Entrevista:O Estado inteligente

domingo, agosto 31, 2008

Os estragos do câmbio

O Estado de S. Paulo EDITORIAL,


Com o dólar barato e a demanda elevada, o superávit comercial encolhe, enquanto as importações continuam crescendo muito mais velozmente que as exportações. Neste ano, até 24 de agosto, o valor exportado alcançou US$ 126 bilhões, 27,3% mais do que um ano antes. No mesmo período, o valor importado aumentou 51,6% e chegou a US$ 110,1 bilhões. Mas a balança comercial mostra apenas uma parte do problema enfrentado pelos produtores nacionais. As empresas brasileiras perdem negócios tanto no exterior quanto no País por causa do real valorizado, segundo pesquisa divulgada na quarta-feira pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Metade das companhias exportadoras deixou de exportar ou teve reduzida sua participação no mercado internacional nos últimos 12 meses. Dois terços das indústrias sujeitas à concorrência estrangeira perderam fatias do mercado nacional nesse período. Internamente, as mais afetadas foram as empresas pequenas, menos preparadas para enfrentar competidoras de fora, mas companhias de todos os tamanhos acusaram dificuldades causadas pelo câmbio.

Nove em cada dez empresas forçadas a competir no mercado interno adotaram alguma estratégia para enfrentar a nova situação, segundo a pesquisa. Entre as exportadoras, 78% buscaram soluções para aumentar suas vendas. A resposta número um apontada por 50% das empresas foi cortar custos e elevar a produtividade, tanto para se defender internamente quanto para concorrer no exterior. Para competir no mercado nacional, 35% escolheram o investimento em qualidade e desenho e 34% apostaram na redução de preços e de margens. Outras soluções, como diferenciação de marca e lançamento de novos produtos, também foram consideradas. Para batalhar no exterior, a busca de novos mercados foi a segunda estratégia mais valorizada: 45% dos entrevistados apontaram essa resposta. Várias soluções mercadológicas também foram adotadas, como investimento na qualidade e na diferenciação de marca, e o conjunto de ações variou de acordo com os setores e com o tamanho das empresas.

As empresas, portanto, não estão paradas, e muito menos passivas diante das novas condições de competição ditadas em grande parte pela valorização do real. Mas sua possibilidade de reagir é limitada. Podem comprar novas máquinas, mais modernas e mais eficientes, e mudar seus padrões de produção, mas não basta elevar a produtividade no interior da fábrica, quando fatores fora de seu alcance afetam as condições de concorrência. Também não basta economizar em todos os componentes de sua atividade e eliminar até a última gordura, quando custos externos, como impostos e contribuições em excesso, elevam os custos finais.

O relatório da CNI não examina esses pontos. Apenas dá uma idéia geral de como o câmbio valorizado prejudica as empresas, dificultando sua atuação nos mercados interno e externo, e aponta as estratégias de sobrevivência e de competição adotadas por indústrias de vários segmentos e diferentes tamanhos.

Mas o câmbio é apenas parte do problema e nem seria um fator tão importante, se as empresas não fossem afetadas pelo excesso de custos de um ambiente institucional desfavorável à eficiência do sistema produtivo. Em quase tudo as indústrias brasileiras têm de enfrentar problemas de pouco peso para os mais importantes competidores estrangeiros.

Seus impostos e contribuições são geralmente mais altos. A burocracia estatal é quase sempre mais pesada. Qualquer processo judicial é demorado e a incerteza jurídica é elevada. A insegurança pública impõe despesas absurdas. O precário sistema educacional limita a oferta de mão-de-obra mesmo com qualificações limitadas. A infra-estrutura é pobre e ineficiente - e a melhora, se ocorrer, será lenta, a julgar pelo ritmo dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Tudo isso combina com o custo crescente da eletricidade, uma conseqüência dos tropeços na formulação e na execução dos planos do setor energético.

Sem alterações significativas nessa paisagem, o poder de competição das empresas continuará a depender perigosamente do câmbio. Mas o dólar dificilmente voltará a subir de forma significativa enquanto os juros permanecerem elevados. E os juros não cairão enquanto o combate à inflação depender somente da política monetária, sem uma contenção efetiva do gasto público.

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