Derrota na criatividade
O Brasil está atrás na corrida da inovação
Duda Teixeira
Selmy Yassuda |
GARGALOS TECNOLÓGICOS A Silvestre Laboratórios, do Rio de Janeiro: dificuldade para atrair investidores externos |
"Desenvolvido pela Apple na Califórnia, fabricado na China." Com esses dizeres estampados na embalagem de seus iPods, a empresa americana deixa claro qual é a nova realidade da divisão de trabalho: alguns países têm as idéias, outros as executam. Quem ganha a maior fatia dos lucros? Aquele que teve a idéia, claro. Os Estados Unidos, o Japão e a Alemanha são alguns dos países que estão deixando para trás a condição de sociedades industriais para se tornar economias do conhecimento. A ambição dos países emergentes é seguir pelo mesmo caminho. Segundo um relatório da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI) divulgado no mês passado, o Brasil está perdendo essa corrida. O país está apenas na 21ª posição no ranking de pedidos de patentes internacionais. China, Índia e Coréia do Sul têm se mostrado muito mais eficientes (veja o gráfico).
A situação é paradoxal, pois o Brasil tem grande potencial científico, sobretudo no setor de biotecnologia. Alguns gargalos ajudam a explicar por que os avanços são pequenos. Um deles são as rígidas normas para coibir a biopirataria. Qualquer pesquisa com ser vivo precisa de aprovação de um órgão do governo, um processo lento. Embora tenha feito esforços para se tornar mais produtivo, o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), órgão que controla as patentes no país, ainda leva em média 7,2 anos para aprovar um pedido, enquanto no resto do mundo a demora é de 2,4 anos. Esse intervalo aumenta a chance de competidores colocarem impunemente imitações no mercado. O receio de que isso aconteça faz com que muitos empresários hesitem em investir em pesquisas. O Itamaraty também atrapalha. Apesar das garantias existentes desde 1997, no exterior o governo mantém uma postura ideológica que dá às empresas estrangeiras a impressão de que o Brasil não respeita a propriedade intelectual. Um exemplo é a defesa que nossos diplomatas fazem na OMPI do direito de os países em desenvolvimento usarem, sem pagar, inovações alheias. Na Organização Mundial de Saúde, o Itamaraty argumenta a favor da quebra de patentes de remédios contra a aids. Isso faz com que muitas empresas estrangeiras, as quais poderiam produzir tecnologia no Brasil, prefiram se instalar em ambientes mais seguros.