O mercado virtual de boas idéias
Em sites especializados, cientistas e inovadores de
todo o mundo são pagos para encontrar soluções para
os problemas apresentados por empresas
Thomaz Favaro
Paul Sakuma/AP | |
Prêmio de 1 milhão de dólares Quem oferece Desafio |
No século XVIII, o Parlamento inglês ofereceu uma pequena fortuna a quem inventasse uma forma que permitisse aos marinheiros calcular a longitude em alto-mar. Sir Isaac Newton tentou, mas não conseguiu. Quem levou o prêmio foi John Harrison, um desconhecido relojoeiro do interior da Inglaterra. Ele criou o primeiro cronômetro marítimo, instrumento que revolucionou a navegação. Hoje, uma dezena de sites na internet usa o mesmo princípio em benefício da inovação no mundo dos negócios. Na maioria desses sites, as empresas descrevem anonimamente um problema que não conseguem resolver e recebem propostas de solução de cientistas, técnicos e outros interessados, muitos sem nenhuma formação acadêmica. No InnoCentive, o maior site desse tipo de intercâmbio tecnológico, científico e logístico, a solução aceita recebe um prêmio que tem variado entre 1 000 e 1 milhão de dólares. O pagamento é feito depois que o solucionador transfere os direitos de propriedade sobre a invenção para a empresa.
Justin Sullivan/Getty Images | |
Prêmio de 500 mil dólares Quem oferece Desafio |
O InnoCentive é utilizado por cinqüenta das 500 maiores companhias dos Estados Unidos. A cada dia, um novo problema é colocado no site e 40% deles encontram uma solução viável no período de seis meses. Em média, o tempo gasto na elaboração de uma proposta de solução é de 74 horas. Segundo um estudo da Universidade Harvard, que analisou as inovações feitas por intermédio do InnoCentive, quanto mais longe o problema está da área de especialização de um cientista, maiores são as chances de ele encontrar uma solução original. Isso acontece pela facilidade com que os especialistas adaptam às novas exigências as idéias já testadas e aprovadas em seu setor específico de atividade. Foi graças às sugestões de um químico americano da indústria de cimento que se achou uma maneira de impedir que o petróleo se congelasse em reservatórios no frio do Alasca. A solução: da mesma forma que é feito com o cimento, o petróleo é mantido em tanques em contínua rotação.
Mais de 3 milhões de dólares já foram pagos através do InnoCentive. Os principais solucionadores de problemas do site são os russos, os indianos e os chineses. O gaúcho Ulisses Giorgi, de 34 anos, gerente de informática de uma fábrica de computadores em Porto Alegre, foi um dos premiados. Mestre em ciências da computação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ele ganhou 1 000 dólares. "Ajudei o próprio InnoCentive a melhorar a cooperação entre os cientistas no site", diz Giorgi. Há 1 300 brasileiros cadastrados no site, que também é usado por companhias nacionais anônimas para resolver alguns de seus problemas.
Nabor Goulart | |
CONSELHOS VALIOSOS O gaúcho Ulisses Giorgi recebeu 1 000 dólares do InnoCentive: sugestões para melhorar o site |
Há outras maneiras de fazer a ponte entre empresas e inovadores na internet. O site americano NineSigma, criado em 2000, coloca companhias em busca de soluções específicas em contato com outras que já resolveram problemas similares. Uma marca americana de sabão em pó conseguiu melhorar seu sistema de embalagens seguindo a experiência de uma pequena fábrica de pesticidas do interior da Inglaterra. Já o YourEncore tem um banco de dados com 4 000 cientistas aposentados para trabalhos de consultoria. Há também empresas que divulgam seus problemas em seus próprios sites. A Netflix, uma locadora virtual de filmes dos Estados Unidos, oferece 1 milhão de dólares a quem melhorar em 10% o programa de computador que prevê se um cliente vai gostar de um filme.
Investir em inovação é um processo caro, que exige a contratação de pessoal qualificado e tem retorno incerto. Os sites reduzem esses custos porque levam centenas de inovadores a se dedicar a um mesmo problema – mas apenas o vencedor recebe pagamento. No InnoCentive, cada desafio é analisado, em média, por 240 interessados e recebe dez soluções. A eficácia dessas propostas é inversamente proporcional à complexidade do problema apresentado. "Soluções criativas podem ajudar a resolver problemas pontuais, mas não substituem os investimentos em departamentos de pesquisa e desenvolvimento, fundamentais para a criação de novos produtos", diz João Alberto de Negri, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Uma medida do retorno financeiro da inovação: as empresas que investem em pesquisa no Brasil têm produtividade sete vezes maior que a média e conseguem preços 30% mais altos para seus produtos.