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À luz da economia
Por que a "ciência lúgubre" continua a ser
uma arma poderosa da razão e da política
Giuliano Guandalini
Uma ótima – e em nada lúgubre – introdução ao que de mais atual existe sobre o pensamento econômico está no recém-lançado Sob a Lupa do Economista (Campus/Elsevier; 248 páginas; 59,90 reais), de Carlos Eduardo Gonçalves e Mauro Rodrigues. Os autores, ambos jovens professores da USP, tiveram como inspiração sucessos internacionais como Freakonomics e O Economista Clandestino ao escrever um livro divertido e que recorre a exemplos inusitados, muitos deles do cotidiano, para ilustrar conceitos essenciais e apresentar os resultados de pesquisas recentes, sobretudo no campo da economia comportamental. Economistas são usualmente vistos como profissionais que tratam de assuntos de digestão difícil – como taxa de juros, câmbio e contas públicas. Esses temas aparecem nas páginas de Sob a Lupa, mas o livro conta também o que novos estudos têm a dizer sobre fatos tão diversos como a média de gols nos jogos de futebol, o comportamento dos terroristas, os fãs de Harry Potter e as multas de trânsito dos diplomatas que moram em Nova York. O livro é composto de capítulos breves (ou crônicas). O estilo é similar ao de Economia sem Truques, lançado no ano passado e que também teve Gonçalves como um dos autores. O novo livro, no entanto, é mais abrangente e ainda melhor.
No quadro abaixo, há exemplos de alguns episódios narrados no livro e as lições deixadas por eles. Um deles conta como a Revolução Gloriosa (1688) impôs a disciplina fiscal aos monarcas britânicos, permitindo a queda dos juros – exemplo lapidar de como um avanço institucional favorece o crescimento. Outro capítulo conta como o protestantismo estimulou a alfabetização na Europa a partir do século XVI. Mais que a ética protestante de que falou o sociólogo alemão Max Weber, essa teria sido a contribuição fundamental da religião para a ascensão do capitalismo e o desenvolvimento econômico. A insensatez das campanhas de ajuda à África promovidas por celebridades, que redundam em nada por carecer de lógica econômica mínima, é tema de uma crônica ácida. O livro também explica como os erros dos governos (e não apenas a ganância e a irresponsabilidade dos bancos) permitiram que estourasse a crise financeira atual.
Mais que oferecer um compêndio de curiosidades, Sob a Lupa mostra a força da pesquisa econômica como ferramenta da razão – e da política. "Teorizar é divertido", dizem os autores. "Mas teoria sem suporte dos dados va-le pouca coisa, pois na prática quem escolhe o rumo das políticas públicas precisa conhecer a eficácia concreta de cada medida em particular." Apenas essa já seria uma contribuição luminosa dos economistas.
CRÔNICAS ECONÔMICAS E SUAS LIÇÕES
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