Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 29, 2009

Brasil e Argentina: realidades distintas

Lá, a bagunça é maior

Não é apenas a seleção que vai mal na Argentina.
A falta de dinheiro atrasou o início do campeonato
nacional e Cristina fez o mais inusitado: estatizou
as transmissões pela TV


Duda Teixeira


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As seleções do Brasil e da Argentina se enfrentam pelas eliminatórias da Copa do Mundo no próximo sábado, 5, em Rosário, no interior do país vizinho. O time do técnico Dunga é o líder da competição na América do Sul. Já a equipe de Diego Maradona amarga a última posição na zona de classificação do torneio. Ainda que o placar de um único jogo – sobretudo do principal clássico sul-americano – seja sempre imprevisível, a explicação para a diferença no histórico recente das duas equipes pode estar nos campeonatos nacionais, a primeira escala dos candidatos a integrar uma seleção. Aí, o Brasil dá de goleada. Uma enorme crise obrigou a Associação de Futebol Argentino (AFA) a adiar o início do campeonato nacional em uma semana. O motivo foi a impossibilidade de os clubes saldarem suas dívidas com o Fisco, com os jogadores e com os outros clubes. O campeonato finalmente começou na segunda metade de agosto – mas a confusão está longe de ser resolvida. Para piorar o clima caótico, a presidente Cristina Kirchner entrou em campo com uma jogada populista. Com o apoio do cartola-chefe da AFA, Julio Grondona, ela simplesmente estatizou as transmissões das partidas pela televisão. O governo vai pagar o dobro do que pagava o antigo proprietário dos direitos de transmissão. O dinheiro extra, que será um alívio para os clubes, também significa um afago eleitoreiro nas torcidas. Não é só aí que Cristina quer sair ganhando. Ela também dá uma rasteira no grupo Clarín, que faz oposição e havia dezoito anos tinha os direitos para a TV. A dívida do futebol argentino é menor que a do brasileiro – mas as aparências podem enganar. "A falta de transparência na Argentina é ainda maior do que aqui", diz Amir Somoggi, da consultoria esportiva Casual Auditores, em São Paulo. "Isso faz suspeitar que a dívida deles pode ser bem maior do que o que é admitido.
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Quem é quem

Todo brasileiro que gosta de futebol odeia perder da Argentina. E vice-versa. A rivalidade se apoia em uma razão simples: ambos acreditam ter a melhor seleção do mundo. Juntas, as seleções já venceram sete das 18 Copas do Mundo, além de 22 edições da Copa América. O equilíbrio entre as equipes é tão grande que, pelos dados da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em 92 confrontos, o Brasil tem 36 vitórias contra 33 da Argentina. São 23 empates e os argentinos têm um gol a mais (146 a 145) - até agosto de 2009. A seguir temas que marcam a história deste clássico mundial.


Goleiros: Julio César (Inter de Milão/Itália) e Victor (Grêmio/Brasil)

Defensores: Daniel Alves (Barcelona/Espanha), André Santos (Fenerbahçe/Turquia), Maicon (Inter de Milão/Itália), Filipe (Deportivo La Coruña/Espanha), Lúcio (Inter de Milão/Itália), Juan (Roma/Itália), Luisão (Benfica/Portugal) e Miranda (São Paulo/Brasil)
Meio-campistas: Felipe Melo (Juventus/Itália), Elano (Galatasaray/Turquia), Gilberto Silva (Panathinaikos/Grécia), Julio Baptista (Roma/Itália), Kaká (Real Madrid/Espanha), Lucas (Liverpool/Inglaterra), Ramires (Benfica/Portugal) e Sandro (Internacional/Brasil)
Atacantes: Robinho (Manchester City/Inglaterra), Adriano (Flamengo/Brasil), Luis Fabiano (Sevilla/Espanha) e Nilmar (Villareal/Espanha)

