Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 16, 2008

Correr faz bem depois dos 50 anos

Corrida contra o tempo

A medicina derruba a noção de que se deve diminuir o ritmo
dos exercícios depois dos 50 anos. Correr com intensidade
é parte da receita para uma velhice com qualidade de vida


Paula Neiva

Paulo Pereira
Tudo melhorou
O engenheiro Sergio Bertocco, de 50 anos: "Com a corrida, fiz mais amigos e passei a ter um sono reparador"
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O aumento da longevidade é um fenômeno mundial que impõe uma série de desafios, como melhorar a qualidade de vida durante a velhice. Um grupo de médicos da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, acaba de dar uma colaboração nesse sentido. Na semana passada, eles divulgaram uma pesquisa elaborada ao longo de duas décadas que aponta a corrida como um ótimo aliado para retardar as conseqüências nefastas do envelhecimento. Os pesquisadores investigaram ainda se os riscos de lesões musculares e nas articulações, comuns entre corredores, representam uma ameaça aos benefícios que o exercício pode oferecer a quem tem idade avançada. A probabilidade de lesões no grupo de corredores, mostra a pesquisa, é compatível com a de pessoas que não correm. "Um dos maiores entraves à prática de corrida por pessoas mais velhas é a crença equivocada de que esse exercício é desgastante demais para o organismo de quem já passou da faixa dos 50 anos", disse a VEJA o médico americano James Fries, especializado em doenças reumáticas e envelhecimento, um dos autores do estudo. De acordo com a pesquisa, pessoas acima de 50 anos que praticam corrida regularmente vivem mais e desfrutam uma qualidade de vida melhor na velhice (veja o quadro). Segundo os pesquisadores, tais benefícios valem também para outros exercícios aeróbicos vigorosos, como pedalar e caminhar em ritmo acelerado, principalmente quando se provoca o suor e o coração trabalha perto de 85% de sua freqüência cardíaca máxima.

Para chegar a tais conclusões, os pesquisadores americanos acompanharam 961 pessoas que tinham entre 50 e 72 anos de idade no início do estudo, em 1984. Os participantes foram divididos em dois grupos. Um deles era formado por pessoas que corriam, em média, quatro horas por semana – tempo que encolheu para 76 minutos semanais no final da pesquisa. O outro grupo era composto de sedentários ou praticantes de atividades físicas leves ou moderadas. Ao longo das duas décadas seguintes, com o aumento da idade dos participantes, ambos os grupos registraram um acréscimo nos índices de fragilidade física para o desempenho de tarefas cotidianas. Entre aqueles que praticavam corrida, a incapacitação apareceu, em média, dezesseis anos mais tarde. As taxas de mortalidade relacionadas a algumas das principais causas de óbito entre idosos, como distúrbios cardiovasculares e neurológicos, câncer e infecções, também foram maiores entre os não-corredores.

Lailson Santos

Amor com malhação
O dentista Benedicto Bassit, de 71 anos, que corre há quinze: casamento condicionado à adesão da noiva aos exercícios


A questão que aflige muitos corredores tardios é a quantidade de exercícios para não incorrer em exageros. Responde o médico James Fries, de Stanford: "Se a pessoa não tiver dores, não existe um limite máximo. A maioria dos benefícios é obtida com três horas semanais de corrida, distribuídas em meia hora diária, seis dias por semana". Correr melhora a capacidade cardiorrespiratória. Além disso, o impacto dos pés contra o solo ajuda a fixar o cálcio nos ossos e, dessa forma, é um bom auxiliar na prevenção da osteo-porose. A doença, que deixa os ossos fracos e quebradiços, atinge 200 milhões de pessoas no mundo, 10 milhões delas no Brasil. Recomenda-se associar corrida a exercícios de força e alongamento, para fortalecer a musculatura e diminuir os riscos de lesão. "Depois de ter um estiramento muscular enquanto corria, aprendi a não deixar de fazer o aquecimento e a musculação", diz o dentista paulista Benedicto Bassit, 71 anos, que pratica corrida regularmente há quinze. Bassit diz que a corrida é uma parte indispensável de sua rotina. "Casei há um ano e minha mulher, apesar de ser mais nova que eu, não corria. Eu disse que só casaria se ela também começasse a correr. Funcionou", conta.

A corrida se popularizou muito no Brasil na última década. A Corpore, o maior clube de corredores de São Paulo, registrou aumento de 311% no número de cadastros nos últimos cinco anos. A modalidade conquista adeptos, principalmente, porque proporciona resultados rápidos. "Começar a correr desencadeou uma série de mudanças nos meus hábitos de vida. Fiz novos amigos, passei a me alimentar melhor e ter um sono reparador", diz o engenheiro paulista Sergio Bertocco, de 50 anos, que corre entre uma e duas horas cinco vezes por semana. Ficou para trás o tempo em que pessoas na idade de Bertocco recebiam orientação médica para moderar nos exercícios daí para a frente.



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