O Estado de S.Paulo - 15/12
Na entrevista publicada nesta edição do Estadão, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a condicionar o desempenho da economia brasileira em 2014 à superação da crise global: "Para mim, a variável-chave é a economia internacional".
É, outra vez, tirar importância dos problemas internos. A crise está pegando forte por aqui porque a economia está desequilibrada, à mercê de muitas distorções.
A indústria brasileira não exporta pouco apenas em consequência da quebra de encomendas pelos países prostrados pela recessão global. Exporta pouco principalmente porque não tem preço e, grande parte das vezes, também não tem qualidade.
Não é verdade que as desonerações e a desvalorização cambial (de cerca de 12% em 2013) tornaram a indústria brasileira mais competitiva. Isso acontecerá apenas quando o chamado custo Brasil for fortemente rebaixado.
O ministro deve estar preocupado mais com o corte de importações de veículos brasileiros impostos pelo governo da Argentina. Isso pouco tem a ver com a crise global. Tem a ver com as mazelas da Argentina.
Ainda assim, a melhora da economia mundial não é uma aposta despropositada. Tudo indica que pelo menos a economia dos Estados Unidos terá um desempenho melhor no ano que vem. Deverá ter avançado 1,8% em 2013 e poderá entregar 2,6% em 2014, conforme apontam as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI). Se for tudo isso, não será pouca coisa.
Mas não dá para transferir automaticamente o possível melhor resultado da economia dos Estados Unidos para o Brasil. O próprio Mantega fala em "trajetória ascendente, mas não linear". Ou seja, o crescimento sustentável não está garantido.
Mantega afirma que não há inflação represada no Brasil. Se é isso, faltou explicar por que os preços administrados pelo governo subiram apenas 0,9% nos últimos 11 meses enquanto a inflação acumulada no período foi de 4,95%. É claro que essa diferença de números apenas acontece porque o governo está adiando reajustes. E isso está especialmente claro no caso dos combustíveis. De um lado, Mantega nega as tais "defasagens" nos preços ao consumidor da gasolina e do diesel, mas, de outro, admite que falta transferir para o varejo o que a Petrobrás pagou a mais pelos combustíveis importados em consequência da alta do dólar em reais: "Aí desalinhou tudo com o câmbio", reconhece.
Há notória disposição do governo em dar maior transparência à administração das contas públicas. A decisão de não usar mais as tais manobras contábeis para enfeitar resultados está no caminho correto.
Outra boa notícia do governo está no propósito de buscar mais solidez nas contas públicas. O ministro avisa que "tem de desmontar essa política anticíclica (de despesas crescentes do governo), porque o mercado tem de caminhar com suas próprias pernas". Falta saber o quanto aguenta essa boa intenção num ano eleitoral, como será 2014.
Na entrevista publicada nesta edição do Estadão, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a condicionar o desempenho da economia brasileira em 2014 à superação da crise global: "Para mim, a variável-chave é a economia internacional".
É, outra vez, tirar importância dos problemas internos. A crise está pegando forte por aqui porque a economia está desequilibrada, à mercê de muitas distorções.
A indústria brasileira não exporta pouco apenas em consequência da quebra de encomendas pelos países prostrados pela recessão global. Exporta pouco principalmente porque não tem preço e, grande parte das vezes, também não tem qualidade.
Não é verdade que as desonerações e a desvalorização cambial (de cerca de 12% em 2013) tornaram a indústria brasileira mais competitiva. Isso acontecerá apenas quando o chamado custo Brasil for fortemente rebaixado.
O ministro deve estar preocupado mais com o corte de importações de veículos brasileiros impostos pelo governo da Argentina. Isso pouco tem a ver com a crise global. Tem a ver com as mazelas da Argentina.
Ainda assim, a melhora da economia mundial não é uma aposta despropositada. Tudo indica que pelo menos a economia dos Estados Unidos terá um desempenho melhor no ano que vem. Deverá ter avançado 1,8% em 2013 e poderá entregar 2,6% em 2014, conforme apontam as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI). Se for tudo isso, não será pouca coisa.
Mas não dá para transferir automaticamente o possível melhor resultado da economia dos Estados Unidos para o Brasil. O próprio Mantega fala em "trajetória ascendente, mas não linear". Ou seja, o crescimento sustentável não está garantido.
Mantega afirma que não há inflação represada no Brasil. Se é isso, faltou explicar por que os preços administrados pelo governo subiram apenas 0,9% nos últimos 11 meses enquanto a inflação acumulada no período foi de 4,95%. É claro que essa diferença de números apenas acontece porque o governo está adiando reajustes. E isso está especialmente claro no caso dos combustíveis. De um lado, Mantega nega as tais "defasagens" nos preços ao consumidor da gasolina e do diesel, mas, de outro, admite que falta transferir para o varejo o que a Petrobrás pagou a mais pelos combustíveis importados em consequência da alta do dólar em reais: "Aí desalinhou tudo com o câmbio", reconhece.
Há notória disposição do governo em dar maior transparência à administração das contas públicas. A decisão de não usar mais as tais manobras contábeis para enfeitar resultados está no caminho correto.
Outra boa notícia do governo está no propósito de buscar mais solidez nas contas públicas. O ministro avisa que "tem de desmontar essa política anticíclica (de despesas crescentes do governo), porque o mercado tem de caminhar com suas próprias pernas". Falta saber o quanto aguenta essa boa intenção num ano eleitoral, como será 2014.