Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 22, 2009

MILLÔR

da Veja

BON VOYAGE!

A verdade é que a Grande Aventura, quando "ir era bom", virou um hediondo voo charter.

II Depois de viajar algumas vezes você constatará, invejoso, que suas malas viajaram muito mais e foram a lugares muito mais interessantes do que você.

III Se você for assistir a uma tourada em Madri, só compreenderá o significado da "hora da verdade" no momento em que verificar a conta do restaurante.

IV De repente você cai (toc!, toc!) num desses voos – pacote-econômico-ponto-a-ponto – tão miseráveis que, na hora da pane no avião, o comandante organiza uma raspadinha pra ver quem é sorteado pros seis paraquedas.

E não fique preocupado em correr atrás de todas as obras de arte recomendadas por guias e críticos. Quem viu uma Capela Sistina viu todas.

VI Há viagens "organizadas" tão horrendas que os passageiros ficam o tempo todo esperando que apareça um grupo terrorista se responsabilizando por elas.

VII Os burocratas brasileiros vivem chiando com a "má imagem" que a mídia estrangeira faz do Brasil. Não seria mais esperto colocar no calendário turístico os assaltos a velhos, pedofilia generalizada e balas perdidas?

VIII Em certas águas do Oriente Médio invadidas pela indústria petrolífera, a dúvida penetra na fé: afinal, Cristo caminhou mesmo sobre as águas ou passeou tranquilamente sobre a solidez da poluição?

IX Se você for veranear num desses belíssimos Cayman, Bahamas et cetera, tenha muito cuidado ao cair n'água. As águas desses "paraísos fiscais", como sói, estão infestadas de tubarões.

X Quando você está numa estrada de país latino do Terceiro Mundo (não é o nosso!) e o informante lhe diz que, para chegar "lá", você tem de tomar cuidado com a ponte meio destruída, desviar da lama que desce dos morros carregando casas, não passar no vilarejo que sofre um surto de dengue e evitar a estrada em que criancinhas apedrejam carros para assaltar, é que você compreende a sabedoria de sua vó: "Boa romaria faz quem em sua casa fica em paz".

(Claro, se sua vó fosse viva saberia muito bem que mesmo em casa a paz foi pro brejo. Mas isso é outra vaca.)

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