NOVA YORK. A recente aquisição pela Inbev, uma empresa multinacional belgo-brasileira, da cervejaria Anheuser-Busch, produtora da Budweiser, a mais tradicional cerveja dos Estados Unidos, provocou protestos até mesmo do candidato democrata à Presidência Barack Obama que, no afã de atrair a simpatia dos eleitores do Missouri, estado de maioria republicana, pediu um esforço de empresários americanos para não deixar que a tradicional cervejaria fosse vendida a estrangeiros. A sede da nova empresa continuará sendo em St. Louis, cidade que abrigará a convenção do Partido Republicano que escolherá John McCain o candidato a presidente.
A aquisição, porém, é apenas mais um reflexo do que o economista Cláudio R.
Frischtak, presidente da Inter B Consultoria Internacional de Negócios, classifica de “novo paradigma”: para ele, o mundo, longe de “plano” — como o definiu Thomas Friedman para explicar a capacidade das economias emergentes de competir de igual para igual no mundo globalizado —, está ficando de “cabeça para baixo”.
“Nesse mundo invertido, as economias emergentes e em desenvolvimento não apenas irão se tornar dominantes nas exportações mundiais em poucos anos, ou (em paridade de poder de compra) suplantar as economias avançadas; suas empresas se tornarão — e já estão se transformando — atores relevantes na economia global, desafiando os incumbentes que dominaram a cena internacional no século 20”, analisa ele.
O Brasil faz parte relevante desse movimento, porém, diz Frischtak, as empresas nacionais no seu conjunto — quando comparadas a de outras economias emergentes — apresentam ainda uma “transnacionalização incipiente”.
Segundo o economista, em um estudo intitulado “A Nova Competição Global e a Transnacionalização das Empresas Brasileiras”, “o país conta com um conjunto crescente de empresas que vêm funcionando como vetores de investimentos externos, e cujo processo de expansão internacional vem sendo direcionado fundamentalmente pela necessidade de sustentar e acelerar seu crescimento”.
Pela sua análise, de modo geral, este movimento tem fortalecido as empresas e se refletido em “maior produtividade, capacidade de inovação e melhoria no custo e estrutura de capital”.
Cláudio Frischtak considera a compra da AnheuserBusch pela Inbev bastante significativa, “não apenas pelo fato de a cervejaria ‘belgobrasileira’ adquirir um símbolo do poder empresarial americano, mas por sugerir que talvez estejamos testemunhando o início de uma lenta decadência relativa da economia americana, com o enfraquecimento do dólar, fator crítico na compra pela Inbev, junto com a ainda admirável liquidez dos mercados, e o empobrecimento da classe média”.
A professora da Fundação Dom Cabral Betania Tanure de Barros, psicóloga com especialização em gestão empresarial e desenvolvimento organizacional, é uma especialista em mercados internacionais, e chama a atenção para o fato de que, ao construir a Inbev, uma associação da belga Inbrew com a brasileira Ambev, houve “uma rara estratégia de integração cultural”, que ela denomina de “Movimento Reverso”, no qual predominam as características culturais da empresa adquirida, no caso, a gestão por executivos brasileiros.
Betânia Tanure tem feito trabalhos profundos em empresas brasileiras como Sadia, Samarco, Gerdau, Natura, que estão em fase de transformação do seu estilo de gestão para viabilizar um processo de crescimento vigoroso com base na internacionalização, “um processo complexo que envolve muitos riscos, mas também grandes oportunidades”.
Ela vê a presença maior de multinacionais de países emergentes no mercado mundial como “uma terceira onda”, conseqüência do impacto das forças da globalização que trouxe mudanças significativas no comportamento das empresas em todo o mundo.
“Após grandes ondas de expansão internacional das corporações americanas e européias do final do século XIX e do pós-guerra (no segundo caso, incluindo japonesas), estamos observando uma terceira onda de multinacionalização de empresas, dessa vez originária de países emergentes, inclusive do Brasil”, constata ela, citando empresas como Ambev, Embraer, Gerdau, Petrobras, Sabó e Weg como formadoras de um grupo pioneiro que procura crescer e sobreviver neste novo ambiente globalizado.
As motivações das empresas brasileiras podem ser resumidas nos seguintes pontos, segundo um levantamento coordenado por Betânia Tanure:
1) Desejo de crescer, pela saturação do mercado doméstico, ou simplesmente pela busca de novas oportunidades.
2) Marcar presença em mercados estratégicos, estar mais próxima dos seus clientes globais e adquirir a confiabilidade.
3) Necessidade de competir com os melhores do mundo e/ou de estar entre os líderes do mercado.
4) Busca de economia de escala.
5) Possibilidade de reduzir o custo de capital.
Segundo Cláudio R. Frischtak, o apoio à globalização é consistente com o interesse público e “há razões econômicas para se apoiar a internacionalização das empresas nacionais”, pois sua atuação traz benefícios, seja em termos de exportação — volume e preço —, seja em termos da criação de empregos de qualidade, ou ainda esforço inovador, dentre outros.
A maioria dos países da OCDE e número crescente de emergentes apóia a internacionalização de suas empresas de forma multidimensional.
(Continua amanhã)
Entrevista:O Estado inteligente
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