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UM BRASILEIRO EM LAZYTOWN
Acesso a telefone e internet e almoços e jantares
com pratos da cozinha internacional: a vida mansa
do ex-cirurgião plástico Hosmany Ramos, condenado
por assassinato e tráfico, numa prisão da Islândia
Gabriele Jimenez
Vania Delpoio/Diario SP/Ag. O Globo |
O PRESO Hosmany quer asilo político |
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"O senhor Hosmany Ramos se encontra?" Essa foi a pergunta feita, em inglês, pela reportagem de VEJA, na semana passada, ao guarda que atendeu à ligação da revista no presídio de Reykjavik, na Islândia. "Um momento, por favor", respondeu o carcereiro, enquanto transferia a chamada para uma cela reservada. Pouco depois, surgia uma voz animada: "Alô? É o Hosmany, pode falar!". Preso na ilha gelada, Hosmany Ramos, o ex-cirurgião plástico rico e badalado que abraçou o crime, escrevia mais um capítulo de sua história de vaudeville. Condenado por homicídio, roubo, sequestro e tráfico de drogas, ele está foragido da Justiça brasileira desde janeiro, quando avisou à imprensa que aproveitaria uma saída temporária para fugir da cadeia. A polícia não levou sua ameaça a sério e ele, de fato, desapareceu.
Ao telefone, Hosmany relatou sua fuga: "Fui ao Amapá, cruzei o Oiapoque e cheguei à Guiana Francesa. De lá, embarquei para a França e fiz um tour pela Europa. Passei um tempo na Noruega, onde vive meu filho". E como, afinal, ele foi parar em uma cadeia islandesa? "Vim para cá de propósito. Estava procurando um país para viver. Queria um lugar que me inspirasse. Pensei no Havaí, mas, quando li sobre a Islândia e suas lendas, decidi." Hosmany diz ter planejado a própria captura como parte de um plano mirabolante: ele quer pedir asilo político alegando sofrer perseguição no Brasil. Acredita que, em cana, atrairá atenção para sua causa. Por isso, embarcou para a Islândia com o passaporte de um irmão que já morreu. Ele garante que queria ser pego pela imigração islandesa.
"Eu pesquisei: aqui, toda cela é individual, com TV. Você pode ter iPod, acesso a internet e, claro, receber telefonemas. É um modelo de presídio. O Brasil deveria copiar", conta Hosmany. Ele está entusiasmado com sua rotina ("depois do almoço, dou uma caminhadinha, descanso, faço um lanche e vou tomar sol") e com a cozinha ("hoje teve chicken curry com três tipos de salada, chocolate e uma sopa russa de beterraba. A comida é especial"). Enquanto ele goza das benesses do sistema carcerário islandês, o Ministério da Justiça tenta obter sua extradição. O problema é que o Brasil não tem esse tipo de acordo com a Islândia. Como ele não cometeu nenhum crime grave naquele país, pode simplesmente ser mandado de volta para a Noruega, de onde havia embarcado. Para convencer os islandeses a mantê-lo em Lazytown, Hosmany oferece até sua experiência de cirurgião. "Aqui faltam médicos, árbitros de futebol e escritores", diz o foragido, que não tem problemas com a falta de vergonha.
A CADEIA Para o assassino, a prisão islandesa é "um modelo" a ser copiado |