Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, janeiro 03, 2006

EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO

"GUERRA DO GÁS"

A Rússia sob Vladimir Putin é um problema diplomático com o qual o Ocidente tem dificuldade para lidar. Essa evidência emerge novamente na chamada "Guerra do Gás", que opõe a estatal russa Gazprom ao governo ucraniano.
Nada obriga Moscou a fornecer gás natural a preços subsidiados para o país vizinho. Assim, é razoável que a Gazprom chegue à "realidade" tarifária passando a cobrar dos ucranianos US$ 230 por 1.000 m3 em vez dos atuais US$ 50. Clientes da União Européia (UE) deverão despender US$ 255 por 1.000 m3 a partir deste ano.
Entretanto, por mais que o Kremlin tente caracterizar a disputa apenas como comercial, é evidente a sua motivação política. A relação entre Moscou e Kiev se deteriorou desde que Viktor Yushchenko assumiu o poder na Ucrânia um ano atrás, na esteira da chamada Revolução Laranja, derrotando o candidato apoiado por Putin. A tensão bilateral só piorou após Yushchenko ensaiar uma aproximação com o Ocidente, pleiteando o ingresso da Ucrânia na UE e na Otan (aliança militar ocidental). Outras ex-repúblicas soviéticas fiéis ao Kremlin continuam gozando de energia subsidiada.
O aumento repentino de quase cinco vezes que a Rússia pretende impor à Ucrânia no preço do gás comprometeria a economia local. O mais razoável seria negociar um acordo de aumento gradual. Não por acaso, o corte no fornecimento ocorreu no auge de um inverno rigoroso e a dois meses de eleições legislativas decisivas para o futuro de Yushchenko. Putin está mandando um recado para os eleitores ucranianos bem como para os líderes de outras ex-repúblicas soviéticas que falam em mais abertura para o Ocidente.
Utilizar-se de recursos naturais para fazer geopolítica não é uma novidade. O que é novo e condenável é o fato de Putin -que concentra cada vez mais poder na Rússia- já nem hesitar antes de tentar influenciar a política de nações soberanas.

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