O Nevoeiro leva um enredo típico a um final implacável
Isabela Boscov
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Um golpe para os saudosistas: O Nevoeiro (The Mist, Estados Unidos, 2007), baseado em um conto de Stephen King que já inspirara John Carpenter emA Bruma Assassina, de 1980, é em tudo superior ao original. Aliás, aos originais – ao texto de King e à versão anterior. Mérito total e inalienável do diretor Frank Darabont, que se mostra tão afiado quanto em Um Sonho de Liberdade, um desses filmes que nunca envelhecem e que era seu melhor trabalho até aqui. No enredo, um estranho nevoeiro, quase leitoso de tão denso, invade uma pequena cidade do interior. Dentro dele há algo capaz de mutilar e matar. Algumas pessoas conseguem se refugiar no supermercado local. Elas incluem uma fanática religiosa (Marcia Gay Harden, craque em retratar mulheres descontroladas), um funcionário conciliador (Toby Jones), um valentão (William Sadler) e, claro, um personagem que vai despontar como o líder natural desse grupo heterogêneo (Thomas Jane). Imediatamente, desenham-se desafios práticos, como cuidar dos feridos e reforçar as defesas, e outros intangíveis: como manter a calma e o sentido de colaboração, para que não se recaia em desgoverno e hostilidade.
De todos os gêneros clássicos, o terror sempre se mostrou o mais apto a destrinchar situações sociais e políticas extremas – porque, sendo barato e feito para consumo imediato, vive da oportunidade. E também, claro, porque o medo é uma das emoções humanas que quase só existem em estado bruto, trazendo à tona o pior e, às vezes, o melhor de cada um. O que torna O Nevoeiro tão bom é a clareza com que Darabont enxerga essas características. De um lado, ele não tenta elevar as pretensões de seu filme: esta é uma produção B, com orgulho. De outro, ele desdobra seu entrecho de forma rigorosamente lógica e, como se verá ao final, implacável. O protagonista obtém uma pequena vitória entre muitas derrotas; mas isso o conduz a uma decisão terrível que ele, sim, tomará. De todas as maneiras pelas quais um filme é capaz de estarrecer a platéia, Darabont tem a ousadia de escolher a mais intransigente. O desespero, aqui, nunca termina – e, por causa disso, também o filme deve ter vida longa entre os aficionados do cinema modestamente bem-feito e irredutivelmente inteligente.
Trailer do filme |