Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, maio 21, 2008

Villas-Bôas Corrêa De novo, só o discurso




Jornal do Brasil
21/5/2008

São tais os rapapés, elogios, abraços, beijos na ex-ministra do Meio Ambiente, a acreana Marina Silva e tão efusiva a conversa do presidente Lula com o novo ministro Carlos Minc na oficialização do convite, com a ministra Dilma Rousseff de sentinela e pose para a foto, que ficou reduzida à impressão de uma intriga palaciana a crise na desprestigiada área ecológica pela turma que só pensa na eleição. Na municipal de 5 de outubro, para prefeitos e vereadores e seus reflexos na sucessão presidencial de 2010.

Para quem gosta de fofoca, a presença da ministra Marina, com os seus atritos com a ministra-candidata Dilma Rousseff, foi considerada uma ameaça ao ostensivo esquema lulista para a eleição da sua sucessora.

Na escolha do substituto da ministra demissionária, Lula não pensou duas vezes e foi pescar o novo ministro Carlos Minc nas águas fluminenses do governador Sérgio Cabral.

Se o ministro Carlos Minc não cultivasse a publicidade – com a mesma intensidade de Lula e com inegável competência e esperteza – antecipando o anúncio das metas básicas do seu programa ministerial, a troca não mereceria as manchetes e páginas na mídia e generosos minutos na TV. Seria mais uma troca de ministro da ciranda dos 37 bailarinos do maior ministério de todos os tempos.

A outra singularidade é como o filhote de uma extravagância: o ministro na lua do Núcleo de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, foi indicado pelo presidente para coordenar o Programa da Amazônia Sustentável (PAS). O ministro Carlos Minc engoliu a pílula que arranhou a garganta com a mesma perplexidade com que receberia a indicação do ministro da Pesca para coordenar o combate à epidemia de dengue.

No intervalo entre o palavrório da véspera da posse e a arrancada quando sentar na poltrona do modesto gabinete de um ministério considerado do segundo time pelos poderosos da corte de Brasília, o ministro Carlos Minc agiu com habilidade e a ousadia do risco de um curto-circuito ao antecipar as linhas mestras de seu plano de ação. E colheu os resultados com a aprovação de quase tudo no encontro oficial com o presidente.

No atual governo, como em quase todos, da conversa fiada às atividades da obesa engrenagem administrativa, os prazos espicham de dias para meses e de meses para anos. Com um pé atrás e olho vivo, vamos acompanhar o que vale a garantia de Lula ao novo ministro de que não serão revistas as medidas contra o criminoso desmatamento da Amazônia, que só no atual governo, devastou uma área equivalente ao território de Pernambuco.

A resolução do Banco Central, que proíbe a concessão de créditos agrícolas a produtores que não tenham licença ambiental – e que tanto incomoda o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, grande produtor de soja e devoto das motosserras – é uma armadilha na trilha do novo ministro.

Uma proposta que não vingou, mas deu filhote, foi a de convocar as Forças Armadas para atuar na defesa das unidades de preservação ambiental. O presidente e o ministro recuaram diante das ponderações dos chefes militares de que não dispõem de recursos e de tropa para assumir nova e onerosa responsabilidade.

No que estão cobertos de razão. A criação do Ministério da Defesa reduziu a influência política dos militares. Dos três ministros – do Exército, da Marinha e da Aeronáutica – resultou o Ministro da Defesa, sempre civil e com imperceptível presença na área federal.

O ministro Carlos Minc não saiu com as mãos vazias: Lula concordou com a criação de uma guarda nacional ambiental, nos moldes da Força Nacional de Segurança Pública.

O novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, para marcar o seu estilo, soltou à porta do Palácio do Planalto, o brado retumbante: Tremei, poluidores.

Vamos esperar e conferir.

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