Entrevista:O Estado inteligente

domingo, setembro 07, 2008

DANUZA LEÃO Alegrias e tristezas



Numa reunião familiar, por mais alegre que ela seja, a presença maior é a dos ausentes

EU NÃO GOSTO de reuniões familiares, e por isso sempre me achei diferente dos outros -no pior sentido, claro. Como a maioria das pessoas se prepara para os aniversários, os Natais (ah, os Natais!), como curtem, com que prazer fazem a lista dos presentes, compram as comidas natalinas, sempre as mesmas, e curtem o dia em que a família estará toda reunida. Tenho inveja dessas pessoas e culpa por, diante dos meus filhos e netos, nunca ter feito um Natal de verdade, isto é, por não ter sido (e continuar não sendo) uma boa mãe. Mas é acima das minhas forças. No meu aniversário eu me escondo, se puder viajo, e se alguém me disser parabéns, sou capaz de ter uma coisa.
Aliás, já passei dessa fase. Podem me desejar todos os parabéns que quiserem que não estou nem aí.
Sempre achei que isso tinha a ver com a maneira como fui criada. Na casa dos meus pais sempre foi assim, não se ligava para essas datas. No meu casamento compareceram apenas minha mãe, meu pai e meu marido, evidentemente, que só levou dois amigos ao cartório. Me casei com uma saia xadrez e um suéter, e não houve bolo, champagne nem lua-de-mel. Para mim isso me pareceu -e ainda parece- absolutamente natural, e nada me fez falta.
Mas existem ocasiões das quais não se escapa. O casamento de um filho ou de um neto, por exemplo.
Como não há como escapar, entro no clima, e durante a festa fico até bem feliz de ver a família reunida, todos alegres de estarem juntos. E reflito sobre quantas pessoas ali são fruto de um casamento tão simples, como foi o meu. Fazendo as contas, dez pessoas. Inacreditável.
Todos nos abraçamos, nos beijamos, brindamos, nos emocionamos, e depois que chego em casa, sozinha, me vem uma enorme tristeza. Uma tristeza que não consigo compreender e que dura dias, semanas. Mais do que uma tristeza: entro quase em depressão. Penso, penso, lembro de como estavam todos tão felizes, inclusive eu, e não sei por que estou tão mal. Mas da última vez, de tanto pensar, acho que entendi.
Numa reunião familiar, por mais alegre que ela seja, por mais que estejam todos reunidos, a presença maior é a dos ausentes. Os que deviam estar lá mas não estão porque já se foram, e mesmo que não se esteja pensando neles, é a falta que eles fazem que nos faz ficar tão tristes.
Alegria e tristeza juntas não dão certo, e as lágrimas de emoção, inevitáveis, vêm mais da tristeza do que da simples emoção de ver um dos seus se casando, começando uma vida.
Não dá para compartilhar essa tristeza com ninguém, para não contaminar a alegria dos outros. Você sofre, e sofre só.
Outros casamentos e aniversários vão vir, e a cada vez essa tristeza vai se repetir. Mas agora eu sei a razão pela qual não gosto -e evito quando posso, o que não é sempre -as reuniões familiares. Já sei que não é porque sou diferente dos outros, apenas porque me protejo do sofrimento inevitável, que vem depois.
E como agora -e só agora- descobri isso, me sinto mais livre para, pelo menos no Natal, tomar um avião e ir para bem longe, sem culpa, porque evitar o sofrimento é permitido e recomendável.
E se não puder fazer isso, um bom comprimido para dormir, e no dia seguinte já passou.

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