Entrevista:O Estado inteligente

domingo, agosto 30, 2009

ELIO GASPARI O MAPA DO TESOURO DA ILHA DE FURNAS

FOLHA DE S PAULO

Prossegue a caça ao tesouro da Fundação Real Grandeza, o fundo de pensão dos trabalhadores de Furnas, onde há um ervanário de R$ 8 bilhões. Começou a eleição dos três representantes dos funcionários no conselho da instituição. É um um processo que mobiliza 14 mil pessoas e dura cerca de um mês, culminando com a posse dos escolhidos, em outubro, quando termina o mandato da atual diretoria do fundo. O novo conselho escolherá a próxima diretoria.
Numa das últimas reuniões da diretoria de Furnas, que não tem poder sobre o conselho, ouviu-se um curioso comentário: se os conselheiros não atenderem aos desejos de Brasília, a Fundação Real Grandeza sofrerá intervenção da Secretaria de Previdência Complementar.
Caso clássico de ameaça de golpe antes de se saber o resultado de uma votação. Se o Real Grandeza deve sofrer intervenção, ela deveria ter sido feita ontem. Usar essa ameaça para influenciar os conselheiros é coisa de quem quer criar mais uma encrenca, como se não bastassem as existentes.
A principal pressão sobre o Real Grandeza vem da Câmara, mais precisamente, da banda ágil do PMDB, que já perseguiu a diligência em três outras ocasiões. O período de esplendor desse poderio sobre Furnas deu-se entre 2007 e 2008 quando a estatal foi presidida pelo ex-prefeito do Rio Luis Paulo Conde, um arquiteto que se doutorou em artes elétricas sob a orientação do deputado Eduardo Cunha. O PMDB do Rio tenta dominar as arcas de Furnas com tanto afinco que há poucos meses um diretor da estatal recebeu um pedido para fazer do departamento de produção de Campos um pudim de amigos.


"1808", um sucesso de simplicidade e trabalho


A história de d. João 6º chegou a 100 semanas na lista de mais vendidos porque o autor botou o pé na estrada

O "1808", do jornalista Laurentino Gomes, bateu a marca mágica dos sucessos editoriais e entrou na 100ª semana de presença nas listas dos livros mais vendidos. Para quem acha que brasileiro não lê, foram 500 mil exemplares. Na categoria de trabalhos de não-ficção de autores nacionais, a melhor marca está com "Estação Carandiru", do médico Drauzio Varela, lançado em 1999, que chegou a 160 semanas.
Há poucas semanas a professora canadense Margaret MacMillan publicou um livro sobre as atuais dificuldades da historiografia, contando que uma estudante decidiu estudar um período porque ele estava "subteorizado". Laurentino foi na direção oposta. No "1808" não se encontram expressões como "burguesia mercantil" ou "pacto colonial". É uma obra simples, dividida em 29 pequenos capítulos, contando a chegada de d. João 6º ao Brasil. Mostra que ele não foi o paspalho retratado pela burrice convencional.
Por trás do sucesso de "1808" há uma lição. Em 2007, quando Laurentino percebeu o próprio êxito, resolveu cavalgá-lo. Contratou uma assessoria que rastreou as vendas do livro, reinventou a obra lançando uma edição juvenil, um audiolivro, uma caixa com DVD, criou um sítio na internet e entrou no Twitter. Gastou R$ 300 mil do seu bolso (mas ganhou R$ 2 milhões). Deixou o emprego que tinha na Editora Abril e, nas suas palavras, "botei o pé na estrada". Visitou 60 cidades, fez 250 palestras, autografou 5.000 exemplares e respondeu a 10.000 e-mails.
É dura a vida de um autor. Há seis meses ele descobriu (graças aos leitores) que a Editora Planeta rodara 8.000 exemplares embaralhando capítulos de uma biografia de Indira Gandhi. Pior: esse reparte fora mandado para livrarias da internet para ser vendido a R$ 9,90 e acabara em livrarias a R$ 40.
Laurentino publicará em setembro de 2010 seu novo livro, "1822", pela Ediouro. Para recontar a história da Independência, ele foi ao sertão piauiense e visitou o campo da batalha de Jenipapo, em Campo Maior.
Nela morreram 400 brasileiros ignorados pela história. Deles há a lembrança dos túmulos e um monumento de concreto, perdido numa mata de carnaúba.


FISCAIS DA VIÚVA
O ministro Guido Mantega pôs o dedo na ferida ao revelar que, durante sua gestão (mais precisamente, em 2008), fortaleceu-se o setor de fiscalização da Receita Federal sobre instituições financeiras, que "estava carente". Põe carente nisso, até então a Viúva tinha 29 funcionários na fiscalização externa da banca paulista. Apesar dos muxoxos, esse número está em 44 e os novos auditores começaram a trabalhar há poucos meses. Numa atividade que nada tem a ver com o trabalho da Receita, a Prefeitura de São Paulo tem 602 fiscais para vigiar os ônibus fretados.

EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e procura abandonar essa condição acompanhando o programa juvenil "Viva Pitágoras", da TV Cultura de São Paulo, mantida pela Viúva. Na quarta-feira o idiota surpreendeu-se com três interrupções para que se divulgasse a inauguração da "Universidade Virtual" criada pelo governo do Estado. Uma das interrupções durou quatro minutos e propagou um discurso do governador José Serra. Eremildo é um frequentador da TV Brasil, do governo federal e garante que nunca teve o prazer de ouvir Nosso Guia durante quatro minutos ininterruptos. O idiota concorda com Serra: "Não me venham escrever de novo que isso aqui é um lance para a campanha presidencial".

FÉRIAS
Nos próximos quatro domingos o signatário prestará sua solidariedade às centrais sindicais que lutam pela redução da jornada de trabalho, radicalizando a proposta: cumprirá jornadas sem trabalho.

TED KENNEDY
Para quem acredita na eternidade do poder e na memória curta das gentes. No dia 12 de julho de 1973, sendo presidente da República o general Emílio Garrastazu Médici e ministro da Justiça o professor Alfredo Buzaid, a censura emitiu a seguinte nota para a imprensa: "É proibido divulgar as denúncias do senador Edward Kennedy sobre torturas no Brasil".

VAMOS ALMOÇAR?
Está nas livrarias "Kissinger e o Brasil", do professor Matias Spektor. É um estudo exemplar da articulação (fracassada) do secretário de Estado Henry Kissinger para criar uma relação preferencial com o Brasil, entre 1974 e 1977. Poucas vezes uma fase da diplomacia nacional foi pesquisada com tamanha riqueza documental. O livro de Spektor conta dois episódios ilustrativos da displicência com que os americanos tratavam as relações com o Brasil. Em 1974, o vice-presidente Gerald Ford acabara de assumir o lugar de Richard Nixon e tinha uma reunião com o chanceler brasileiro Azeredo da Silveira. Recebera documentos preparatórios para a conversa e Kissinger procurou atualizá-lo. Deu-se o seguinte diálogo:
Ford: "Deixei meu papel na residência."
Kissinger fez o possível: "Geisel é o presidente, Silveira é o ministro das Relações Exteriores".
Noutro lance, Kissinger reuniu-se com o chanceler soviético Andrei Gromiko. O russo estava preocupado com o acordo nuclear assinado pelo Brasil e Alemanha e temia que disso resultassem bombas em Bonn e Brasília. O secretário de Estado americano deu uma resposta tranquilizadora, porém breve, e concluiu: "Vamos almoçar?"

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