Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 29, 2009

ZUENIR VENTURA - Como sofre um protocolo

O ESTADO DE S PAULO

Cada um de vocês deve ter uma história parecida, mas peço licença para contar a minha. Há algumas semanas, a Light fez um conserto numa galeria aqui na minha rua e deixou a tampa de ferro solta. Toda vez que um carro passava sobre ela, e isso era o dia inteiro, o barulho assustava e, de noite, acordava os moradores. Como havia também o perigo de a peça ser lançada pelos ares sobre a cabeça de alguém, liguei na segunda-feira para a emergência da companhia. Uma bela voz gravada me recebeu: "Bem-vindo ao disqueLight emergência. Tecle 1 para o atendimento de emergência referente à falta de luz, oscilação na rede, fios partidos, anormalidades na rede elétrica que envolvam meio ambiente ou obter informação sobre desligamento programado.

Tecle 7 para denúncias. Sua ligação é anônima para denunciar ligações irregulares e fraudes na rede elétrica ou obter informações sobre funcionários e prestadores de serviço. Tecle 9 para falar com um de nossos atendentes." Teclei 9, expus o caso a uma delicada moça e ela disse que ia abrir um protocolo — 20091631333 — e que uma equipe iria ao local. "Em quanto tempo?", perguntei. "Em mais ou menos 200 minutos." Já achei estranho o cálculo; por que não em horas ou dias? Me senti na Inglaterra. No Brasil, isso dava umas três horas. Quando se completaram 1.440 minutos, ou seja, 24 horas, voltei a telefonar.

Forneci mais uma vez os dados pedidos — nome, CPF — e outra atendente, meio impaciente, avisou que a reclamação já estava anotada (soube que outras pessoas haviam ligado também). E por que nada fora feito? Em vez de responder, ela abriu um novo protocolo, o 20091633385.

Passados mais 1.440 minutos, eu, isto é, o 20091633385 telefonou de novo, "Só um minuto", ela disse, e um sinal de ocupado substituiu sua voz. Aguardei um bom tempo, desliguei, liguei, e o ritual recomeçou: "Bem-vindo..." Quando a atendente apareceu, repeti o meu número e, enfim, uma novidade. Ela informou que uma equipe tinha comparecido ao local no dia 25, terça, e o caso estava sendo submetido a uma "análise técnica".

Perguntei com ironia se ela ia abrir um novo protocolo, e ela a sério disse que sim. Ainda esperei por minha nova identidade, mas o sinal de ocupado me fez desistir definitivamente.

Na quinta-feira, apareceu na rua um carro da Cedae, e um morador teve a bela ideia de fazer um pedido insólito: que um dos técnicos da companhia de água desse uma olhada no buraco da companhia de luz. Em poucos minutos, sem precisar de análise técnica, ele descobriu e resolveu o problema. Era um parafuso solto.

Moral da história: quando precisar da Light, chame a Cedae.

À medida que a polícia aperta o cerco ao tráfico de drogas nas favelas, aumentam os assaltos no asfalto, a exemplo do que se observa agora. Como resolver esse impasse?

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