Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, agosto 27, 2008

RAPOSA SERRA DO SOL: ENTRE A REALIDADE E A MISTIFICAÇÃO ONGUEIRA

Blog Reinaldo Azevedo
O Supremo começa a decidir hoje a espinhosa questão de Raposa Serra do Sol.

É bom que nos lembremos sempre: o que está na origem da pendenga é a tentativa do governo e de ONGs, que representam a minoria dos índios que vivem na área, de expulsar da região arrozeiros que ocupam não mais do que 0,7% de incríveis 1,7 milhão de hectares. No que é uma estreita faixa de terra, dado o conjunto, produzem quase 160 mil toneladas de arroz. Ainda que se mantenha a demarcação contínua de Raposa Serra do Sol, por que eles têm de sair?
Alguém poderia se apressar e responder: “Porque a terra é dos índios”. A rigor, toda a terra brasileira é. Aquele pedaço de Roraima pertence, CONSTITUCIONALMENTE, à União. Quem definiu que se deveria estabelecer ali uma reserva contínua não foi a natureza, mas a política.

É uma política obviamente errada porque responde com uma mistificação à realidade: da forma como foi demarcada a reserva, até parece que os poucos milhares de índios que ali vivem — algo entre 12 mil e 17 mil, ninguém sabe — são nômades e não-aculturados. E isso é obviamente falso. Há índios pecuaristas; há índios universitários; há índios que trabalham nas fazendas de arroz; há índios operários; há índios agricultores; há índios casados com brancas, mestiças e negras; há índias casadas com brancos, mestiços e negros; há índios católicos; há índios evangélicos...
Estamos falando de um pedaço do Brasil que é... um pedaço do Brasil (!!!), não um experimento perturbado de alguns Rousseaus de si mesmos espalhados na reserva.

No dia 4 de agosto, escrevi o texto que segue abaixo, em azul. Acho que estão postas aí as linhas gerais do que está em debate. Publiquei também o vídeo que está lá no alto, que demonstra como é que o estado de direito foi filtrado e corrompido pela militância política em Roraima.
*
Conhecem Tarso Genro, o ministro da Justiça que quer rever a Lei da Anistia para punir apenas aqueles que ele considera seus adversários? Pois bem. Ele é também o chefe da Polícia Federal e comandou pessoalmente a operação para expulsar os arrozeiros da reserva Raposa Serra do Sol, como todos sabem. Sim, são aqueles fazendeiros que ocupam apenas 0,7% da área, onde produzem, anualmente, 152 mil toneladas de arroz, consideradas vitais para o abastecimento da Região Norte do país, segundo o próprio Ministério da Agricultura.

Tarso, fica claro a cada dia, é um perigo para a democracia. Resta evidente que ele se aproveita das licenças concedidas pelo estado de direito para transgredi-lo e para turvar a democracia. Não conhecíamos, até agora, detalhes da ação da PF em Raposa Serra do Sol. Vimos apenas o que publicou uma imprensa notavelmente bem-comportada (com o governo), que já tinha elegido (é o certo no caso, não “eleito’) os seus bandidos e os seus mocinhos. Como é usual no Brasil, quem produz um alfinete que seja corre o risco de ir parar atrás das grades.

Pois bem. Clique na imagem acima para ver o vídeo ou neste endereço. Vocês verão aí índios indignados com a ação cinematográfica da Polícia Federal. Uma indígena pede até a presença de Lula no local para poder comê-lo “assado”. Não faça isso, minha boa silvícola... Se você não quiser ver o vídeo inteiro, essa passagem está entre 2min43s e 3min38s. Outra mulher, também índia, deixa claro que a PF usa como base de operação a “missão” (3min57s-4min35s). A “missão” é um dos aparelhos do Conselho Indigenista Missionário que há na região, financiado por ONGs e ligado à CIR — Conselho Indígena de Roraima, entidade que recebe dinheiro, entre outros, da Fundação Ford e que representa a minoria dos índios locais. Adiante.

Até aí, nenhuma novidade. Vale a pena ver o vídeo todo para ressaltar o ridículo de Tarso Genro e de seus homens de preto. Mas uma passagem, em especial, merece ser apreciada: a invasão da Fazenda Canadá, a partir de 6min31s. Os agentes chegam, e se trava, então, o seguinte diálogo:

PROPRIETARIO – Tem mandado judicial?
POLICIAL – Negativo.
PROPRIETÁRIO – Não tem mandado judicial?
POLICIAL – Não temos mandado judicial.
PROPRIETÁRIO – Então eu não vou permitir vocês entrarem sem mandado judicial.
POLICIAL – Então nós vamos entrar à força.
PROPRIETÁRIO – Perfeitamente.
POLICIAL – Como está sendo feito em outras propriedades também.
SEGUNDO POLICIAL – O sr. pode esclarecer como o sr. vai resistir a isso?
PROPRIETÁRIO – Posso, posso, eu vou resistir...
SEGUNDO POLICIAL – Como?
PROPRIETÁRIO – Eu vou resistir dentro da legalidade, na Justiça.
SEGUNDO POLICIAL – O sr. vai resistir de alguma outra forma?
PROPRIETÁRIO – Eu vou resistir dentro da legalidade, na Justiça.
SEGUNDO POLICIAL – Ok. Tudo bem.
E os meganhas cortam o cadeado e invadem a fazenda. Sem mandado judicial.

O diálogo acima é por demais eloqüente. Dispensa grandes considerações Observem, se vocês quiserem um motivo adicional para indignação, que, mesmo depois de o proprietário ter deixado claro que vai resistir na Justiça, há uma espécie de provocação, tentando induzi-lo a dizer algo que caracterize resistência ativa à ação policial — o que, certamente, levaria a PF a fazer o que fez com outro fazendeiro: meter-lhe algemas nos braços.

Este é o estado policial de Tarso Genro. Como vocês bem sabem, a questão tramitava e tramita na Justiça, e os agentes federais jamais poderiam ter invadido uma propriedade sem mandado judicial. Como? “Não é propriedade”? “É tudo dos índios”? A questão, reitero, está sub judice. É mais um abuso de autoridade patrocinado pelo ministro da Justiça.

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