Na véspera da festa do pré-sal, ainda era medonha a confusão sobre quem vai deter o capital da maior empresa do Brasil |
A HISTÓRIA do aumento do capital da Petrobras começou a vazar em agosto de 2008 (uma empresa aumenta seu capital quando vende novas ações: fica "maior" e com "mais dinheiro"). Em março de 2009, ouvia-se, aqui e noutras páginas, que o governo compraria de "R$ 40 bilhões a R$ 70 bilhões" das novas ações da Petrobras.
Quitaria a operação por meio da transferência de blocos do pré-sal para a Petrobras, áreas não licitadas nem avaliadas. Ou, então, a Petrobras não precisaria pagar dividendos à União até a quitação do negócio. Ou, ainda, o governo federal faria dívida para comprar ações e, assim, reestatizar parte da empresa.
A amplitude da estimativa e dos esquemas de financiamento ilustra o tamanho dos delírios brasilienses, para nem mencionar a dificuldade de quitar a compra de ações por meio de um ativo do qual não se conhece nem o tamanho nem o preço (as tais áreas do pré-sal).
Em abril, a troca de ações pelas reservas "havia sido descartada por Lula". A capitalização também deixava de ser líquida e certa: "era muito lobby da Petrobras", dizia um ministro. Mas, em julho, Lula de novo "queria prestigiar a estatal". Na verdade, havia se decidido que a empresa teria papel relevante na gerência e na exploração de todas as áreas do pré-sal, o que demandaria capital extra em quantidade que a Petrobras não seria capaz de levantar no mercado por meio de mais dívida.
No final de julho, um ministro dizia que a capitalização seria de "R$ 30 bilhões a R$ 80 bilhões" (sic), e, outra vez, que a União pagaria as novas ações com as áreas do pré-sal.
Nesta semana, houve relatos de que a capitalização poderia ser de até R$ 100 bilhões. Um ministro da área econômica, tão (ou tão mal) inteirado como outros da comissão do pré-sal, dizia na sexta que "isso [R$ 100 bilhões] é só o que a Petrobras quer".
Então chegamos na véspera da festa da campanha do pré-sal nesta confusão a respeito do que será da maior empresa do país e da Bolsa;
que investe tanto ou mais que o governo federal; que tem o maior plano quinquenal de investimentos do mundo, empresa que será, aparentemente, dominante no pré-sal.
Não se sabe se o governo vai reestatizar parte da Petrobras "no grito", superfaturando reservas incógnitas do pré-sal, ficando assim com ações demais. Ou se o governo pode comprar as ações por meio de endividamento, dívida que seria paga quando e se se soubesse o valor das áreas do pré-sal que seriam transferidas à Petrobras. Quantos áreas teriam de ser entregues à estatal? Vai ser uma graça ver como essa conta vai ser feita.
Outra graça vai ser um bloco de uns 2 milhões de ações sendo ofertado no mercado de uma só vez.
Se a capitalização vier e se houver respeito aos acionistas minoritários, o valor da empresa pode até dobrar (na sexta, valia R$ 320 bilhões). Se os minoritários não tiverem dinheiro bastante, podem sofrer uma diluição pesada (sua fatia no capital cai, assim como seus rendimentos).
Levando a mixórdia da discussão a um dos absurdos que a confusão do governo permite, o que será do câmbio se estrangeiros em massa comprarem ações da estatal? E tudo é discutido à matroca, com vazamentos disparatados a respeito de uma empresa que está na Bolsa.