FOLHA
Nunca vi um político reconhecer que não tem possibilidade de eleger-se. Cada um deles acredita no seu próprio milagre - o reconhecimento que o eleitorado afinal fará, a grande bolação da sua campanha, a tremenda rejeição aos outros concorrentes, a prova indiscutível dos cumprimentos e abraços nas ruas, não, não há dúvida da vitória. Ao fato de que em todo político haja um doutor Enéas deve-se a graça das eleições, que de outro modo teriam um só e entendiante candidato, o favorito de fato, ou nem ocorreriam.
Avisa-nos o detentor do estranho e inútil cargo de ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, que Lula dirá em março se vai ou não candidatar-se. A explicação de que este prazo é necessário a vários ministros, para decidir suas candidaturas, foi bem aceita no jornalismo político, mas é muito pobrezinha. Nenhuma candidatura de ministro depende da candidatura de Lula ou da sua desistência.
Por acaso, o março fixado por Lula, embora com mais três meses para decidir, é a altura do calendário político em que se saberá, definitivamente, se o líder das pesquisas atuais será ou não candidato: José Serra precisaria deixar a prefeitura seis meses antes da eleição, ou até abril.
Lula tem dito que sua decisão "depende do crescimento [econômico] em 2006" e que sai candidato "só se for para ganhar". Se combinadas, as duas frases já indicam muito mais dependência e insegurança do que confiança no próprio cacife. A escolha de março para a decisão, mesmo com o direito legal de esticá-la a junho, é uma sugestão clara de que Lula não se subestime a possibilidade de Lula encerrar seu governo no primeiro mandato.
Ainda na sexta-feira, um ilustre comentarista político dava no rádio uma opinião definitiva que, para muitos, soaria até como advertência: "Lula é candidatíssimo. Ninguém duvide disso". Lula, pelo que se vê e ouve, ousa duvidar. E faz muito bem. As evidências de sua dificuldade eleitoral são muitas e fortes. As indicações são todas no sentido de que os problemas partidários, entre seus necessários aliados, não lhe darão as condições políticas convenientes, por mínimas que o sejam.
No eleitorado, a recusa a repetir o voto em Lula chega a parecer a unanimidade dos que se juntaram aos seus eleitores habituais e lhe deram a vitória. E não são votos recuperáveis pelo ilusionismo de marqueteiros, porque estão marcados por uma frustração que começa, justamente, na consciência de que foram ludibriados a partir dos truques marqueteiros. São eleitores em grande parte vacinados. Isso explica que Lula, nas pesquisas atuais, retorne ao seu contingente de eleitores comprovado nas três eleições presidenciais que perdeu.
É claro que tudo dependerá, desde a decisão de Lula à decisão das urnas, de quem sejam os seus adversários e das composições que entre eles se façam. Mas já é bastante indicativo, nestes passos iniciais da corrida eleitoral, que o doutor Enéas que há em Lula não lhe esteja dando o otimismo e as certezas que dá a todo político-candidato.
Incultura
Ramificou-se em diferentes sentidos, todos insatisfatórios, para o ministério de Gilberto Gil, o incidente criado pelo secretário de políticas culturais Sérgio Sá Leitão. A ramificação exprime a natural inconciliação das visões de intelectuais, artistas e assemelhados, e é pena que não as leve a mais do que um episódio. Por isso mesmo, o que interessa no incidente não são seus desdobramentos de agora, mas aquilo mesmo que o motivou.
Se a ligeira crítica de Ferreira Gullar à ação ministerial de Gil e ao Ministério da Cultura suscitava correções factuais ou esclarecimentos, a isso Sérgio Sá Leitão devia restringir-se. Primeiro, porque a crítica não se dirigia à pessoa de Gil e não foi agressiva em medida ou direção alguma. Além disso, porque é inaceitável a conotação policialesca da gratuita referência de Sá Leitão a posições de esquerda. O absurdo dessa prática não está em dirigir-se a tal ou qual pessoa, mas na prática em si, seja qual for o seu alvo.
Mas Sérgio Sá Leitão - a quem conviria parar de negar-se, em suas sucessivas versões do incidente - não foi original. Poucos são, no atual governo e nas alturas do petismo, os que têm compreensão democrática da crítica e do seu (deles e da crítica) papel público. Em geral, a reação reflete pretensões de superioridade e atribuição de má-fé ao crítico. Não é outra coisa que está por baixo, por exemplo, das cobranças de desculpas repetidas por Lula, entre as louvações que faz a si mesmo. Ou da acusação de ódio como motivador das críticas às patifarias que não se personificam só em Delúbio e Valério.
Se alguma cultura está manifestada pelo seu ministério a propósito do incidente com Ferreira Gullar, é a do autoritarismo.
Entrevista:O Estado inteligente
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