Entrevista:O Estado inteligente

domingo, janeiro 08, 2006

AUGUSTO NUNES A voz da razão prevaleceu

JB


A estampa do presidente mereceu mais cuidados que o conteúdo da entrevista. Confiante nos atributos incontestáveis do orador que aprendeu a empolgar multidões, Lula costuma enfrentar microfones com a naturalidade de um veterano craque do improviso. Não achou necessário simular com assessores a essência da entrevista combinada com o jornalista Pedro Bial, que seria exibida pela Rede Globo no programa Fantástico.

Preferiu cuidar da fachada. Às vésperas da gravação, cortou os cabelos. Em seguida, submeteuse a técnicas rejuvenescedoras. Infiltrações de botox apagaram vincos e acentuaram os ângulos das sobrancelhas. Rajadas de laser removeram pequenas manchas no rosto. Examinado hoje, o resultado do trabalho atesta a competência de quem o executou. O problema é que Lula se precipitou. No dia da entrevista, Lula deveria estar concentrado na convalescença.

Numa cama, nunca no estúdio improvisado no Palácio do Planalto. As imagens iniciais prenunciaram o desastre estético. Curtos demais, os cabelos realçaram as orelhas de abano. Repuxadas, as sobrancelhas oscilavam sobre olhos arregalados.

O rosto avermelhado pelo laser atraiu a curiosidade dos espectadores muito mais que o terno bem cortado e a bonita gravata. Ninguém se lembra hoje da cor do terno. Mas quem viu a entrevista recorda outros detalhes exemplarmente reveladores.

Foram capturados por operadores de câmera talentosos e tarimbados. Ao afastar-se para mostrar a dupla frente a frente, , uma das câmeras penetrava debaixo da mesa. Os pés de Lula batendo continuamente no chão. Como solitário baterista.

Profissionais pouco experientes perseguem vozes: sempre fecham a lente no rosto de quem está falando. Os melhores caçam expressões. Essa tribo adivinha a hora de mostrar o entrevistado em silêncio, ouvindo a pergunta indesejada. Uma boca ressequida é bem mais eloqüente que discurseiras diversionistas.

Tais escorregões não causariam tanto desconforto se as falas do entrevistado tivessem sido menos bisonhas. Lula agora sabe que TV não é palanque. Num comício, agressões ao idioma não soam tão desagradáveis como na tela. E faltaram a Lula, sobretudo, argumentos convincentes.

Gravada no palácio de Lula, quem parecia em casa era Bial. Sereno, polido e sempre incisivo, fez as perguntas entaladas na garganta do Brasil. Confirmou-se que Lula não sabe jogar na defensiva. Embaralhou-se em contradições desastrosas. Procurou contornar campos minados demais pelo palavrório triunfalista de candidato confuso. E assim naufragou.

O Cabôco anda suspeitando de que, para os intelectuais do PT, documentos históricos são tão relevantes quanto o programa do Prona. Ainda perturbado pelo sumiço de peças sob a guarda da Biblioteca Nacional, o Perguntadô soube do assalto ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Quer saber por que a polícia do doutor Márcio ainda não vasculhou as casas dos colunáveis de estimação.

A Era dos Despreparados

A crueldade dos colonizadores europeus anunciou que a saga da América Latina raramente ouviria o sopro dos ventos da misericórdia. Os horizontes políticos desenhadas pelo começo do Terceiro Milênio avisam que este canto do planeta tem seus caminhos traçados por deuses nada clementes.

O século 20, por exemplo, submeteu um mosaico de nações às muitas vertentes do horror. Tiranos brutais, corruptos disfarçados de democratas, revolucionários sem causa nem pudores, sobretudo ditadores delirantes que só seriam retratados por gênios do realismo fantástico.

Em meio a guerras territoriais, emergiram os demagogos ladrões, os golpistas com quepes enormes e cabeças diminutas, os generais comandantes de legiões de torturadores. Mas foi possível sonhar depois de encerrada a guerra fria. Era a hora de explodir as algemas do atraso. Chegara o momento de revogar o primitivismo e consolidar a democracia. A figura do homem providencial enfim morrera.

