Entrevista:O Estado inteligente

domingo, agosto 24, 2008

Merval Pereira Toque de pragmatismo

NOVA YORK. A convenção do Partido Democrata começa hoje em Denver, no Colorado, com Barack Obama se posicionando em um novo patamar, com a escolha do senador Joe Biden como seu companheiro de chapa. Anunciado na madrugada de ontem por uma mensagem eletrônica para uma rede de potenciais 2 milhões de eleitores-contribuintes da campanha, a escolha significa que Obama decidiu dar à sua candidatura um caráter mais institucional, reforçando um dos pontos fracos percebidos pelo eleitorado, sua inexperiência em política externa. O senador Biden preside a poderosa Comissão de Relações Exteriores do Senado, e é um reconhecido especialista no assunto.

O próprio Biden, antes de desistir da postulação à presidência logo no início das primárias, baseava sua candidatura no Partido Democrata nessa experiência, e chegou a questionar a capacidade de Obama de se impor diante de líderes mundiais.
Já naquela época, ele perguntou em um debate: “Quem de nós tem condições de pegar o telefone e conversar com Putin para dizer-lhe que deixe a Geórgia em paz, porque Saakashvili está com um grande problema? Eu tenho 35 anos de experiência”.
Conhecido por ser um político “brutalmente franco”, o senador por Delaware chegou a dizer, em outra oportunidade, que Obama poderia vir a estar preparado para o cargo, mas que não estava até aquele momento.
E arrematou: “A Presidência não é uma coisa que você pode aprender fazendo”.
Mas Biden foi se aproximando de Obama durante a campanha eleitoral, e nos últimos meses já havia claramente aderido àqueles que consideram o candidato democrata a melhor opção. Chegou mesmo a criticar duramente o presidente Bush que, em Israel, fez um comentário sobre a incapacidade de Obama de se impor diante do Irã.
A escolha do senador Joe Biden, por outro lado, retira da candidatura de Obama aquele ar de mudança fora da influência do establishment político de Washington, o que pode frustrar alguma parcela de seus eleitores.
Mas, numa corrida tão apertada quanto a que se delineia, predominou na escolha o pragmatismo de ter como companheiro de chapa alguém que esvazie as críticas sobre a inexperiência em um setor estratégico para o país, o que está sendo muito bem explorado pelo adversário, o republicano John McCain.
Na recente crise da Geórgia com a Rússia, por exemplo, o candidato democrata perdeu muitos pontos junto ao eleitorado, devido a sua posição inicial muito cautelosa, na opinião da maioria. A presença de Biden na chapa faz com que McCain veja pelo menos neutralizada uma de suas vantagens comparativas mais importantes até o momento.
Joe Biden, durante a campanha, já havia dito que o país não precisa de um “comandanteem-chefe” e um “herói de guerra”, mas um líder “com sabedoria” para enfrentar as difíceis decisões.
O senador John McCain tem, agora, pelo menos mais uma semana para anunciar seu companheiro de chapa, pois a convenção republicana só começa no próximo dia 1º de setembro, em St Paul.
O mais provável é que ele escolha também um antigo adversário, Mitt Romney. A escolha do candidato a vice-presidente era uma ação estratégica mais importante para o democrata Barack Obama do que será para John McCain, embora a idade do republicano seja um motivo de apreensão quanto à sua candidatura.
McCain fará 72 anos por esses dias e será, se eleito, o mais velho presidente dos Estados Unidos em primeiro mandato. Havia a especulação de que ele não concorreria a uma eventual reeleição, o que aumentaria a importância de seu vice, mas o próprio McCain se encarregou de desmentir essa hipótese.

Entrando na reta final, a eleição americana está na dependência, segundo as análises mais diversas, de cerca de dez a quinze estados onde estarão em disputa algumas centenas de votos decisivos de delegados, numa eleição em que é preciso obter 270 votos para vencer, num colégio eleitoral de 538 delegados.
Segundo a projeção da CNN, o democrata Barack Obama já teria assegurado 221 votos, enquanto McCain teria 189 delegados.
Os onze estados em que a situação estaria indefinida valeriam 128 votos.
Eles são os seguintes: Flórida, Ohio, Minnesota, Iowa, Nevada, Novo México, New Hampshire, Colorado, Missouri, Michigan e Virgínia.
Já a análise política da consultoria brasileira Tendências, realizada por João Pedro Ribeiro e Rogério Schmitt, aponta dez estados como os que vão decidir a eleição.
Eles colocam entre os estados que podem mudar o voto Pensilvânia, Wisconsin e Oregon, e não concordam com a CNN em relação aos estados de Colorado, Missouri, Michigan e Virgínia.
Esses estados onde é considerada possível a alteração demonstram um comportamento errático do eleitorado no histórico das eleições, e tanto podem pender para um lado quanto para o outro.
Um exemplo claro é o estado de Nevada, que tem cinco delegados. Votou em Bush nas eleições de 2000 e 2004, e hoje tende para Obama. Também em Iowa, onde votam sete delegados, verifica-se uma tendência inconstante.
Em 2000, o estado elegeu Al Gore, para em 2004 apoiar a reeleição de Bush. Hoje, a tendência é para Barack Obama.

E-mail para esta coluna: merval@oglobo.com.br

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