Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, janeiro 11, 2006

EditoriaIS da Folha de S Paulo 10 DE JANEIRO

A CARTADA DE ALCKMIN
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, fez o primeiro movimento público na disputa que vai decidir quem será o candidato tucano ao Planalto nas eleições de outubro. Disse que deixará o governo até 1º de abril, tornando-se apto, pela lei, a concorrer à Presidência.
Em relação ao seu principal oponente dentro do partido -o prefeito de São Paulo, José Serra-, Alckmin tem pouco a perder ao deixar o posto e pleitear a candidatura a presidente. Perderá pouco se for o postulante preterido, pois ainda poderá escolher entre candidatar-se ao Senado ou à Câmara dos Deputados.
Até as conseqüências de uma hipotética derrota do candidato do PSDB no pleito presidencial seriam menos danosas para Alckmin do que para Serra. Tudo porque Alckmin encerra em 2006 seu segundo mandato -governou metade do primeiro, após a morte de Mário Covas-, enquanto Serra teria de deixar a prefeitura com 15 meses de gestão.
O governador se valeu dessa vantagem sobre o prefeito para criar o primeiro fato político da sucessão. Antecipar campanha, exposição na mídia, viagens, formação de equipes de assessores, interlocução com financiadores é atitude que só pode ajudar Alckmin a tentar obter algo essencial que ainda lhe falta na comparação com Serra: um desempenho melhor nas pesquisas de intenção de voto.
Nas sondagens, o prefeito aparece como o favorito para o Planalto. De acordo com o Datafolha de 13 e 14 de dezembro, Serra lidera a simulação para o primeiro turno e, no segundo turno, bateria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 14 pontos percentuais de vantagem. O desempenho de Alckmin melhorou bem -tem 22% de intenções de voto no turno inicial e empata com Lula no final-, mas não indica vitória inequívoca se a eleição fosse hoje.
Alckmin argumenta que, onde é conhecido, vai melhor que Serra. No Estado de São Paulo, teria 65% dos votos no segundo turno contra Lula (25%); o prefeito derrotaria o presidente por 57% a 30%. Tudo, diz o governador, seria uma questão de o público brasileiro conhecê-lo melhor.
A estratégia de Alckmin pode até falhar, pois não é do estilo de Serra assistir ao avanço de um adversário sem reagir, mas, do ponto de vista do governador, faz todo sentido.





CASSAÇÕES EM DÚVIDA
Após quase um mês de férias, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados retomou ontem seus trabalhos com a promessa de concluir, até 14 de fevereiro, pelo menos 6 dos 11 pedidos de cassação de parlamentares. Todos são acusados de estarem envolvidos no esquema ilegal de pagamento a deputados que ficou conhecido como "mensalão".
No dia 14 do próximo mês termina a convocação extraordinária do Congresso, que teve início em 16 de dezembro sob a sombra da despudorada absolvição de Romeu Queiroz (PP-MG), rejeitada por 250 deputados e apoiada por apenas 162.
Réu confesso, Queiroz admitiu ter recebido R$ 452 mil do esquema ilegal de financiamento gerenciado pelo publicitário e lobista mineiro Marcos Valério de Souza.
Desmoralizado pela avalanche de escândalos de 2005, o Congresso tem a obrigação de demonstrar à sociedade que a absolvição de Queiroz foi um grave equívoco, um episódio isolado. Deve afastar a suspeita de que o ato foi o primeiro fruto de um acordo espúrio para evitar a punição de parlamentares que, na hipótese mais branda, quebraram o decoro ao deixar de contabilizar recursos para suas campanhas eleitorais.
O primeiro passo para a Câmara recuperar-se dessa falha abissal é o Conselho de Ética apresentar pareceres inequívocos pela cassação dos parlamentares favorecidos pelo "valerioduto", barrando qualquer tentativa de fazer prevalecer interesses inconfessáveis.
Ressalte-se que o Conselho cumpriu seu papel no caso de Romeu Queiroz. Recomendou a cassação, que o plenário, contrariando longa tradição do Congresso, refutou.
Até ontem alheio à convocação extraordinária que poderá retirar R$ 100 milhões do bolso do contribuinte, o Conselho de Ética tem agora a tarefa de restaurar o sentido de responsabilidade moral que a questão exige, na esperança de que o mesmo espírito sobreviva ao corporativismo que ameaça se instalar no plenário.

Arquivo do blog