Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Editorial de O GLOBO

Passividade

Não é comum que o dirigente de um órgão estadual critique veementemente a atuação de outras autoridades do estado, como fez o presidente do Departamento de Transportes Rodoviários (Detro), Rogério Onofre — e por isso mesmo, desde ontem à tarde, ex-presidente — em entrevista à Rádio CBN, a propósito da manifestação de motoristas de vans na Avenida Presidente Vargas. As críticas à passividade oficial merecem toda a atenção, mais ainda por se mostrarem absolutamente apropriadas.

O protesto dos donos de vans — notoriamente dos proprietários de frotas — era contra a licitação de licenças determinada pela Justiça, que beneficiaria sobretudo os autônomos. Isso é tudo o que não querem esses empresários da bandalha; alguns deles, aliás, tem-se fortes razões para se suspeitar que mantenham ligações com o crime organizado. Não lhes interessa que seja regulamentado, como precisa, o transporte público, nem que lhes seja atribuída a função de proporcionar um meio de transporte à população mais carente da periferia, numa cidade sem um sistema de metrô nem longinquamente à altura das necessidades.

E o governo do estado está se mostrando refém desses protestos, que podem ser comparados a atos de chantagem. Assim, as vans não foram rebocadas, multadas ou alvo de qualquer outra forma de repressão adequada. “Levaríamos horas”, foi o argumento pouco convincente do comandante do Batalhão de Policiamento de Trânsito para justificar a falta de energia em face de um ato reivindicatório que tanto prejudica a população.

O ex-presidente do Detro, que diz ter sofrido ameaças, sustenta que aos manifestantes, que tumultuaram de maneira intolerável o trânsito em grande parte da área central do Rio, interessa apenas que não haja normas nem fiscalização, preferindo se manter na clandestinidade.

A licitação está agora suspensa por 30 dias, e o próprio Rogério Onofre advertiu que é bem possível um novo adiamento. É o que não interessa a ninguém — salvo a quem só tem a lucrar com a manutenção de um sistema de transporte sem regras e normas, que opera à margem da lei. E que infelizmente conta, para continuar assim, com uma atitude de passividade do poder público.

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