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PALOCCI DE VOLTA AO JOGO
O ex-ministro escapa de ação no STF pela quebra de sigilo
do caseiro e vira alternativa do PT para disputar o governo
paulista ou até mesmo substituir Dilma na corrida presidencial
Otávio Cabral
Paulo Fridman /Corbis/Latinstock |
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O fato de ter escapado ileso do processo no STF, porém, não transforma Palocci num dínamo eleitoral. Ministro da Fazenda por três anos, com uma gestão marcada pela responsabilidade fiscal e por bons resultados na economia, ele ganhou o respeito do empresariado e dos banqueiros, sem dúvida um aspecto essencial numa eleição. Com uma fala fácil e macia, ex-coordenador do programa de governo de Lula em 2002 e dono de dois mandatos de deputado federal, o ex-ministro também conhece as refregas eleitorais como poucos. Seu nome une o PT paulista, contrariado com a ameaça de Lula de impor a candidatura de Ciro Gomes ao governo do estado, a ponto de a ex-prefeita Marta Suplicy, candidata natural ao cargo, topar abrir mão da disputa caso Palocci entre no jogo. Mas resta ao ex-ministro, paradoxalmente, livrar-se definitivamente do episódio do caseiro.
A preocupação do PT com o tema é tão grande que o partido dará início a uma série de pesquisas para aferir a força eleitoral do ex-ministro e medir o tamanho do prejuízo causado em sua imagem com o episódio do caseiro Francenildo. Mesmo com a decisão da Justiça em seu favor (por um placar apertado, de 5 a 4), o caso pode provocar sérios estragos numa eleição pelo fato de ser facilmente entendido pelo público. Há outras pedras no caminho de Palocci. Pesquisas realizadas pelo partido mostram, por exemplo, que ele quase não aparece em escolhas espontâneas de candidatos. "Apesar de tudo, nenhuma força política poderia desperdiçar um ministro da Fazenda tão competente, que cumpriu a parte mais dura da política econômica de Lula", afirma o governador de Sergipe, o petista Marcelo Déda. "Palocci virou nosso curinga e estará na disputa eleitoral de 2010. Só não sabemos onde."
A definição sobre quem será o candidato a presidente tem data marcada: março do ano que vem. Lula já não esconde a um número crescente de interlocutores a preocupação com os rumos da candidatura de Dilma Rousseff. A tática de eleição plebiscitária entre um candidato lulista e outro do PSDB, cenário idealizado pelo presidente, caiu por terra com a entrada na disputa de Marina Silva (PV) e, provavelmente, Ciro Gomes (PSB). Lula acha mais fácil eleger Dilma em uma campanha com o debate restrito à continuidade de seu governo ou a volta à era dos tucanos. Em uma disputa com vários candidatos, Dilma terá de apresentar mais do que o apoio de Lula, o que pode ser um problema. Para viabilizar a candidatura, o presidente acha que ela deve atingir 30% das intenções de voto antes do lançamento oficial, previsto para o início do ano. Por fim, apesar dos resultados animadores, a ministra segue em tratamento contra um câncer linfático. "Se até março ela continuar patinando nas pesquisas, com dificuldades políticas e problemas de saúde, Lula poderá substituí-la por Palocci. O tratamento médico servirá de justificativa para essa mudança", afirma um dirigente petista muito simpático à candidatura do ex-ministro.
Jamil Bittar/Reuters |
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Até a escolha definitiva do nome do PT, o Planalto e o partido analisarão os resultados de sondagens qualitativas que serão feitas mensalmente para avaliar a viabilidade eleitoral de Dilma. Na inicial, que já está em andamento, eleitores de todas as idades, escolaridades e níveis de renda assistem em grupo a vídeos nos quais a ministra aparece discursando ou concedendo entrevistas. Os primeiros resultados mostram que grande parte dos eleitores aponta Dilma como "antipática" e "arrogante". Por outro lado, ela é elogiada pela capacidade técnica e competência. Para preservá-la de seus rompantes, o governo está aos poucos transferindo suas atribuições na Casa Civil para uma equipe técnica comandada por Erenice Guerra, sua secretária executiva, e montando uma equipe de campanha para protegê-la de provocações e ataques. A estratégia do governo é priorizar sua participação em inaugurações e lançamentos de projetos ao lado do presidente Lula.
Palocci não estava presente no julgamento que o reabilitou politicamente e que pode tê-lo catapultado para o centro da disputa eleitoral do ano que vem. O ex-ministro preferiu acompanhar pela televisão a sessão de mais de sete horas que resultou no arquivamento de seu processo. O mesmo não se deu com o caseiro Francenildo Costa. Vestindo terno, camisa, gravata e sapato emprestado pelo seu advogado, ele presenciou a sessão sentado na primeira fileira do plenário do tribunal. O caseiro não se levantou da cadeira nem durante o intervalo. Foi embora sem dar declarações. Antes de sair, comentou com o advogado ter ficado decepcionado com a sentença e criticou a ausência daquele que considera ser o mentor da quebra do seu sigilo bancário. Francenildo disse que queria ter visto o ex-ministro de perto. Para esse eleitor, pelo menos, o passado de Palocci é incancelável.
Paulo Pinto/AE |
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