O Estado de S. Paulo EDITORIAL,
Nove em cada dez empresas forçadas a competir no mercado interno adotaram alguma estratégia para enfrentar a nova situação, segundo a pesquisa. Entre as exportadoras, 78% buscaram soluções para aumentar suas vendas. A resposta número um apontada por 50% das empresas foi cortar custos e elevar a produtividade, tanto para se defender internamente quanto para concorrer no exterior. Para competir no mercado nacional, 35% escolheram o investimento em qualidade e desenho e 34% apostaram na redução de preços e de margens. Outras soluções, como diferenciação de marca e lançamento de novos produtos, também foram consideradas. Para batalhar no exterior, a busca de novos mercados foi a segunda estratégia mais valorizada: 45% dos entrevistados apontaram essa resposta. Várias soluções mercadológicas também foram adotadas, como investimento na qualidade e na diferenciação de marca, e o conjunto de ações variou de acordo com os setores e com o tamanho das empresas.
As empresas, portanto, não estão paradas, e muito menos passivas diante das novas condições de competição ditadas em grande parte pela valorização do real. Mas sua possibilidade de reagir é limitada. Podem comprar novas máquinas, mais modernas e mais eficientes, e mudar seus padrões de produção, mas não basta elevar a produtividade no interior da fábrica, quando fatores fora de seu alcance afetam as condições de concorrência. Também não basta economizar em todos os componentes de sua atividade e eliminar até a última gordura, quando custos externos, como impostos e contribuições em excesso, elevam os custos finais.
O relatório da CNI não examina esses pontos. Apenas dá uma idéia geral de como o câmbio valorizado prejudica as empresas, dificultando sua atuação nos mercados interno e externo, e aponta as estratégias de sobrevivência e de competição adotadas por indústrias de vários segmentos e diferentes tamanhos.
Mas o câmbio é apenas parte do problema e nem seria um fator tão importante, se as empresas não fossem afetadas pelo excesso de custos de um ambiente institucional desfavorável à eficiência do sistema produtivo. Em quase tudo as indústrias brasileiras têm de enfrentar problemas de pouco peso para os mais importantes competidores estrangeiros.
Seus impostos e contribuições são geralmente mais altos. A burocracia estatal é quase sempre mais pesada. Qualquer processo judicial é demorado e a incerteza jurídica é elevada. A insegurança pública impõe despesas absurdas. O precário sistema educacional limita a oferta de mão-de-obra mesmo com qualificações limitadas. A infra-estrutura é pobre e ineficiente - e a melhora, se ocorrer, será lenta, a julgar pelo ritmo dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Tudo isso combina com o custo crescente da eletricidade, uma conseqüência dos tropeços na formulação e na execução dos planos do setor energético.
Sem alterações significativas nessa paisagem, o poder de competição das empresas continuará a depender perigosamente do câmbio. Mas o dólar dificilmente voltará a subir de forma significativa enquanto os juros permanecerem elevados. E os juros não cairão enquanto o combate à inflação depender somente da política monetária, sem uma contenção efetiva do gasto público.