Entrevista:O Estado inteligente

domingo, dezembro 29, 2013

Mal na fita - MERVAL PEREIRA

A mais recente edição da revista "Foreign Affairs" traz duas análises que se combinam: os países que merecem a atenção dos investidores e aqueles que são os "eternos emergentes" e acabam não realizando as profecias que se fazem sobre eles. Infelizmente o Brasil, que já foi uma das estrelas daquele time de vencedores, passou a essa última categoria.
Entre as novas estrelas, a revista cita México, Coreia do Sul, Polônia, Turquia, Indonésia, Filipinas e países da região do Rio Meckong - Camboja, Laos, Vietnã (a antiga Indochina), Miamar e Tailândia. Há observações cautelosas, por exemplo, sobre a situação da Turquia, onde apontam o primeiro- ministro Erdogan como o responsável pela pujança, mas que também pode ajudar a desconstruir o país com sua tendência ao populismo.

Com relação a alguns desses países, como o México e as Filipinas, a revista cita como um dos pontos favoráveis "um líder político carismático" que entende a necessidade de reformas e tem capacidade de levá-las adiante. Mas Ruchir Sharma, chefe de Mercados Emergentes e de Macroeconomia Global da Morgan Stanley, adverte: esse tipo de líder costuma durar pouco nessas regiões.

Ele escreve artigo para essa edição da "Foreign Affairs" em que alinha os erros de previsão em relação à pujança dos países emergentes, especialmente os que formam o Brics - Brasil, Rússia,Índia, China e África do Sul -, classificado por ele de um acrônimo vistoso, mas sem sentido. Destaca que, por razões diferentes, os países do Brics estão tendo dificuldades, o que mostra que foi um erro tratá-los como um pacote sem rosto, esquecendo as histórias próprias de cada um apenas para justificar o acrônimo.

Os quatro países iniciais que formaram o Brics (tijolo em inglês) - a África do Sul entrou depois, aproveitando o S no idioma inglês - detêm 40% da população e do PIB mundiais, além de representarem 28% da massa terrestre do planeta. Mas, até agora, as discussões entre os Brics têm sido dominadas por temas que os dividem: a representação mais ampla dos países emergentes nas organizações estabelecidas depois da Segunda Guerra Mundial e a questão do protecionismo, especialmente na agricultura. São temas divisionistas, pois dois deles, China e Rússia, estão entrincheirados entre os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. E, no tema do protecionismo, a divisão ocorre em outras linhas, porque o Brasil busca apoio aos seus produtos agrícolas, e a China e a Índia têm o interesse de resguardar sua agricultura familiar.

Sharma cita como um dos principais erros das previsões acreditar que tendências registradas em determinado momento são permanentes "e que economias quentes continuarão quentes", sem levar em conta "a natureza cíclica" dos desenvolvimentos político e econômico". Ele atribui esse comportamento à "euforia" que tomou o lugar de um julgamento sólido". Sobre o Brasil, ele faz algumas observações. Primeiro, que assim como a Indonésia e a Rússia, o Brasil está se apagando graças à "gestão má ou complacente". Outro exemplo em que ele cita o Brasil é quando fala do equilíbrio das contas públicas que é necessário para garantir um crescimento homogêneo para o país: "O Brasil está gastando muito para construir um Estado de bem-estar social para um país com renda média de 11 mil dólares, enquanto a Coreia do Sul, que tem a renda média duas vezes maior que a do Brasil, está gastando muito pouco em programas sociais".

Ele cita também que a desigualdade na distribuição de rendas é muito maior do que deveria ser no Brasil e na África do Sul, enquanto está dentro da normalidade na Polônia e na Coreia do Sul, países incluídos entre aqueles que estão a merecer a atenção dos investidores internacionais.

Quanto a investimentos, ele cita a China como exemplo de uma política que aparentemente é vitoriosa, com cerca de 50% do PIB, mas que corre sério risco devido a obras inúteis, como grandes condomínios abandonados.

Já no Brasil e na Rússia, a falta de investimentos faz com que os serviços urbanos não funcionem, chegando ao cúmulo de, em São Paulo, devido aos constantes engarrafamentos, executivos dependerem de helicópteros para se locomoverem pela cidade.


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