Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 16, 2008

VEJA Carta ao leitor

O desafio da qualidade

Pedro Rubens

É uma conquista civilizatória para o Brasil ter a imensa maioria das crianças em idade escolar com acesso às salas de aula, merenda e recebendo de graça do governo a cada ano mais de 100 milhões de livros didáticos. Está vencida a barreira da quantidade. Agora, chegou o momento de enfrentar um desafio mais complexo, o do aumento drástico da qualidade da educação. Não se pode aceitar mais que os sistemas educacionais público e privado continuem produzindo estudantes incapazes de compreender um texto e de realizar com destreza as operações aritméticas, portais de uma vida profissional e pessoal plena.

Nesse campo, felizmente, depois de décadas de negligência surgem os primeiros e incipientes sinais de que a curva da qualidade está começando a inflexionar para cima. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), indicador do MEC para aferir o nível do ensino, deu sinais de melhora. Em 2007, a nota média das primeiras séries do ensino fundamental foi 4,2. Em 2005, havia sido apenas 3,8. As notas no Enem, prova aplicada pelo MEC aos estudantes do ensino médio, também avançaram. De 37 para 51 (em uma escala de 0 a 100). Uma melhora, portanto, de 38%. Bom? Sem dúvida. Suficiente? Nem pensar. No último ranking internacional mais respeitado, os estudantes do Brasil aparecem em situações vexaminosas – 53º lugar em matemática e 52º em ciências em uma lista de 57 países.

Para que a curva da qualidade se mantenha em alta, uma série de condições precisa ser preenchida. Uma reportagem da presente edição de VEJA aponta algumas delas. A mais importante brotou de uma pesquisa encomendada pela revista ao CNT/Sensus e diz respeito ao grau de consciência de que o ensino vai mal. Essa consciência simplesmente não existe. A pesquisa revela que 90% dos professores se acham muito bem preparados para dar aulas e que 89% dos pais com filhos em escolas particulares consideram que eles estão recebendo educação adequada. A experiência internacional mostra que a mediocridade se perpetua enquanto os pais acreditam que o sistema está uma maravilha. Não está. É hora de acordar e cobrar.

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