginário popular, é uma vantagem considerável que tem de ser levada em conta numa disputa como essa. Há meio ano, mesmo muito depois da confissão de seu ex-subchefe da Casa Civil para Assuntos Parlamentares Waldomiro Diniz, filmado e gravado achacando um empresário da jogatina para financiar campanhas para governador de petistas e aliados, Sua Excelência era considerado imbatível. A denúncia do ex-amigo Roberto Jefferson (RJ), presidente nacional licenciado do PTB, da existência de um esquema de corrupção para garantir a adesão de parlamentares a legendas da base governista e o apoio de outros em votações de interesse do governo modificou muito essa situação.
O presidente e seus principais estrategistas erraram duas vezes: ao imaginar que poderiam sair imaculados do pântano moral se fingindo de desavisados e ao contar exclusivamente com o sucesso da economia (incerto, aliás) para compensar os efeitos malignos da crise moral na candidatura presidencial. No meio disso tudo, o comportamento errático do chefe do governo é uma agravante. Ele se disse traído, mas se recusou a declinar o nome dos traidores; depois, tentou desqualificar as investigações da CPI dos Correios que confirmam a denúncia; e, afinal, voltou à posição original de vítima, comparando o episódio a uma "facada nas costas". Sem perceber, aliás, que estava usando a mesma metáfora empregada pelo delator quando narrou o primeiro encontro entre os dois em que lhe teria narrado o tal "mensalão".
O ex-presidente tampão do PT Tarso Genro (RS) escreveu que "Lula pode ganhar". É claro que pode. Mas não vai ser a barbada que se prenunciava. Ao contrário, a campanha será, na certa, uma guerra terrível, pois a oposição pode tê-lo poupado do impeachment, mas não deverá economizar no bombardeio de imagens de força inegável, tais como o achaque de Waldomiro, a propina para Maurício Marinho, os discursos de Jefferson, os dólares na cueca do assessor do irmão de Genoino, etc.
Para enfrentar Lula o PSDB dispõe de dois candidatos que oferecem exatamente o que o presidente não tem: experiência administrativa. As pesquisas dão o prefeito de São Paulo, José Serra, como o pretendente preferencial da oposição ao posto de anti-Lula. Alega-se que o candidato que perdeu para o presidente na disputa de 2002 assinou um documento em cartório comprometendo-se a não sair da Prefeitura para se candidatar, caso nela fosse empossado. Tolice! Não há lei que o impeça de fazê-lo. E é duvidoso que um único de seus eleitores se possa sentir traído se ele tiver de deixar o Viaduto do Chá para tentar subir a rampa do poder no Planalto. A esse respeito, o jornalista Mauro Guimarães protagonizou episódio interessante: quando foi anunciado que o governador de Minas Gerais, Tancredo Neves, deixaria o cargo para se candidatar à Presidência, ele perguntou a um taxista em Belo Horizonte (fã declarado do doutor Tancredo) se se sentia traído por isso. "Que nada, doutor! É como se meu voto valesse mais: votei no homem para governador e ele vai terminar presidente", respondeu. Não será diferente o pensamento dos eleitores paulistanos de Serra, pois todos eles devem fazer parte do crescente contingente de brasileiros que não suportam mais ouvir a voz de Lula.
O fato de deixar a Prefeitura para o pefelista Gilberto Kassab também não diminui as possibilidades do prefeito tucano, mas, ao contrário, pode facilitar-lhe a vida, prenunciando a volta da coalizão PSDB-PFL. Tudo isso quase faz de Serra o candidato natural da oposição, a não ser, é claro, que a queda livre do presidente nas pesquisas seja tão vertiginosa que venha acompanhada de uma ascensão acentuada do governador Geraldo Alckmin. Ou seja, Serra depende da estabilidade de Lula e Alckmin, da desgraça dele.Talvez não seja exagerado dizer, assim, que os membros do "trio de ouro" da sucessão têm nas próprias condições as maiores adversidades para que cheguem a concretizar suas ambições. Pois Lula lutará contra os próprios erros cometidos, por conta da negligência por ele demonstrada num episódio grotesco de corrupção no qual o PT jogou no lixo da História um patrimônio ético amealhado em um quarto de século de luta política. Engalfinhando-se pelo almejado posto de beneficiário dessa situação, Serra e Alckmin podem, contudo, terminar ajudando o adversário a superar as próprias dificuldades se não vierem a perceber que essa fogueira das vaidades pode chamuscar as chances tucanas antes de queimar de vez o monumental rabo-de-palha petista a ser exibido na campanha.
Entrevista:O Estado inteligente
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