Quem dá mais por Rothschild?
O barão de Goldschmidt-Rothschild, ex-marido
de Márcia Goldschmidt, vai vender, em São Paulo,
móveis, documentos e até título de barão da
família de banqueiros judeus
Victor De Martino
Lailson Santos | ||
Tudo isso será leiloado | ||
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O barão suíço Cyril Rudolf Maximilian von Goldschmidt-Rothschild passa despercebido em São Paulo, onde mora há dezoito anos. Recluso, não aparece em colunas sociais e permanece desconhecido da maior parte da elite empresarial do país. Embora seja quase um desconhecido no Brasil, ele pertence à família que, no século XVIII, montou na Alemanha o Banco Rothschild, uma instituição que ajudou a mol-dar o sistema financeiro moderno. Um dos motivos pelos quais o barão Cyril escolheu o Bra-sil foi justamente o anonimato. Aos 57 anos, ele desenvolveu uma ambígua e estranha relação com seus antepassados. Orgulha-se do nome, do título e ostenta em um dos mindinhos um anel de ouro com a insígnia da família. Anda rodeado de seguranças e enverga um paletó com o brasão de nobreza bordado no bolso. Ao mesmo tempo, parece se incomodar com o peso da tradição de sua família. Cyril pertence à sétima geração dos Rothschild e é o primeiro em sua linhagem a não exercer a profissão de banqueiro. "Minha família só pensa em ga-nhar mais", relata, entediado. Sente-se confortável no Brasil por não precisar lidar o tempo todo com o peso do seu nome. "Na Europa, todo mundo sabe quem eu sou quando me apresento. Às vezes digo meu nome nos Estados Unidos e alguém responde: ‘E eu sou o Rockefeller’", reclama.
Esse nobre esquivo e misterioso resolveu vender no Brasil uma parte do legado de sua família. Ela será leiloada em São Paulo nas próximas quarta e quinta-feira. Na relação de bens que o barão colocou à venda há documentos e objetos raríssimos. Um deles é o contrato pelo qual Mayer Amschel Bauer, o fundador da dinastia Rothschild, recebe três de seus filhos como sócios do Banco Rothschild, em 1810. Há apenas quatro cópias desse texto. Uma está no Museu Rothschild, em Londres, e foi danificada por um incêndio em 1938. As outras duas estão com outros herdeiros. Também impressionam um título e o correspondente selo de baronato dos Gold-schmidt-Rothschild. A maioria das pes-soas daria um valor inestimável a essas peças. Cyril garante que não lhes dá importância. Diz ter posto à venda os documentos, objetos, móveis e tapeçarias seculares dos Goldschmidt-Rothschild porque eles atravancam sua casa. Indagado sobre uma eventual dificuldade financeira, o barão responde simplesmente que não fala sobre dinheiro. Noblesse oblige, como se sabe.
Os Rothschild chegaram à aristocracia no século XIX. Antes, porém, amea-lharam uma das maiores fortunas de seu tempo. O patriarca da família, Mayer Amschel Bauer, ganhou rios de dinheiro financiando a nobreza germânica. Fundou um banco em Frankfurt e mudou seu sobrenome para Rothschild. Por sua orientação, seus filhos abriram casas homônimas em Paris, Londres, Viena e Nápoles (para além das finanças, os ramos francês e inglês deram outra contribuição importante à civilização: o primeiro passou a produzir o Château Lafite Rothschild, e o segundo, o Château Mouton Rothschild – dois dos melhores vinhos do mundo). Todos os rebentos do banqueiro Mayer se tornaram nobres. Cyril descende de Karl, fundador da casa italiana, e dos Goldschmidt, outra família de banqueiros judeus. Em 1907, Guilherme II, o último kaiser da Alemanha, deu ao bisavô de Cyril os papéis e o molde do título de barão de Goldschmidt-Rothschild, que também serão vendidos nesta semana.
Mesmo sem eles, Cyril continuará barão, já que o título é um atributo da família, e não do papelório que veio parar no Brasil por um desses golpes do destino que só o coração explica. Em 1990, o barão tinha uma agência de matrimônios em Paris quando deparou com seu passaporte para os trópicos: a paulistana Márcia Marcelino. Casou-se com ela e mudou-se para São Paulo, disposto a bancar um programa de televisão para a amada. O programa foi ao ar – com a apresentadora já devidamente rebatizada de Márcia Goldschmidt –, mas não era exatamente o que o barão esperava. Cyril queria divulgar o amor, enquanto Márcia instava os casais a lavar roupa suja no ar. Ele soube que Silvio Santos procurava uma apresentadora para o SBT. Convenceu a mulher a se candidatar. Separaram-se em seguida, mas ele ficou no Brasil. "Aqui as mulheres são gentis, querem cozinhar, casar e ter filhos", explica. Em 2005, casou-se com a jornalista Carla Pisaroglo, que conheceu pela internet. Grávida da primeira filha do barão, Carla edita outra empreitada de Cyril, uma revista de distribuição gratuita sobre – adivinhe – relacionamentos amorosos. O investimento, de retorno financeiro improvável, revela mais uma vez um Rothschild mais preocupado com o coração do que com o dinheiro.