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A rendição dos gauleses
A Biblioteca Nacional da França negocia acordo com o Google
AFP |
ACERVO UNIVERSAL Uma das salas de leitura da Biblioteca Nacional da França: a digitalização dos livros anda devagar |
Quando lançaram o Google Book Search – site que abriu ao usuá-rio da internet o acesso a milhões de livros, digitalizados a partir do acervo de 29 grandes bibliotecas –, os americanos Sergey Brin e Larry Page, criadores do Google, não domaram a ambição. Seu propósito era "tornar acessível a qualquer internauta o texto de todos os livros do mundo". Depois de processarem o Google por violações de direitos autorais, as editoras americanas acabaram entrando em acordo com o gigante da internet (o Departamento de Justiça americano está fazendo a revisão final desse acerto). Agora, cai mais uma frente de resistência, talvez a mais obstinada: a França. Sempre cioso dos avanços imperialistas da cultura americana, o país propôs uma biblioteca virtual europeia (que não chegou a sair do chão) para se contrapor ao Google. Na época, Jean-Nöel Jeanneney, presidente da Biblioteca Nacional da França (BNF), alertou para a investida contra a cultura europeia. Desde então, a direção da BNF mudou – e, na semana passada, os irredutíveis gauleses capitularam: em entrevista ao jornal de economia La Tribune, Denis Bruckmann, diretor de coleções da BNF, admitiu que um contrato com o Google deverá ser fechado nos próximos meses. O gigante da internet incluiria o acervo francês no Google Book Search e, em troca, aceleraria a digitalização dos livros.
O site da BNF já oferece obras digitalizadas na biblioteca virtual Gallica. A expectativa é que o Google incremente a musculatura econômica do projeto. O Gallica conta com um aporte anual de 5 milhões de euros do governo francês, mas, para digitalizar apenas os livros da III República – de 1870 a 1940 –, estima-se que seriam necessários 80 milhões de euros. "Se o Google nos permite ir mais rápido e mais longe, por que não?", disse Bruckmann. Os franceses advertem que o Google terá acesso apenas a obras de domínio público, que não estão cobertas por direito autoral (o Google Book Search, aliás, oferece acesso apenas parcial ao texto de livros protegidos por direito autoral). Os franceses receberam a notícia do possível acordo com reticência. O escritor Pierre Assouline, que mantém um blog literário no site do jornal Le Monde, mostrou desconfiança quanto à gratuidade da grande biblioteca Google – não seria, argumentou, uma iniciativa "desinteressada". O editor Alain Kouck, da Editis, a segunda maior editora francesa, fez um chamado para uma "frente unida" europeia contra os avanços do Google. Discutir ganhos financeiros num negócio desse tipo faz todo o sentido, mas a patriotada, francamente, carece de substância. O que está no Google, hoje, não é americano – é universal.