Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, janeiro 03, 2006

EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO

TEMORES DO BC

Diretores do Banco Central, ao que consta, demonstram insatisfação com o que vêem como derrota do ministro Antonio Palocci (Fazenda) em "queda-de-braço" com a colega Dilma Rousseff (Casa Civil). Temem que a determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que o superávit primário (poupança que o governo faz para pagar juros) deste ano seja mais próximo da meta de 4,25% do PIB torne mais complicado o controle da inflação.
Como conseqüência desse temor, já há quem afirme que o BC deixará de acelerar a queda dos juros básicos e permanecerá fiel a sua política de suavizar a taxa de modo gradual -reduzindo a Selic em meio ponto percentual a cada reunião do Copom (Conselho de Política Monetária).
A preocupação com o nível de gasto dos governos como um todo e do Executivo federal em particular, em um ano eleitoral como este que começa, é justificada. O Estado brasileiro precisa conter as suas despesas e tomar medidas gerenciais para melhorar a eficiência de seus gastos.
Mas a diferença entre o superávit fiscal de 2005 (que deve ter fechado perto de 4,8% do PIB) e a meta de 2006 não avaliza a precaução do BC. A título de comparação, a despesa do setor público com juros em 2005 (para a qual contribuiu em larga medida a Selic nas alturas) deve ter consumido pouco mais de 8% do PIB.
A divulgação de índices baixos de aumento de preços e as previsões do mercado para a inflação de 2006 continuam a apontar folga para o cumprimento da meta para esse indicador. A atividade econômica não dá mostras de exuberância -pelo contrário, como evidenciou a baixa forte do PIB e dos investimentos produtivos no terceiro trimestre de 2005.
A política do BC para conter a valorização do real tem sido cara -é a contraface da emissão de mais dívida de curto prazo remunerada a 18% ao ano -e arriscada- com apostas heterodoxas no mercado futuro.
Por tudo isso, é preciso que o Copom, já a partir da reunião de 17 e 18 de janeiro, aumente o ritmo de corte dos juros básicos da economia.

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