Engano. A contemplação da América do Sul convida à suspeita de que começamos a viver a Era dos Despreparados. Na nova roupagem, o homem providencial nada leu, não estudou. Mas o ignorante exemplar se tornou Aquelequ e-Tudo- Sab e-e -Tud o-V ê. Aprendeu na infância pobre.

A tribo vai crescendo. O exoperário Lula no Brasil. O golpista vocacional Hugo Chávez na Venezuela. O cocaleiro Evo Morales na Bolívia. Desprezam o saber e os Estados Unidos. Ajoelham-se no altar de Fidel Castro, o mais antigo ditador do mundo. Mas não sabem o que querem.

A origem humilde é só uma circunstância penosa. Não credencia ninguém ao papel de estadista. Fidel, por exemplo, é um filho da elite, domina o idioma, preparou-se para exercer o poder. Os outros não leram, nada estudaram. São medíocres fundamentais, incapazes de governar um país.

O sherloque muito doido

Márcio Buzanelli, chefão da Agência Brasileira de Informação (Abin), ganhou a taça (e uma vaga perpétua no sanatório geral) ao explicar a troca do símbolo da instituição: sai a araponga, entra o carcará. Motivo:

"Araponga é muito depreciativo. E é um passarozinho pequeno. Simpático, mas o nome não tem eufonia. Já o carcará é uma ave nacionalista".

Vassalagem faz mal à vista

O deputado Aldo Rebelo, flor mais perfumada do orquidário do PCdoB, reincidiu na insensatez: mais uma vez, comunicou que não acredita que o esquema do mensalão tenha existido. Segundo o presidente da Câmara, só ocorreram pecados veniais, freqüentes no sótão do caixa 2. Sem-vergonhices das boas, documentadas pela CPI dos Correios, isso é invencionice.

Rebelo é o tipo do comunista que toda ricaça beata adoraria ter como genro. Além de ir à missa, segue sem balidos de protesto o pastor do rebanho. Devoto de Mao Tsé-tung, chama de "Grande Timoneiro" o feroz genocida. Devoto de Enver Hoxha, assumiu a mansidão das cabras albanesas. Devoto de Lula, está há três anos de joelhos.

Bravata no lamaçal

O ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, jura que as rodovias federais ressuscitarão em 2006.

A imagem do trecho da BR-116, em Minas Gerais, permite deduzir que o ministro nunca viaja por terra.

Bom Cabelo está de volta

Preso preventivamente em dezembro de 2004, o juiz federal João Carlos da Rocha só não festejou em casa o réveillon de 2005 porque toga também é gente. Neste dia 6, retemperado pelo descanso, o ministro do STF Joaquim Barbosa voltou ao serviço para premiar o bandido com o regime de prisão semi-aberta. É a antesala da completa liberdade.

O prontuário da figura é mais vistoso que a cabeleira. Rocha Matos exibe um notável colar de crimes: venda de sentenças, formação de quadrilha, abuso de poder, peculato, lavagem de dinheiro e destruição de provas (como gravações ligadas à morte do prefeito Celso Daniel).

O STF deve achar pouco.

Vá passear, Mares Guia

Único representante do PTB no primeiro escalão, o mineiro Walfrido dos Mares Guia é ministro do Turismo desde o começo do governo. Em três anos, não contemplou o setor que administra com uma única idéia aproveitável. Turismo não é com o ministro. Se acordasse em Foz do Iguaçu, iria às compras no Paraguai sem notar o barulho das cataratas. É bom negociante o político Mares Guia.

Há semanas, liderou na Câmara o esforço para absolver o mensaleiro Romeu Queiroz. Antes que pudesse festejar, o Tribunal de Contas da União descobriu bandalheiras que envolvem contratos de publicidade. Deveria sumir de Brasília e visitar uma das relíquias turísticas ameaçadas de morte por abandono.


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