Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 08, 2009

Conjuntura O estímulo à troca de carros e eletrodomésticos

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LATA VELHA VALE DÓLAR

Nos Estados Unidos, faz sucesso o programa em que
o governo dá até 4 500 dólares para os donos aposentarem
seus carros antigos e comprarem um zero-quilômetro


Luís Guilherme Barrucho

Rebecca Cook/Reuters
"DINHEIRO PELA SUCATA"
Revendedor americano oferece a troca de veículos com o subsídio do governo: estímulo ao fim dos antigos beberrões


Já imaginou ganhar um desconto de até 4 500 dólares (ou quase 9 000 reais) para trocar um carro caindo aos pedaços por um modelo último tipo? A proposta faz parte do mais recente esforço do governo americano para estimular as vendas de sua combalida indústria automobilística. Apelidado de cash for clunkers, ou "dinheiro por sucata", o programa tornou-se sucesso imediato nos Estados Unidos. Previsto para se estender até novembro, durou apenas uma semana. Motivo: a verba inicial, de 1 bilhão de dólares, evaporou, tamanho o interesse dos americanos em se livrar de suas latas velhas. O Congresso acabou aprovando em caráter de urgência, na semana passada, um pacote extra de 2 bilhões de dólares para garantir a sobrevida do projeto. A prova de seu êxito está nas vendas de julho, que cresceram 16% em relação às do mês anterior. Mais de 180 000 veículos foram emplacados por causa da troca das sucatas. Além de combater a recessão, o programa tem o objetivo de contribuir com a redução da emissão de gases do efeito estufa ao subsidiar a troca de veículos beberrões por modelos mais eficientes.

A ideia não surgiu nos Estados Unidos. Há programas semelhantes na Europa. Na Alemanha, as vendas cresceram 40% desde que o projeto foi adotado, em fevereiro deste ano. França e Inglaterra também apresentaram resultados positivos. A troca só pode ser feita por modelos novos, mais econômicos e menos poluidores. Nos Estados Unidos, ao entregar a lata velha, o cliente ganha um desconto que pode ser de 3 500 ou 4 500 dólares, proporcional à diferença de consumo entre o automóvel antigo e o novo. O governo tomou medidas para evitar que os carros velhos fossem revendidos no mercado paralelo e continuassem a circular, como ocorreu na Alemanha. O revendedor é obrigado a inutilizar o motor do veículo antigo, despejando, dentro do motor, uma solução de silicato de sódio (veja o quadro). Depois de aquecido, esse produto se solidifica e trava o motor.

Apesar da popularidade do cash for clunkers, economistas são céticos em relação à sua eficácia. "Certamente, muitos consumidores foram apenas estimulados a antecipar uma decisão de compra. Por isso, é muito cedo para dizer se há realmente uma retomada duradoura da indústria", afirmou a VEJA Rick Larrick, professor de administração da Universidade Duke. Além disso, ironicamente, as três grandes montadoras americanas não foram as mais favorecidas pelo programa: entre os cinco veículos mais vendidos, quatro são produzidos por fabricantes de origem japonesa, ainda que nos Estados Unidos. Juntas, as vendas da Chrysler, da GM e da Ford somaram menos da metade do total.

Já os ambientalistas aprovaram a ideia, apesar de seus benefícios mínimos na despoluição do ar. Segundo o Departamento de Transportes americano, o total das trocas de carro feitas até agora resultou numa economia de 60% de combustível em relação aos veículos antigos. Isso equivale a 700 000 toneladas de gás carbônico que deixarão de ser lançadas na atmosfera, um quase nada em comparação com os 6 bilhões de toneladas que os Estados Unidos emitem a cada ano. A expectativa, no entanto, é que o programa represente um duro golpe à cultura dos veículos grandes e beberrões - o que, até certo ponto, tem sido observado na quantidade de carros híbridos vendidos. "É uma vitória, mas muito tímida. A proposta foi muito mais estimular as vendas do que preservar o meio ambiente. A redução de gás carbônico serviu de argumento político para vender o programa", afirmou a VEJA Dan Sperling, professor de ciência e política ambientais da Universidade da Califórnia, em Davis.

O governo brasileiro poderia se inspirar, ao menos em parte, no projeto americano. Aqui o estímulo à indústria automobilística ocorreu por meio de redução de impostos, mas nada foi feito para que os carros velhos e malconservados deixem de circular. Sem essas latas velhas, extremamente poluidoras e que vivem quebrando, o trânsito e a qualidade do ar nas grandes cidades sairiam ganhando.

A TÉCNICA PARA "MATAR" UM CARRO

Como os americanos inutilizam o motor dos automóveis

Damian Dovarganes/AP


1)
 Todo o óleo do motor é retirado

2) O cárter é preenchido com aproximadamente meio galão (1,9 litro) de uma solução desilicato de sódio, conhecida como "vidro líquido". Cada galão custa em torno de 11 dólares (20 reais)

3) O motor é acionado. Aquecida, a solução se cristaliza, travando o motor

4) Depois de uma hora, tenta-se ligar o motor novamente. Se, por algum milagre, ele funcionar, os passos de 1 a 3 são repetidos

Fonte: Ricardo Bock, professor da FEI

 

Geladeira antiga é fria

Istockphoto
CONTA MAIS CARA
Refrigerador velho gasta até 40% de energia a mais


O governo brasileiro tem seu projeto antivelharia focado nas geladeiras. Desde o ano passado, discute-se a implantação de um programa para incentivar as famílias a trocar seus refrigeradores em mau estado por outros novinhos em folha. O objetivo, com isso, é reduzir o consumo de eletricidade - e ajudar o país a escapar de um novo apagão. Geladeiras com mais de dez anos gastam até 40% mais energia. Pela proposta, seria concedido um desconto de 150 reais no ato da troca. A loja deverá recolher o refrigerador velho e ficará encarregada de transportar o produto descartado até um depósito, onde será recolhido pelo fabricante, que o encaminhará para empresas de reciclagem. O governo fala em substituir mais de 10 milhões de aparelhos.

No momento, o projeto permanece em banho-maria. Isso porque, até outubro, os produtos da linha branca contam com uma diminuição de 10 pontos porcentuais na alíquota do imposto sobre produtos industrializados (IPI), numa medida anticrise. A expectativa dos fabricantes é que as discussões sejam retomadas em setembro. "A atual redução de impostos levou a uma queda de uns 100 reais, em média, nos preços e permitiu uma resposta muita boa das vendas. Imagino que será ainda melhor com o desconto de 150 reais", afirma Armando Ennes do Valle Jr., diretor de relações institucionais da Whirl-pool Latin America, que fabrica as marcas Brastemp e Consul.

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