Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 30, 2008

Memória Olavo Setubal

O fundador do Itaú

Morre Olavo Setubal, um dos empresários
que ajudaram a moldar a face mais moderna
e mais eficiente da economia nacional


Marcio Aith

Bia Parreiras
Banqueiro e homem público
Até o fim da vida, Olavo Setubal tentou convencer os políticos brasileiros a adotar suas práticas bem-sucedidas no mundo dos negócios


"As escalas no mundo empresarial mudaram. Essa mentalidade de quitandeiro não leva em conta que uma empresa pode ser gigantesca para o mercado brasileiro, mas insignificante comparada a uma multinacional. Aí, o sujeito acaba engolido." Poucas idéias retratam tão bem a trajetória e a clarividência do empresário Olavo Egydio Setubal quanto essa, registrada em entrevista a VEJA em 2000. Presidente do conselho de administração do Banco Itaú e da Itaúsa, a holding que reúne os negócios do grupo, o engenheiro Olavo Setubal morreu na última quarta-feira, em São Paulo, de insuficiência cardíaca. Ele tinha 85 anos de idade, cinqüenta dos quais dedicados a formar um dos maiores e mais eficientes conglomerados financeiros da América Latina. Por suas mãos, o Banco Itaú, locomotiva do grupo, alcançou o 2º lugar no ranking de instituições financeiras privadas brasileiras, atrás apenas do Bradesco. Atingiu um valor de mercado de 97 bilhões de reais, superando gigantes como Morgan Stanley e Merrill Lynch.

A trajetória empresarial de Setubal começou em 1947. Com 10.000 dólares emprestados, ele e um colega de faculdade fundaram em um barracão a Deca, então uma fábrica de fechaduras com seis empregados. Em 1959, Setubal foi convidado por Alfredo Egydio de Souza Aranha, seu tio e mentor desde a morte precoce do pai, para dirigir o Banco Federal de Crédito, uma pequena instituição financeira. Logo concluiu que precisava crescer para não ser engolido. Em 1964, adquiriu um inexpressivo banco mineiro de nome Itaú. O nome, sonoro e atraente, foi adotado para representar o grupo todo. Diversas fusões se seguiram. Em 1975, com a incorporação do Banco União Comercial, do ex-ministro Roberto Campos, o Itaú dobrou de tamanho e se converteu na segunda maior instituição privada nacional. Setubal inovou ao recrutar engenheiros para o mercado financeiro e exigir que seus gerentes tivessem, ao menos, o ensino secundário. Nos anos da inflação, Setubal reforçou as estruturas administrativa, contábil e de custo do banco, enquanto a maioria de seus concorrentes extraía ainda mais lucros da espiral inflacionária.

O banqueiro tentou transpor essa eficiência para a gestão pública quando se tornou prefeito nomeado de São Paulo, em 1975. Realizou uma elogiada reforma administrativa e ações urbanísticas precisas e baratas. Revitalizou o centro e modernizou o transporte. "São Paulo é uma Suíça cercada de Biafras. O desafio é transformar as Biafras em Suíças", dizia. Ao deixar o cargo, em 1979, Setubal teve frustrado seu plano de ser governador de São Paulo. Seu nome foi vetado pela ditadura, que temia o fortalecimento de um político com tamanho poder econômico. Desiludido, só voltou ao cenário político com a redemocratização. Em 1985, o presidente Tancredo Neves o nomeou ministro das Relações Exteriores. Foi seu último cargo público, mas não o fim de sua participação política. Até o fim da vida, ocupou-se na pregação de que, para não ser engolido, o Brasil precisa de estruturas tão sólidas quanto as que ele construiu no mundo dos negócios.

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