Para o Brasil, é uma notícia auspiciosa, pois, como país isolado, os EUA continuam sendo nosso maior mercado importador e o primeiro parceiro mundial - US$ 49,3 bilhões anualizados em julho, seguido pela China, US$ 31,9 bilhões.
É A CHINA, COMPANHEIRO...
Os economistas fora dos quadros do governo, que o presidente regularmente consulta, mostraram-se durante a semana preocupados com os efeitos da desaceleração americana sobre nossa economia. Certo, mas agora deveriam preocupar-se mais com a China. Afinal, estamos convivendo há mais um ano com a retração americana e não estamos nos saindo tão mal. Só não sabemos o que pode acontecer se a China - e, conseqüentemente, a Ásia e outros países dos quais importa - parar de crescer a 10% ao ano.
Nossa relação com ela é ambígua. A China nos ajuda e incomoda. Atrapalha porque nos rouba mercado externo e compete com seus produtos no mercado interno; ajuda porque importa o que temos e, ao crescer, beneficia não só a nós, mas outros parceiros comerciais do Brasil.
A ECONOMIA MUNDIAL ESTÁ INDO BEM
As notícias da semana são ótimas. Primeiro, o governo chinês deu sinais de que vai investir bilhões de dólares para incentivar a demanda interna e compensar a retração do mercado externo. Segundo, o Japão anunciou que vai injetar US$ 107 bilhões para ressuscitar a economia há dez anos agonizante. E terceiro, essa notável recuperação americana, que parece estar sacudindo as cinzas e querendo dar a volta por cima. Mas, pode mesmo?
Para responder a essa pergunta, economistas e analistas americanos buscavam as causa da ainda suspeita retomada do PIB. Afinal, não seria um fenômenos esporádico e virá um terceiro trimestre arrasador?
Sim, poderia não dar certo se ela se devesse só ao aumento do consumo interno, que pode ser passageiro. É verdade que o governo entregou dinheiro aos consumidores, que saíram comprando, mas isso acaba; é verdade que a Bolsa se recuperou, trazendo recursos para pequenos e médios investidores. Mas, argumentavam, não se pode confiar na Bolsa; a situação é instável, tanto pode continuar em alta como levar um tombo.
Outro fator de dúvida é a inflação, que corrói salários e renda. E aqui vão pesar os preços das commodities e a evolução dos preços do petróleo, hoje imprevisível. Finalmente, não se sabe como o Fed (o banco central americano) vai reagir, se estimula a economia, reduzindo o juro, ou se dará prioridade à inflação, se ela passar de 6%.
Os indicadores do segundo trimestre mostram que o salto do PIB se deveu essencialmente ao aumento das exportações. Elas aportaram à economia US$ 85,4 bilhões, ou seja, 3,1% mais que no período anterior, quando a receita das vendas ficou em US$ 66,8 bilhões.
Isso, entre outros fatores, permitiu que as empresas lucrassem US$ 1,361 trilhão, após dedução dos impostos. O aumento foi de 1%. É pouco? No primeiro trimestre o lucro havia caído 7,7%. É um bom resultado, que anima as empresas na Bolsa e na economia, mesmo se considerarmos que, em 12 meses, o lucro das empresas declinou 5,9%. Já foi pior.
HÁ UMA PEDRA NO CAMINHO
Sim, há uma pedra no meio do caminho; pequena, por enquanto, mas poder aumentar. O que estamos vendo hoje é:
1. As exportações estão proporcionando a retomada da economia americana. Elas aumentaram 13,2% no segundo trimestre ante 5,1% no primeiro.
2. Isso somente poderá ser mantido se os países importadores, principalmente emergentes e em desenvolvimento, continuarem comprando.
3. Aqui, a pedra: as importações americanas recuaram 7,6%, mais do que os 6,6% do primeiro trimestre.
Conclusão: se o ritmo de exportação americana continuar crescendo e o da importação recuando, os emergentes e em desenvolvimento - nós - terão menos espaço nos EUA. Além disso, perderão competitividade para produtos americanos, beneficiados pela desvalorização do dólar, que reduz os seus preços reais e aumenta os nossos. Isso poderá afetar o crescimento dos emergentes que, paradoxalmente, sustentam o da economia americana e mundial.
Para esse desafio, economistas apontavam como saída três caminhos para todos: estimular e fortalecer a demanda, o mercado interno, para reduzir a dependência do exterior; enfrentar a inflação; administrar as conseqüências da alta do petróleo sobre a inflação.
Mesmo assim, haverá forte pressão inflacionária, como vemos hoje. Para isso, economistas têm uma receita nada agradável. Conhecida, mas pouco lembrada: alta de preços se cura com a alta de preços...
Se eles aumentarem muito, as pessoas compram menos, sobram produtos e os preços caem... E aí entra o empurrão da alta de juros dos bancos centrais. Vejam o nosso caso. Está dando certo. Um tratamento doloroso e perverso, pois passa por desaceleração às vezes forte do crescimento econômico. É o que está acontecendo no mundo. Também. Mas não é nada que não se possa suportar.