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Creme, luz, ação
A aplicação de uma substância fotossensível torna-se
a primeira opção no tratamento do câncer de pele
Naiara Magalhães
Roberto Setton |
É TUDO MUITO RÁPIDO O médico Marco Antônio de Oliveira, durante uma sessão de terapia fotodinâmica tópica: recuperação em, no máximo, dez dias |
Tudo começou com o que a administradora de empresas Adriana Nunes imaginava ser apenas uma espinha, no lado esquerdo do nariz. O que parecia ser uma acne, porém, sangrava quando era espremida e não secava de jeito nenhum. Uma biópsia indicou que se tratava de um carcinoma basocelular, o mais comum dos tumores de pele. Ao receber a notícia, Adriana temeu não só por sua saúde, mas também pelas cicatrizes que a remoção do câncer poderia deixar em seu rosto. Passados três anos do diagnóstico, ela está curada e não exibe nenhum vestígio do problema. "A única marquinha que tenho deve-se à biópsia", diz. A doença foi vencida sem necessidade de cortes, graças à terapia fotodinâmica tópica. O método consiste na aplicação de um creme à base de ácido aminolevulínico. Exposta a uma luz vermelha, a camada de creme deflagra sobre a pele uma série de reações químicas que causam a morte das células cancerosas (veja o quadro). Dadas a segurança e a simplicidade do método, seu emprego vem sendo ampliado no Brasil. Recentemente, o Ministério da Saúde o avalizou também para o tratamento do carcinoma espinocelular em estágios iniciais. Esse tipo, somado ao basocelular, responde por 95% dos casos da doença no país (só em 2008, foram 115 000 novos registros).
A recuperação dura de sete a dez dias, tempo necessário para que a vermelhidão e o inchaço desapareçam. "Por 48 horas depois da aplicação, é preciso proteger do sol a área tratada", diz o dermatologista Marco Antônio de Oliveira, do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo, e da Sociedade Brasileira de Dermatologia. A restrição está longe de ser um sacrifício, quando comparada com a imposição do procedimento do passado. A terapia fotodinâmica - não tópica - contra o câncer de pele começou a ser usada na década de 60. Naquele tempo, o ácido era administrado sob a forma de injeções. Depois da aplicação, o paciente tinha de ficar uma semana num quarto escuro, até que toda a substância fotossensível fosse eliminada do organismo. "A exposição ao sol ou mesmo à luz doméstica podia levar a queimaduras sérias na pele e nos olhos", diz o dermatologista Carlos Barcaui, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, regional Rio de Janeiro.
Como atinge apenas as camadas mais superficiais da pele, a terapia fotodinâmica tópica não é indicada para o tratamento do melanoma, a forma mais agressiva do câncer de pele. A novidade nesse campo vem do Centro Nacional de Pesquisas Oncológicas de Madri. Em trabalho publicado na última edição da revista científica americana Cancer Cell, os pesquisadores espanhóis anunciam a descoberta de uma substância capaz de desencadear a autodestruição das células de melanoma, por meio da indução da apoptose e da autofagia, dois dos processos naturais de morte celular. O experimento, feito apenas em ratos, poderá abrir caminho para o desenvolvimento de novos remédios contra a doença.