Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, agosto 27, 2008

Celso Ming - Até onde vai este rali




O Estado de S. Paulo
27/8/2008

A trajetória das commodities é muito mais do que diz um punhado de linhas aprisionadas nos gráficos. Aponta para onde vai o setor produtivo mundial, é uma boa indicação do rumo da inflação e, para a economia do Brasil, importante fornecedor global de matérias-primas e de alimentos, é indicadora do rumo da economia.

O gráfico ao lado mostra o caminho nervoso das cotações em busca de reequilíbrio. Já ficou claro que a disparada anterior dos preços não constituiu uma bolha na medida em que, mais do que a atuação dos especuladores, refletiu forte demanda da economia real, especialmente a asiática.

Para avaliar o que vem pela frente é preciso considerar duas vertentes. A primeira é o que se passa no setor produtivo global. Há semanas, repetia-se que a derrubada dos preços iniciada em julho refletia a recessão global em marcha. Não está claro esse movimento de retração da produção mundial. O que há, com certeza, é a desaceleração da atividade econômica nos Estados Unidos e no Japão e uma pequena queda na Europa. Mas todas as projeções são de que haverá neste ano crescimento econômico nos países desenvolvidos (OCDE, na sigla em inglês) acima de 1,5%.

O diferencial acontece nas economias em desenvolvimento. Elas pesam cada vez mais na demanda por matérias-primas, energia e alimentos. Como há uma semana lembrava o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, em 2007 elas responderam por 44% do PIB global e contribuíram com 70% para o crescimento da economia. Ao contrário do que ocorre nos países ricos, os países em desenvolvimento continuam em forte expansão. Sentem, sim, o impacto da desaceleração das economias de ponta, mas mantêm excelente desempenho neste ano, como pode ser aferido na tabela do Confira.

O que ficou acima parece suficiente para apontar para um aumento significativo da demanda de commodities nos próximos meses. Mas só com esses elementos não dá para afirmar que os preços tendam agora para a alta porque há o comportamento do dólar, principal medida global de valor, na qual é cotada a maioria das commodities - e aí chegamos à segunda vertente.

Se as cotações do dólar tendessem a aumentar em relação às moedas fortes, seria de se esperar uma retração correspondente nos preços das commodities, dentro do pressuposto de que, com a moeda americana em alta, seriam precisos menos dólares para comprar a mesma quantidade de matéria-prima.

Uma das principais condicionantes da cotação do dólar é a política monetária (política de juros) do banco central americano (Federal Reserve, Fed). Enquanto os juros se mantiverem no nível dos 2% ao ano, ou, até mesmo, enquanto se mantiverem negativos em termos reais (a inflação americana aponta para 5,6%), será improvável a recuperação consistente das suas cotações no câmbio internacional.

A conclusão provisória (porque não cabem projeções definitivas nesse mundo em contorção) é a de que os preços das commodities já não têm fortes razões técnicas para continuarem caindo.

Daí por que pode ser exagerada a expectativa de que a queda dos preços das commodities contribuirá para a queda da inflação brasileira.


Confira

Melhor no filme - Aí está o desempenho de algumas potências de economia avançada e o dos Brics, os quatro países emergentes de maior destaque. Há desaceleração, mas não há expectativa de recessão global.

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