Goleiros: Juan Pablo Carrizo (Zaragoza/Espanha), Mariano Andujar (Catania/Itália) e Sergio Romero (AZ Alkmaar/Holanda)
Defensores: Javier Zanetti (Inter/Itália), Nicolás Pareja (Espanyol/Espanha), Fabricio Coloccini (Newcastle/Inglaterra), Gabriel Heinze (Olympique de Marselha/França) e Nicolás Burdisso (Inter/Itália)
Meio-campistas: Fernando Gago (Real Madrid/Espanha), Javier Mascherano (Liverpool/Inglaterra), Maxi Rodríguez (Atlético Madri/Espanha), Jesús Dátolo (Napoli/Itália) e Jonás Gutiérrez (Newcastle/Inglaterra)
Atacantes: Carlos Tévez (Manchester City/Inglaterra), Lionel Messi (Barcelona/Espanha), Sergio Agüero (Atlético de Madri/Espanha), Diego Milito (Inter/Itália), Lisandro López (Olympique Lyon/França) e Ezequiel Lavezzi (Napoli/Itália)

Principal seleção de futebol do planeta, o Brasil é conhecido por revelar jogadores como Pelé, Garrincha, Ronaldo, Romário, Zico e outras dezenas.Tem cinco títulos de Copa do Mundo (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002), oito de Copa América e duas Copas das Confederações, é o maior vencedor da história do futebol. Falta porém, a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos.

Escola de futebol

Uma das seleções mais bem-sucedidas do mundo, já conquistou os quatro grandes títulos do futebol: Copa do Mundo (1978 e 1986), Jogos Olímpicos (2004 e 2008), Copa das Confederações (1992) e seu campeonato continental (14 títulos da Copa América). Também é um país famoso por revelar grandes jogadores, como Di Stéfano, Maradona e Messi.

Foram três partidas. A primeira aconteceu na Copa de 1982, quando o time comandado por Telê Santana derrotou a rival por 3 a 1. Em 2004, foi a vez de vencer os argentinos na Copa América, quando o time B de Carlos Alberto Parreira bateu a equipe principal adversária nos pênaltis. Em 2007, o Brasil, de novo com elenco reserva, venceu a favorita Argentina por 3 a 0 na mesma competição.

Vitória mais marcante sobre o rival

Para um brasileiro, é impossível esquecer o drible de Caniggia sobre Taffarel, eliminando o Brasil da Copa da Itália, nas oitavas de final, em 1990. O jogo estava disputado, quando Maradona deu uma de suas arrancadas, driblou os volantes brasileiros e colocou a bola no pé de Caniggia. O atacante deixou Taffarel no chão e empurrou a bola para o gol. Desta forma, a Argentina despachou o grande rival para casa.

Brasil 6 x 2 Argentina – Rio de Janeiro –
Copa Roca (20/12/1945)

Maior goleada

Argentina 6 x 1 Brasil – Buenos Aires –
Copa Roca (5/3/1940)

Os brasileiros venceram dois dos quatro confrontos contra a Argentina em Copas e um acabou empatado. A primeira vitória foi em 1974, na Alemanha Ocidental, por 2 a 1, com gols de Rivelino e Jairzinho. No segundo jogo, nada de gol, 0 a 0 em Rosário, na Argentina, em 1978. O Brasil foi eliminado sem perder – o Peru facilitou a vida dos argentinos e foi goleado por 6 a 0, placar que eliminou o Brasil. A Argentina venceu a Holanda na final e tornou-se campeã. Quatro anos depois, o time de Telê Santana venceu por 3 a 1.

Confrontos em Copa do Mundo

A única vitória da Argentina sobre o Brasil em Copas do Mundo pode ser considerada a mais importante da história de rivalidades entre as duas equipes. Até então, nenhuma das duas seleções havia eliminado a outra de uma Copa em um confronto direto. O Brasil fazia a melhor partida de sua pífia apresentação em 1990, no Mundial da Itália. No segundo tempo, porém, Maradona fez uma bela jogada e lançou o atacante Caniggia. O argentino driblou o goleiro Taffarel e marcou o gol da eliminação brasileira.

O Brasil foi cinco vezes campeão da Copa do Mundo (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002), três vezes da Copa das Confederações (1997, 2005 e 2009) e oito vezes da Copa América (1919, 1922, 1949, 1989, 1997, 1999, 2004 e 2007).
Títulos mais importantes

A Argentina é bicampeã mundial (1978 e 1986), campeão da Copa das Confederações (1992), bicampeã Olímpica (2004 e 2008) e 14 vezes campeã da Copa América (1921, 1925, 1927, 1929, 1937, 1941, 1945, 1946, 1947, 1955, 1957, 1959, 1991 e 1993).

Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, é considerado o maior jogador de todos os tempos – exceto pelos argentinos. Em sua carreira, conquistou três Copas do Mundo e fez 1.375 gols. Em 2000, o brasileiro foi eleito pela Fifa o melhor jogador do século XX, à frente do craque argentino Diego Maradona.

