Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, agosto 25, 2009

O fator político Celso Ming


O Estado de S. Paulo - 25/08/2009
 
 
Brasília sempre foi a capital das lambanças, mas a aproximação das eleições tende a aumentá-las.

Não foram os comentaristas econômicos que levantaram a questão do risco eleitoral para a economia do País. Foi o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que alertou para isso.

Mas até que ponto o comportamento dos políticos e os movimentos de poder podem desarrumar a economia brasileira e levar os agentes a buscar refúgio no dólar e a puxar os juros para cima? 

Afinal, 2002 foi bem diferente, e pior, do que será 2010. Em 2002, a cotação do dólar foi a R$ 4,00; agora, está no R$ 1,80 e provavelmente não estará muito diferente dessa faixa em 2010. Em 2002, as reservas externas eram de apenas US$ 38 bilhões; hoje são de US$ 214 bilhões e, em 2010, certamente estarão mais perto dos US$ 250 bilhões. 

Em 2002, os juros básicos (Selic) foram atirados a 25% ao ano; hoje estão a 8,75% e estarão provavelmente apenas um pouco mais altos em 2010.

Em 2002, o Investimento Estrangeiro Direto não passou dos US$ 19 bilhões; neste ano será de US$ 25 bilhões e, no ano que vem, deve ficar um pouco acima desse nível. Além disso, o Brasil é credor líquido do resto do mundo, ostenta o certificado de grau de investimento e, mesmo que cresça zero por cento em 2009, será o quinto ou o sexto país com melhor desempenho do Planeta. Em 2010, o setor produtivo terá tudo para crescer perto de 4% ao ano.

Quando se fala em risco político, são três seus principais focos. O primeiro deles é puramente eleitoral. A pretexto de exercer uma política anticíclica (controle da crise), o governo federal já está aumentando desmesuradamente suas despesas ordinárias. Apenas neste ano, já cresceram 17%. Na ânsia de mostrar serviço para o eleitor, pode puxar ainda mais. É visível a perda de qualidade da área fiscal do governo Lula. Na hipótese de se complicar o quadro eleitoral, essa perda poderá ser mais acentuada.

O segundo risco político diz respeito à questão da governabilidade. Para conseguir maioria no Congresso, o governo Lula faz concessões de toda ordem e impressionante exercício de contorcionismo político. Já que não quer ou não pode construir uma base política com o PSDB, o governo do PT e do presidente Lula elegeu como companheiros de luta os senadores José Sarney, Renan Calheiros e Fernando Collor. É gente de biografia tão edificante que deixou o PT confuso a ponto de não mais distinguir o que é irrevogável do que não é, como o senador Aloizio Mercadante acaba de demonstrar.

O terceiro risco resvala para a definição da política macroeconômica a partir de 2011. Não se trata apenas de saber quem vai ser o presidente do Banco Central, mas, também, de saber até que ponto as vigas mestras da política econômica, como o câmbio flutuante e o sistema de metas, serão mantidas e que grau de autonomia terá o Banco Central na condução da política de juros.

É verdade que aumentou a percepção de que responsabilidade fiscal e estabilidade de preços são fatores que garantem apoio e legitimação, ajudando qualquer governo a não brincar em serviço. E repetir que o que deu certo tem de continuar não elimina os riscos. Mas, decisivamente, há um nível de incerteza no ar e seu impacto sobre a economia não pode ser desprezado

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