Principal jogador do país

Diego Armando Maradona é considerado pelos argentinos o maior jogador da história do futebol. O craque foi responsável pelo título argentino da Copa de 1986 – foi o autor de um dos gols mais bonitos da história das Copas e também de um gol de mão. Na Copa de 1994, nos EUA, foi pego no antidoping.

Kaká

Ricardo Izecson dos Santos Leite, de 27 anos, ganhou destaque no futebol no São Paulo a partir de 2001. Foi reserva da Copa do Mundo em 2002. Encerrado o Mundial, tornou-se meia-atacante titular do Brasil. Em 2003, foi para o Milan, da Itália. Em 2009, foi vendido ao Real Madrid pelo equivalente a 180 milhões de reais – um dos maiores valores já pagos por um jogador de futebol. Entre 2001 e 2009, Kaká venceu os principais campeonatos do mundo. Pelo Milan, conquistou títulos como o Campeonato Italiano (2004), Liga dos Campeões (2007) e Mundial de Clubes (2007). Pela seleção, a Copa do Mundo (2002) e a Copa das Confederações (2005 e 2009). Kaká foi ainda escolhido o melhor jogador do mundo (2007), melhor jogador do Mundial de Clubes da Fifa (2007), Bola de Ouro da revista France Football (2007) e melhor jogador da Copa das Confederações (2009).

Melhor jogador em atividade

Lionel Messi

Lionel Andrés Messi, maior astro argentino no momento, nasceu em 1987 e é apontado por alguns críticos como o sucessor de Maradona. Conhecido por sua habilidade, foi contratado pelo Barcelona quando tinha apenas 13 anos. Desde então, passou por todas as categorias de base do time espanhol até chegar, aos 16 anos, ao time principal. No Mundial Sub-20, em 2005, foi campeão com a Argentina, além de artilheiro e eleito o melhor atleta do campeonato. Em 2006, Messi disputou a Copa do Mundo da Alemanha e, em 2007, foi escolhido o segundo melhor jogador do planeta, perdendo o prêmio da Fifa para Kaká. Na temporada 2008/2009, voltou a brilhar: foi campeão olímpico e o principal jogar do Barcelona na conquista da Champions League e do Campeonato Espanhol. O argentino é considerado o favorito para a escolha de melhor jogador do mundo neste ano.

A maior série invicta do Brasil sobre a Argentina aconteceu entre março de 1970 e julho de 1982: as duas equipes se enfrentaram 13 vezes, com oito vitórias do Brasil e cinco empates.

Maior série invicta

A Argentina ficou seis jogos sem perder para o Brasil. Entre dezembro de 1923 e janeiro de 1939, os hermanosvenceram cinco jogos e empataram um com a seleção canarinho.

O atacante Adriano é um dos maiores carrascos da Argentina. Em 2004, o Brasil perdia a decisão da Copa América, quando Adriano, aos 47 do segundo tempo, empatou. A decisão foi para os pênaltis e o Brasil venceu. No ano seguinte, o atacante fez dois gols na vitória por 4 a 1 na final da Copa das Confederações . Outros brasileiros que marcaram seus nomes no clássico foram Pelé, Rivaldo e Ronaldo.

'Carrascos' dos rivais

Pelo lado dos argentinos, o maior carrasco do Brasil é sem sombra de dúvidas o ex-atacante Caniggia. O argentino foi o responsável pela eliminação do Brasil na Copa do Mundo da Itália, em 1990. Outros quatro jogadores argentinos conseguiram marcar três gols em uma mesma partida contra o Brasil. São eles: Seoane (1925), Peucelli (1940), Méndez (1945) e Sanfilippo (1959).

"'Argentina vice' tem treze letras"
Zagallo, ex-técnico da seleção brasileira e notório supersticioso, em alusão ao número 13, seu símbolo de sorte.
Frases
“Eles têm o futebol alegre e vistoso, enquanto nós temos garra e jogadores muito bons. Eu digo que não há melhores, estamos os dois, cabeça a cabeça”
Maradona, ex-craque e técnico da seleção argentina.


Fotos Jr Couto/Tyba, Mauricio Lima/AFP, The Images Bank/Getty Images, Editorial Perfil, Juan Mabromata/AFP/Getty Images

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